A Necessidade das Escrituras



Quando falamos da necessidade das Escrituras, pretendemos responder algumas perguntas tais como: qual a necessidade de ler e estudar a Bíblia? Preciso da Bíblia, ou de alguém que me diga o que ela fala para saber que Deus existe? Posso encontrar salvação, ou conhecer a vontade de Deus sem a Bíblia? 


A natureza indispensável da Bíblia


De acordo com Wayne Grudem a necessidade das Escrituras pode ser assim definida:


Dizer que as Escrituras são necessárias significa dizer que a Bíblia é necessária para conhecer o evangelho, para conservar a vida espiritual e para conhecer a vontade de Deus, mas não que seja necessária para saber que Deus existe ou para saber algo sobre o caráter e sobre as leis morais de Deus.



Para o crente, a Bíblia é fundamental para o seu crescimento espiritual, edificação na fé cristã e na sua conduta diária de vida. No caso da igreja, a Bíblia é necessária para fundamentar a sua existência e orientar o seu funcionamento estabelecendo a direção em que a igreja deve seguir. Para o descrente a Bíblia torna-se absolutamente necessária para que ele possa conhecer o evangelho e converter-se. 


Conhecer e pregar o evangelho


Romanos 10.13 pois “todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo”. 14Como, então, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem não ouviram? E como ouvirão se não houver quem pregue? 15E como pregarão se não forem enviados? Como está escrito: “Como são belos os pés daqueles que anunciam boas-novas!”. 16No entanto, nem todos se submeteram ao evangelho, pois Isaías diz: “Senhor, quem creu na nossa mensagem?”. 17Consequentemente, a fé vem pelo ouvir, e ouvir a palavra de Cristo. 



Esses versículos formam uma linha de raciocínio lógico bem interessante: Para ser salvo o homem deve invocar. Mas como ele vai invocar quem ele não conhece? As pessoas só vão crer se conhecerem aquele a quem devem invocar. Alguém deve falar daquele que deve ser invocado, gerando assim, a fé salvadora. Conclusão: para ser salvo, devo ter fé, e a fé vem pelo ouvir a pregação de Cristo. 


Nas Escrituras encontramos inúmeras passagens que ressaltam a necessidade da fé para a salvação, que não pode ser recebida se não for pela fé. Consequentemente, não existe outro caminho para a salvação dos perdidos. A Bíblia é o lugar onde o indivíduo encontra a história daquele em que deve crer e ser conduzido em direção a salvação e a vida eterna prometida aos que têm fé. 


Neste ponto surge a pergunta, se a salvação é pela fé em Cristo, como os homens do A.T. eram salvos? A resposta passa necessariamente pelo mesmo raciocínio, eles deveriam ter fé em Cristo, porém a fé deles era baseada na promessa divina da chegada do Messias, ou seja, eles eram salvos por crerem na promessa de um salvador futuro. 


Hebreus 11.13 Todos esses morreram na fé sem terem recebido as promessas; viramnas de longe e de longe as saudaram, reconhecendo que eram estrangeiros e peregrinos na terra.


Tim Keller ensinando sobre pregação, exemplificou e distinguiu muito bem, sobre a mensagem do evangelho no A.T e N.T: 


Que mensagem é essa? Da perspectiva do Antigo Testamento, é a de que a “salvação vem do Senhor” e somente do Senhor. Somos demasiadamente caídos para nos salvar a nós mesmos, falhos demais para manter a aliança com Deus. É preciso que haja uma intervenção radical da graça, que só pode provir do próprio Deus. No Novo Testamento, vemos como a salvação vem do Senhor. Ela vem unicamente por meio de Jesus. [...] Mostrar de que maneira um texto se insere na totalidade do contexto canônico, portanto, é mostrar de que maneira ele aponta para Cristo e para salvação no evangelho, para a grande ideia de toda a Bíblia. 


Portanto, não existe qualquer possibilidade de alcançar a fé salvadora a parte do conhecimento das Palavras e das promessas de Deus. Podemos até conhecer alguma coisa sobre Deus e a sua lei moral, mas não o suficiente para ser salvo. 


Sustentar a vida espiritual


Deuteronômio 32.47 Elas não são palavras inúteis. São a sua vida. Por meio delas vocês viverão muito tempo na terra da qual tomarão posse do outro lado do Jordão.


Mateus 4.4 Jesus respondeu: ― Está escrito: “Nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus”.


1Pedro 2.2 Como crianças recém-nascidas, desejem de coração o leite espiritual puro, para que por meio dele cresçam para a salvação, 3agora que provaram que o Senhor é bom.


