Discipulado: Como discipular?
Atos 2.41 Então os que aceitaram a palavra de Pedro foram batizados, havendo um acréscimo naquele dia de quase três mil pessoas.42E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações. 43Em cada alma havia temor; e muitos prodígios e sinais eram feitos por meio dos apóstolos. 44Todos os que criam estavam juntos e tinham tudo em comum. 45Vendiam as suas propriedades e bens, distribuindo entre todos, à medida que alguém tinha necessidade. 46Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração, 47louvando a Deus e contando com a simpatia de todo o povo. Enquanto isso, o Senhor lhes acrescentava, dia a dia, os que iam sendo salvos.
A última etapa do ensino a respeito do discipulado pretende abordar a questão de como fazer discípulos. O aspecto prático do discipulado. Nas palavras de Colin Marshall e Tony Payne: “Por qual método ou meio Deus está resgatando e reunindo seu povo para o reino de seu Filho?” É extremamente importante colocarmos Deus como o sujeito ativo da frase. Refletindo sobre meios e métodos, e especialmente sobre a parte que os esforços e atividades humanas desempenham no processo de fazer discípulos, devemos constantemente afirmar a primazia da vontade e ação de Deus.
FAZER DISCÍPULOS É OBRA DE DEUS POR MEIO DE SEU POVO
Fazer discípulos é uma ação de Deus, realizada quando a sua Palavra e seu Espírito operam por meio da atividade dos discípulos e nos corações daqueles a quem eles pregam. O ato de fazer discípulos engloba a obra de Deus no coração das pessoas por meio do Espírito Santo, conjuntamente com a atuação dos discípulos tanto coletivamente quanto individualmente.
A Bíblia mostra que é na igreja, onde os discípulos devem fazer outros discípulos, porém, talvez você ainda não esteja completamente convencido de que é na igreja e por meio da igreja que fazemos discípulos, talvez, você ainda questione a importância da igreja. Mas, a pergunta que eu faço é se isso é resultado de profundo estudo das Escrituras ou apenas da sua intuição ou entendimento?
O livro de Atos apresenta um padrão: Os discípulos de Jesus, liderados pelos apóstolos - incluindo o apóstolo Paulo, que se junta à fé cristã no capítulo 9 -, espalham-se de Jerusalém para a Judeia e Samaria e para o restante do mundo com as grandiosas notícias de Jesus Cristo, formando comunidades de discípulos, que denominamos de igrejas, que propagam a mesma mensagem. Quando chegamos às cartas do N. T., escritas às igrejas estabelecidas pela atuação dos apóstolos em Atos, encontramos uma continuação desses temas metodológicos: A proclamação e o ensino do evangelho de Deus a respeito de seu Filho Jesus continuamente nas igrejas. Dizendo da maneira mais breve possível, um discípulo é feito pela constante pregação e ensino da Palavra de Deus pelo povo de Deus em suas igrejas, capacitados pelo Espírito de Deus em oração.
BASE BÍBLICA
Atos 2.41 Então os que aceitaram a palavra de Pedro foram batizados, havendo um acréscimo naquele dia de quase três mil pessoas. 42E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações. 43Em cada alma havia temor; e muitos prodígios e sinais eram feitos por meio dos apóstolos. 44Todos os que criam estavam juntos e tinham tudo em comum. 45Vendiam as suas propriedades e bens, distribuindo entre todos, à medida que alguém tinha necessidade. 46Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração, 47louvando a Deus e contando com a simpatia de todo o povo. Enquanto isso, o Senhor lhes acrescentava, dia a dia, os que iam sendo salvos.
Este é o primeiro grande resumo das atividades da Igreja. Lucas, o autor do livro de Atos, descreve a igreja de Jerusalém como uma comunidade adoradora, discipuladora e evangelística. Segue um resumo do que encontramos nessa passagem:
1. O contexto.
Atos 2.41 Então os que aceitaram a palavra de Pedro foram batizados, havendo um acréscimo naquele dia de quase três mil pessoas.
