A Inerrância das Escrituras


A bíblia contém erros? Sejam erros históricos, geográficos ou outros erros quaisquer. Vamos começar definindo o que significa inerrância das Escrituras.


O significado de inerrância das Escrituras


Todas as palavras da Bíblia são palavras de Deus, portanto, não crer em alguma palavra das Escrituras ou não obedecer a ela, é não crer ou não obedecer ao próprio Deus. Ademais, todas as palavras da Bíblia são completamente verdadeiras e livres de erros em qualquer uma de suas passagens. A Bíblia sempre diz a verdade, e sempre diz a verdade a respeito de todas as coisas que ela trata. Porém, devemos destacar que a Bíblia não procura ser exaustiva em todos os assuntos que trata. Alguns assuntos ela aprofunda-se, em  outros não. 


Para melhorar nossa compreensão da inerrância das Escrituras, vamos analisar algumas declarações:


  1. A bíblia pode ser inerrante apesar de usar linguagem comum. Isso diz respeito especialmente as descrições científicas ou históricas de fatos. A bíblia pode dizer que o sol nasce e a chuva cai porque do ponto de vista do autor, é isso que aconteceu. 


O mesmo decorre com números de medidas ou contagens. Uma passagem pode dizer que 8000 homens foram mortos em uma batalha, sem que com isso se conclua, que o indivíduo tenha contado os mortos um a um. Se digo que "moro perto da igreja” ou “moro a um quilômetro e meio da igreja” ou “moro a 1356 metros da igreja”, todas as afirmações são verdadeiras, porém, uma é mais precisa do que a outra.


Em outras palavras, é possível fazer afirmações vagas ou imprecisas sem ser, necessariamente, incorreto. De modo parecido, a Bíblia pode ser imprecisa e, ainda assim, verdadeira. Portanto, a inerrância relaciona-se com a fidelidade, não com o grau de precisão com que os fatos são relatados. 


  1. A bíblia pode ser inerrante mesmo com citações vagas ou livres. Na regra padrão atual, quando fazemos uma citação direta colocamos entre aspas, e ao fazer uma citação indireta, quando buscamos atingir a essência da declaração do autor, não usamos aspas. O grego escrito na época do N.T. não possuía aspas ou sinais equivalentes de pontuação, e uma citação exata de outra pessoa precisava incluir apenas uma representação correta do conteúdo. 


Desse modo, a inerrância é coerente com citações vagas ou livres do A.T. ou das palavras de Jesus. Vamos analisar o texto a seguir: 


Marcos 1.2 conforme está escrito no profeta Isaías: “Vejam, enviarei o meu mensageiro à sua frente; ele preparará o seu caminho”. 3“Voz do que clama no deserto: ‘Preparem o caminho para o Senhor; endireitem as veredas para ele’ ”.


O evangelista Marcos cita o profeta Isaías, e realmente, encontramos a primeira parte do texto em Isaías 40.3; porém a segunda parte, está em Malaquias 3.1. Marcos não estava interessado em ser preciso, mas em mostrar a precisão e a fidelidade de Deus no cumprimento das profecias.  


Em resumo, o importante é que o conteúdo mencionado pelos escritores bíblicos eram verdadeiros e fiéis ao original, e que Deus cumpre plenamente as suas promessas. 


  1. A bíblia pode ser inerrante mesmo com construções gramaticais incomuns. Algumas linguagens da Bíblia são elegantes e refinadas em seu estilo, outras contém linguagem natural, popular e sem respeitar as regras gramaticais. Todavia, não devemos nos incomodar com isso, pois não afeta a integridade do texto. Uma declaração pode ser gramaticalmente incorreta e, ainda assim, inteiramente verdadeira. 


Alguns desafios para a inerrância


Vamos analisar as principais objeções ao conceito de inerrância:


  • A bíblia é a única autoridade somente em questão de fé e prática. Os defensores desta ideia, dizem que a bíblia é inerrante somente em assuntos de fé e prática. Em outros assuntos como história ou ciências ela pode ser falsa ou inverídica. 


Como resposta, podemos dizer que: 


A Bíblia afirma repetidas vezes, que toda Escritura nos é proveitosa. 


2 Timóteo 3.16 Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça, 17a fim de que o homem de Deus seja apto e plenamente preparado para toda boa obra.


Os autores do N.T. citaram e confirmaram a veracidade de cada detalhe do A.T., mesmo os mais complicados, como criação, dilúvio, abertura do mar vermelho, entre outros. Eles confiavam na veracidade de qualquer parte do A.T.. Wayne Grudem afirmou: “Nenhum detalhe era considerado tão insignificante, que não pudesse ser empregado para instruir os cristãos neotestamentários”. 