Nossa vida espiritual é sustentada pela porção diária da Palavra de Deus, assim como a nossa vida física é sustentada pela porção diária de alimento físico. Wayne Grudem defende que “negligenciar a leitura regular da Palavra de Deus é tão prejudicial à saúde da nossa alma quanto o é à saúde do nosso corpo negligenciar o alimento físico”. Além disso, a Bíblia se torna fundamentalmente necessária para que possamos nos defender das heresias que se propagam no meio do povo de Deus. John Wesley, observa que é impossível que não ouçamos os falsos mestres, pois como sabemos, os falsos ensinos estão espalhados em toda parte, porém, Wesley nos ensina como devemos ouvir todas as coisas:


(ouça) Com oração contínua e fervente a Jesus, o único que nos dá sabedoria. E cuide de julgar segundo as Escrituras, tudo o que ouvir. [...] Não acredite em nada que os outros dizem, a menos que seja claramente confirmado por passagens claras das Escrituras Sagradas. Rejeite tudo o que divergir das Escrituras. Ignore tudo o que não for confirmado por elas. 


Desse modo, a Bíblia é necessária para o sustento da nossa vida espiritual, provendo alimento para nossa alma e direção para nossa vida. Também é necessária para o crescimento saudável na vida cristã, nos livrando dos falsos mestres e de seus falsos ensinos e fornecendo a direção de como devemos conduzir a nossa vida de acordo com a vontade de Deus. 


Conhecer a vontade de Deus


Sem a Palavra escrita de Deus, a Bíblia, nunca poderíamos ter certeza da vontade de Deus por outros meios. A nossa consciência, os conselhos de outras pessoas, o uso da razão, da lógica e do bom senso santificado e até mesmo o testemunho interior do Espírito, seriam comprometidos pela ausência de um lugar onde pudéssemos encontrar a certeza da vontade de Deus. Especialmente, no contexto de queda em que o mundo se encontra, onde o pecado distorce a nossa capacidade de discernir entre o certo e o errado, os nossos processos mentais são comprometidos por uma lógica mundana e a nossa consciência é constantemente alijada por ensinos destoantes das Escrituras.


A metanarrativa moderna afirma que não existem verdades absolutas, ou que as que existem, estão ligadas as descobertas científicas. Por exemplo, Sigmund Freud disse: “Não há fontes de conhecimento do universo, a não ser observações cuidadosamente escrutinadas – em outras palavras, o que chamamos de pesquisa – e consequentemente não há conhecimento derivado de revelação”, porém, já vimos por experiência empírica, que isso não é verdade. A ciência, a lógica, a razão e todos os seus derivados são grandes acessórios, entretanto, jamais devem funcionar como fonte de verdade absoluta, já que continuamente se mostram falhos.


Na Bíblia, porém, temos afirmações claras e perfeitas sobre a vontade de Deus, ou seja, nas Escrituras encontramos verdades absolutas e confiáveis sobre Deus e acerca da criação de Deus. Ele não nos revelou todas as coisas, mas revelou-nos o bastante para conhecermos a sua vontade e os seus propósitos. Wayne Grudem apresenta a questão da seguinte forma: 


Deus conhece todos os fatos que jamais foram ou jamais serão. E esse Deus onisciente (que tudo conhece), tem conhecimento absolutamente exato: jamais pode ocorrer um fato que ele já não conheça; assim, nunca haverá um fato que prove que algo que Deus pense é na verdade falso. Ora, é desse infinito repositório de conhecimento seguro que Deus, que não mente jamais, nos fala pelas Escrituras, nas quais ele nos disse muitas coisas verdadeiras sobre si mesmo, sobre nós mesmos e sobre o universo que ele criou.


Assim sendo, encontramos nas Escrituras, os absolutos sobre a criação que correspondem de forma inequívoca com a verdade das experiências sensoriais do mundo que nos cerca. Neste sentido, é correto dizer que a Bíblia é necessária para conhecer de forma definitiva e segura a vontade de Deus; os seus propósitos eternos; e para adquirir conhecimento seguro e absoluto sobre qualquer outra coisa. 


A Bíblia é desnecessária para saber que Deus existe e de sua lei moral


E as pessoas que não tem acesso ou não querem ler ou estudar a Bíblia, será que elas podem conhecer a Deus ou a sua lei moral? Wayne Grudem afirma que sim, “mesmo sem a Bíblia é possível algum conhecimento de Deus, ainda que não seja conhecimento absolutamente seguro.” As pessoas podem obter conhecimento de Deus e de seus atributos invisíveis apenas pela observação da criação. Na verdade, mesmo sem admitir, todas as pessoas conhecem a Deus e a sua lei, porque vivem no mundo criado por Deus e as suas experiências cognitivas provam isso. 