Os discípulos de Jesus receberam as suas ordens de irem por toda a terra e fazer discípulos batizando e ensinando. Eles não demoram muito para começar a obedecer.
A menção do acréscimo de quase três mil pessoas sugere que existia um número inicial de pessoas e que essas pessoas pertenciam a igreja. Demonstrando a importância da igreja para os primeiros discípulos de Jesus.
2. As marcas distintivas dos primeiros crentes.
42E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações. 43Em cada alma havia temor; e muitos prodígios e sinais eram feitos por meio dos apóstolos. 44Todos os que criam estavam juntos e tinham tudo em comum. 45Vendiam as suas propriedades e bens, distribuindo entre todos, à medida que alguém tinha necessidade.
● Ensino da doutrina apostólica. 42E perseveravam na doutrina dos apóstolos...
Incluía o próprio ensino de Jesus, as histórias a seu respeito e os ensinos do A.T. (Pedro mencionou diversas passagens em sua pregação). Os apóstolos foram os guardiões desse material, transmitido originalmente de forma verbal e, com o tempo, na forma escrita de Evangelhos.
Igrejas saudáveis devem priorizar o ensino e a propagação da Palavra de Deus como centro de todos os seus esforços, mesmo ao custo de sua reputação ou segurança. Não podem negociar os princípios da Escritura para alcançar relevância.
● Comunhão. 42... e na comunhão, no partir do pão e nas orações.
A palavra comunhão vem do grego koinonia, que significa participação conjunta em um determinado propósito comum. No caso destes irmãos: (1) refeição comunitária seguida pela Ceia do Senhor (v. 46) e orações.
A comunhão da igreja envolve a intencionalidade de seus membros em compartilhar sua vida, tempo e recursos.
● Temor e sinais evidentes da presença de Deus. 43Em cada alma havia temor; e muitos prodígios e sinais eram feitos por meio dos apóstolos.
Sinais e prodígios confirmam o fato de que os apóstolos dão continuidade à obra de Jesus (1:1), cujos milagres evidenciam, nos Evangelhos, a chegada da salvação e o poder transformador do Reino de Deus.
Os discípulos de Cristo reunidos em suas comunidades podem cultivar uma ardorosa expectativa das manifestações sobrenaturais de Deus. Oramos por um grande avivamento espiritual em nosso mundo. Contudo, não podemos perder de vista que o relacionamento com Deus acontece pela fé em sua Palavra.
● Serviço sacrificial uns pelos outros. 44Todos os que criam estavam juntos e tinham tudo em comum. 45Vendiam as suas propriedades e bens, distribuindo entre todos, à medida que alguém tinha necessidade.
A igreja não vivia o socialismo ou comunismo, visto que as doações eram voluntárias e as pessoas ainda retinham bens pessoais, como casas e propriedades. Uma analogia melhor é que a igreja vê a si como uma família - e famílias saudáveis cuidam de seus membros.
Os crentes são chamados a repartir seus bens e propriedades por meio das ofertas e dos dízimos. Essas contribuições são colocadas na responsabilidade de presbíteros sob a vigilância da igreja para a justa cooperação de cada parte do corpo do Cristo. Um princípio presente na igreja e que desafia a cultura moderna é a de que o generoso abençoa o avarento.
● Reuniões diárias para: Adoração - 46Diariamente perseveravam unânimes no templo. Comunhão – partiam pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração. Discipulado – 47louvando a Deus. Evangelismo - e contando com a simpatia de todo o povo.
Destaca-se a importância da constância na participação das atividades da igreja como maneira de fortalecer a causa de Cristo e o crescimento espiritual de todos os membros da igreja.
3. O resultado da presença da igreja na cidade. Enquanto isso, o Senhor lhes acrescentava, dia a dia, os que iam sendo salvos.