Acrescido a isso, está o fato de que não podemos confundir o propósito total das Escrituras, com o propósito principal. Dizer que o propósito principal das Escrituras, está relacionada apenas a fé e prática, é útil como resumo, mas o resumo não é suficiente para definir completamente a obra. O melhor é dizer que o propósito total das Escrituras é dizer tudo o que ela diz acerca de qualquer assunto. Tudo que está declarado nas Escrituras, está ali porque é a vontade de Deus e serve de instrução para os crentes. 


  • O termo inerrância é um exagero. Os críticos afirmam que o uso desta palavra denota um tipo de precisão científica absoluta que não devemos atribuir às Escrituras. De mais a mais, afirmam que a Bíblia não usa o termo para referir-se a si mesma. 


Contudo, o uso do termo, não exclui as limitações, principalmente nos discursos em linguagem comum, popular ou mesmo imprecisa.


O termo inerrância é tão útil como o termo Trindade ou encarnação, portanto, não existe qualquer problema na sua utilização.


  • Não possuímos manuscritos inerrantes. Os que levantam essa objeção destacam o fato de que a inerrância sempre foi atribuída aos primeiros exemplares ou aos exemplares originais dos documentos bíblicos. 


Em resposta a essa objeção, pode-se declarar que sabemos o que o manuscrito original dizia, em mais de 99% das palavras da Bíblia. Ou seja, as cópias que temos a nossa disposição atualmente, são exatas e precisas em relação aos manuscritos. Assim, os manuscritos de hoje são, para quase todos os fins, iguais aos manuscritos originais, e, portanto, a doutrina de inerrância também diz respeito diretamente às cópias atuais.  


  • A inerrância superestima o aspecto divino das Escrituras e negligência o aspecto humano. A contestação neste caso, diz que a Bíblia possui um aspecto humano e outro divino e que precisamos dar a devida atenção a ambos. No que se refere ao aspecto humano, devem incluir a presença de alguns erros nas Escrituras. 


Apesar de a Bíblia ser plenamente humana, o aspecto divino como supervisor e redator das Escrituras, faz com que as suas palavras sejam, também, as palavras do próprio Deus. Portanto, nisso consiste a distinção entre os outros escritos humanos e os escritos bíblicos.


  • Há erros evidentes na Bíblia. Essa objeção afirma que a Bíblia não é inerrante, porque contém erros. 


A primeira resposta que se deve dar é: onde estão os erros? Com frequência percebemos que quem faz essa objeção, não tem ideia de onde estão os supostos erros na Bíblia. Estão apenas repetindo inverdades. O que existe na verdade, são versículos de difícil interpretação, porém, uma leitura cuidadosa do texto traz à lume uma ou mais possíveis soluções. 


A doutrina da inerrância bíblica encontra apoio em uma vida de atenção detalhada ao texto das Escrituras, a fidelidade à exegese biblica e a hermenêutica correta. 


Problemas decorrentes da rejeição da inerrância


Os problemas advindos da negação da inerrância bíblica não são insignificantes. Dentre os mais sérios estão:


  1. O PROBLEMA MORAL.


Negar a inerrância, e ainda defender que as palavras da Bíblia são inspiradas, implica necessariamente que Deus disse inverdades em algumas declarações menos centrais das Escrituras. Sendo assim, se Deus falou inverdades em algum ponto irrelevante, por que eu não posso fazer o mesmo, já que devo imitá-lo? 


  1. O PROBLEMA DA CONFIANÇA.


Uma vez convencidos de que Deus nos falou inverdades em questões secundárias das Escrituras, vamos perceber que Deus é capaz de nos falar inverdades em outros pontos. Então, como poderemos confiar nele, aceitar a bíblia como sua Palavra ou obedecer plenamente as suas ordens no restante das Escrituras. 


  1. O PROBLEMA DO JUÍZO


Aplicamos nossa mente para julgar algumas partes da Bíblia e anunciamos que elas estão erradas e que contém inverdades. Na prática, estou dizendo que conheço a verdade com mais exatidão e precisão do que aquilo que Deus nos afirma em sua Palavra. Neste caso, minha mente torna-se um padrão mais elevado de juízo do que a Palavra de Deus.


A declaração de inerrância da Bíblia


A “Declaração de Chicago sobre a Inerrância da Bíblia”, elaborada e publicada em 1978, em seu artigo XII, definiu o que a maior parte dos evangélicos entende por inerrância:


Negamos que a infalibilidade e a inerrância da Bíblia estejam limitadas a assuntos espirituais, religiosos ou redentores, não alcançando afirmações de natureza histórica e científica. [...] afirmamos a propriedade do uso da inerrância como termo teológico referente à total veracidade das Escrituras. [...] negamos ainda mais que a inerrância seja contestada por fenômenos bíblicos, tais como uma falta de precisão técnica contemporânea, irregularidades de gramática ou de ortografia, descrições da natureza feitas com base em observação referências a falsidades, uso de hipérbole e números arredondados, disposição do material por assuntos, diferentes seleções de material em relatos paralelos ou uso de citações livres.










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