Salmo 19.1 Os céus declaram a glória de Deus; o firmamento proclama a obra das suas mãos.


Romanos 1.18 Portanto, a ira de Deus é revelada dos céus contra toda impiedade e injustiça dos homens que suprimem a verdade pela injustiça, 19pois o que de Deus se pode conhecer é revelado entre eles, porque Deus lhes revelou. 20Pois, desde a criação do mundo, os atributos invisíveis de Deus — o seu eterno poder e a sua natureza divina — têm sido vistos claramente, sendo compreendidos por meio das coisas criadas, de forma que tais homens são indesculpáveis; 21porque, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus nem lhe renderam graças. Pelo contrário, os seus pensamentos tornaramse fúteis, e o coração insensato deles se obscureceu. 


Estes textos dizem que Deus oferece provas de sua existência e do seu caráter, sendo a humanidade criada a imagem dele. As passagens dizem, porém, que os ímpios reconhecem essas provas, mas preferem ignorar. Assim, mesmo sem a Bíblia as pessoas que vivem e já viveram tem provas da existência de Deus na criação e também dos atributos de seu caráter. Apesar disso, eles não o reconheceram, e preferiram dar glória a outra coisa. Além disso, estes textos, em especial o de Romanos, mostram que os descrentes têm, em suas consciências, algum vestígio das exigências morais de Deus, e que o pecado distorce ou suprime essa evidência do coração deles.


Romanos 1.29 Tornaramse cheios de toda sorte de injustiça, maldade, cobiça e depravação. Estão cheios de inveja, homicídio, rivalidades, engano e malícia. São bisbilhoteiros, 30caluniadores, inimigos de Deus, insolentes, arrogantes e presunçosos; inventam maneiras de praticar o mal; desobedecem aos pais; 31são insensatos, desleais, insensíveis, sem misericórdia. 32Embora conheçam o justo decreto de Deus, de que as pessoas que praticam tais coisas merecem a morte, não somente continuam a praticálas, mas também aprovam aqueles que as praticam.


Isso acontece também em maior ou menor grau, dependendo da cultura e das circunstâncias pessoais dos indivíduos. Por exemplo, os canibais e a sua insensibilidade quanto a sua prática; ou a sociedade ocidental e o seu desrespeito aos pais ou a sua conhecida imoralidade sexual. O testemunho da consciência existe, mas é suprimido pela prática inconsequente do pecado. Na verdade, o fato de que toda a humanidade conhece as leis morais de Deus é uma grande bênção. Do contrário, o mal do homem não teria qualquer freio da consciência e a nossa convivência social seria totalmente impossível. Por isso, é que cristãos e não cristãos podem encontrar consenso sobre assuntos ligados a nossa sociedade, como direitos humanos, lei civil e ética nos negócios e atividades profissionais, estabelecendo padrões aceitáveis de conduta comum de vida. 


C. S. Lewis chamou esse conhecimento da lei de Deus, como lei da natureza humana, e fez o seguinte comentário:


Está certo que há diferenças entre as moralidades, mas estas nunca chegaram a se configurar como uma diferença total. Se alguém se desse ao trabalho de comparar o ensinamento moral dos antigos egípcios, dos babilônios, dos hindus, dos chineses, dos gregos e dos romanos, ficaria impressionado com a semelhança que têm entre si e também em relação ao nosso ensinamento moral. 


Conclusão


As escrituras são absolutamente necessárias para as pessoas conhecerem o evangelho e encontrarem o caminho da salvação. A Bíblia não deixa qualquer margem de dúvida acerca disso e nenhuma especulação humana será suficiente para produzir a fé salvadora. Ademais, o crescimento e o amadurecimento na fé, só podem ser alcançados pela leitura, estudo, meditação e aplicação da Palavra de Deus, sendo impossível a edificação na vida cristã, fora das Escrituras. Ela é a fonte segura e confiável para conhecer a vontade de Deus e os seus atributos de caráter como verdade, bondade, amor e justiça. Admitimos, porém, que o conhecimento da existência de Deus e de sua lei moral, não necessitam das Escrituras, e que o homem pode saber que Deus existe e viver sob o benefício de sua lei moral, sem conhecer e usufruir da Bíblia. 


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