Na medida em que os cristãos eram vistos e ouvidos pelo restante da população de Jerusalém, suas atividades forneciam um robusto e importante testemunho que naturalmente conduziam outras pessoas a fé cristã. Em outras palavras, a
estratégia evangelística da igreja consistia na simplicidade de ser igreja. Pertencer a comunidade local de crentes, a igreja. Fazendo tudo aquilo que o Senhor os chamou para praticar em comunidade revela o caráter e a natureza de Deus para os incrédulos perdidos.
Em resumo, ser e viver igreja é uma obra exclusiva de Deus, embora praticada por seus seguidores em obediência às suas ordens no poder do Espírito Santo. Tudo isso, vai produzir, organicamente, novos seguidores de Cristo.
COMO DISCIPULAR
A obra do discipulado é uma ação divina executada por seus discípulos. Essa execução acontece prioritariamente nas igrejas de maneira corporativa (o corpo de Cristo) como também individual (seus membros). Em cada uma delas o crente precisa intencionalmente no poder e autoridade de Cristo fazer alguma coisa.
1. Coletivamente - O corpo de Cristo.
Jonathan Leeman enumerou oito formas bíblicas pelas quais um crente pode submeter-se como membro de uma igreja e representante do “corpo de Cristo” (Leeman 2016, 103 a 111). São elas:
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● Publicamente. Os crentes devem submeter-se à igreja local de modo formal ou oficial. As pessoas precisam reconhecê-lo - por meio do batismo e através da celebração constante da Ceia do Senhor - como membro do corpo encarnado de Cristo.
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●Afetivamente. Um dos componentes importantes dos relacionamentos é o compartilhamento de sentimentos. A Bíblia convoca os crentes para que “Alegrem-se com os que se alegram; chorem com os que choram” (Rm 12.15). Desse modo, os crentes devem sujeitar suas emoções em favor de outros membros do “corpo de Cristo”.
Preferências e gostos pessoais são deixados de lado. Neste caso, a igreja sempre será diferente por acomodar indivíduos com anseios diferentes.
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● Profissionalmente. Os membros do corpo devem colocar seu trabalho a serviço da igreja local.
Isso significa usar sua vocação para servir melhor a comunidade ou rejeitar promoções ou mudanças de emprego que comprometam suas atividades na comunidade ou o cuidado com a família.
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● Eticamente. Os membros da igreja precisam olhar para os outros membros da comunidade em busca de instrução ética, conselho, responsabilidade, disciplina e prestação de contas em assuntos que envolvem decisões importantes para sua vida.
O cristão não pode conduzir sua vida por si mesmo. Ele é parte de um corpo. Por outro lado, a igreja local é onde podemos encontrar testemunhos vibrantes de pessoas que venceram seus próprios pecados e contribuem com outras pessoas por meio de nossas próprias vitórias.
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● Fisicamente. Reunir-se com os outros membros regularmente de acordo com cada igreja local.
Até mesmo quando forem mudar ou comprar uma nova residência, precisam fazer ponderações que o não cristão normalmente não faria, como: terei acesso facilitado para participar ativamente da igreja? Os outros membros da igreja terão facilidade em relacionar-se comigo? Leeman pondera: “os cristãos devem mudar-se para perto de outros membros de sua igreja? Não, a Bíblia não ordena isso, mas essa é uma maneira concreta de amar sua igreja”.
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● Financeiramente. Os cristãos devem contribuir financeiramente com suas igrejas locais por meio dos dízimos e ofertas. Mas também, interessando- se pelos seus compromissos e buscando socorrer os necessitados em seu meio.
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● Espiritualmente. Submeter-se espiritualmente com a igreja local significa que ela é o lugar onde devemos procurar prioritariamente para exercer nossos dons espirituais e trata-se do povo que devemos interceder com frequência em nossas orações.
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● Socialmente. A igreja deve ser um local onde amizades profundas são construídas. Parte considerável do que significa ser cristão envolve relacionamentos.
Muitas pessoas relatam dificuldade de encontrar amigos na igreja, isso tem a ver com a natureza do que representa amizades para elas. No ensino bíblico, aprendemos que devemos considerar os outros melhores do que nós mesmos e trabalhar para a sua edificação. Olhar para o interesse do outro e não para o nosso próprio é a maneira bíblica de construir amizades. Assim, podemos nos relacionar com pessoas diferentes de nós mesmos para o bem delas.
2. Individualmente – membros do corpo de Cristo.
De maneira muito prática, ofereço três passos muito simples para começar a discipular pessoas.
● Escolha. A primeira coisa que devemos decidir é em quem devemos focar nosso tempo e energia. Uma vez que, nosso tempo é limitado e não é possível discipular todo mundo que conhecemos. Como decidir em quem investir? Considere alguns fatores:
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a) Membros da família. Mark Dever afirma: “esses relacionamentos são suas incumbências de discipulado mais importante”.
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b) Condição espiritual. Discipulado é para cristãos. Não crentes devem ser evangelizados primeiro.
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c) Membros da sua igreja. Temos responsabilidades com os membros e frequentadores de nossa igreja em primeiro lugar.
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d) Disposição para aprender.
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● Proponha. Depois de escolher seu discípulo, proponha objetivos claros em relação ao relacionamento de discipulado e os motivos de estarem envolvidos nesse processo. Basicamente temos três plataformas que não podem ser esquecidas no discipulado e que funcionam simultaneamente:
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a) Plataforma espiritual. Ensinar verdades bíblicas que trazem transformações para a vida do indivíduo. O discipulador tem a tarefa de estabelecer um programa de crescimento espiritual de seu discípulo, incentivando-o, motivando-o e principalmente sendo referência de crescimento espiritual.
- b) Plataforma relacional. O discípulo aprende ao ver, ouvir e praticar o que seu discipulador faz na prática. O relacionamento é fundamental para desenvolver um discipulado efetivo: comer e viajar junto, trabalhar no mesmo ministério (não é obrigatório, mas aconselhável), compartilhando sonhos e projetos tendo os mesmos propósitos.
- c) Plataforma do desenvolvimento pessoal. O discipulado não pode ficar restrito ao cuidado, que é obviamente indispensável, mas, deve acrescentar como forma de crescimento, o serviço e o ministério. O discipulador deve cuidar fazendo e fazer cuidando. Todo discipulado tem estes dois elementos envolvidos: crescimento e atividade.
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● Invista. Não se engane, para discipular verdadeiramente alguém, teremos que fazer um grande investimento.
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a) Invista tempo. Gaste tempo no discipulado, quanto mais tempo você gastar, mais efetivo será o seu discipulado. Por outro lado, cuidado para não perder tempo. Não se distraia no discipulado, seja focado.
- b) Invista em oração. A oração é o sangue que alimenta, sustenta e vivifica o discipulado. Escute seu discípulo orando e oriente sua oração se for o caso.
- c) Invista em estudo. Não só das Escrituras, mas também, de boa literatura.
- d) Invista no amor. Ensine o amor e com amor, ame e seja amado, mas não crie pessoas dependentes de seu amor e não dependa do amor das pessoas.
Talvez você esteja pensando que precisa ser discipulado antes de poder discipular. Isso é verdade, mas, não toda a verdade. Com certeza é fundamental ser discípulo. No entanto, Jesus deu uma ordem para todo crente: “vão e façam discípulos” (Mt 28.19). Acredito que parte do processo de crescimento em maturidade é ajudar o próximo em seu próprio processo de amadurecimento. Assim, somos discipulados discipulando.
CONCLUSÃO
Ser discípulo de Cristo significa que os seus seguidores estão em um novo relacionamento com o Senhor ressurreto que tem todo poder e autoridade nos céus e na terra. Os discípulos de Cristo receberam uma ordem de seu Senhor: fazer outros discípulos no poder do Espírito Santo por meio de suas igrejas. Essa atividade envolve a disposição de cultivar um estilo de vida próprio que tem como pressuposto básico a glória de Deus.
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