A Suficiência das Escrituras



Será que a Bíblia é suficiente para conhecer a Deus e a sua vontade sobre os diversos assuntos que envolvem a nossa vida? Podemos buscar o conhecimento de Deus em outras fontes além das Escrituras? Essa discussão é longa, polêmica e muitas vezes marcada por orgulho, prepotência e arrogância. Vários cristãos piedosos se perderam nesta arena, tentando defender o seu ponto de vista. Por essa razão, vamos escapar desse ambiente hostil que em nada contribui para a nossa edificação. Nosso alvo é procurar estabelecer as Escrituras como fonte primária, objetiva e final para encontrarmos a vontade de Deus, sem excluir os outros sistemas, como forma de obter informações, mas sujeitando esses sistemas, a inquirição da Bíblia.


Fundamentação bíblica


Wayne Grudem definiu assim a suficiência das Escrituras:


Dizer que as Escrituras são suficientes significa dizer que a Bíblia contém todas as palavras divinas que Deus quis dar ao seu povo em cada estágio da história da redenção e que hoje contém todas as palavras de Deus que precisamos para salvação, para que, de maneira perfeita, nele possamos confiar e a ele possamos obedecer.

 

Essa definição enfatiza dois pontos importantes: em primeiro lugar, nas Escrituras é que devemos procurar as Palavras de Deus. Segundo, Deus considera o que está escrito nas Escrituras suficiente para a nossa vida de modo particular. Não podemos, não é saudável ou recomendado substituir a Bíblia por nada para determinar a vontade de Deus, nem tampouco, usar fontes externas para igualar a autoridade das Escrituras em nossa vida. Os apóstolos ensinam os crentes acerca da exclusividade da Bíblia:


2Timóteo 3.14 Quanto a você, porém, permaneça nas coisas que aprendeu e das quais tem convicção, pois sabe de quem as aprendeu. 15Porque desde criança você conhece as Sagradas Escrituras, que são capazes de tornálo sábio para a salvação por meio da fé em Cristo Jesus. 16Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça, 17a fim de que o homem de Deus seja apto e plenamente preparado para toda boa obra.



1Pedro 1.22Agora que vocês purificaram a sua vida pela obediência à verdade, visando ao amor fraternal e sincero, amem sinceramente uns aos outros, de todo o coração. 23Vocês foram regenerados não de uma semente perecível, mas imperecível, por meio da palavra de Deus, viva e permanente. 24Pois “todas as pessoas são como a relva, e toda a sua glória como a flor da relva. A relva murcha, e cai a sua flor, 25mas a palavra do Senhor permanece para sempre”. Esta é a palavra que foi anunciada a vocês.


Tanto Paulo, quanto Pedro ensinam que tudo o que Deus exige de seu povo está escrito em sua Palavra, tanto para a salvação, como para a edificação. Desse modo, fazer tudo o que a bíblia ordena é fazer tudo o que Deus ordena. Se simplesmente observarmos a Palavra escrita de Deus, a Bíblia, estaremos fazendo toda boa obra que Deus espera de nós.


Na Bíblia encontramos tudo que Deus disse sobre assuntos importantes para vida cristã


Apesar de lícito, não precisamos recorrer aos documentos da igreja, nem aos concílios ou as fontes subjetivas – sonhos, visões, sentimentos ou impressões da nossa mente - nas Escrituras o crente encontra toda a vontade de Deus, suas exigências para a salvação e conduta de vida. 


Os católicos romanos afirmam, que a vontade de Deus sobre assuntos específicos, está restrita ao ensino oficial da igreja de Roma. Os espíritas defendem que os espíritos são a fonte para o conhecimento e a sabedoria. As religiões orientais buscam na criação de Deus os direcionamentos para a sua vida. Alguns crentes adotam a prática de consultar “o coração” para tomar as melhores decisões. Por outro lado, o ensino da Bíblia é que podemos chegar em conclusões claras sobre assuntos importantes da vida como: casamento, trabalho, ministério, relacionamentos entre outros, apenas consultando os princípios gerais estabelecidos por Deus em sua Palavra escrita. As escrituras são suficientes para nos capacitar para toda boa obra, andando de acordo com a vontade de Deus. 


Os cristãos não precisam rejeitar as formas mais subjetivas de encontrar a vontade de Deus, como testemunho interior ou aconselhamento bíblico - exceto, quando a própria Bíblia proibir a prática. Por exemplo, o espiritismo e a consulta aos mortos é vedada categoricamente na Bíblia. Apenas, devem sujeitar a decisão final ao crivo das Escrituras. Elas são o parâmetro correto e verdadeiro para se conhecer a Deus, seus propósitos e vontade. A não ser quando um texto das Escrituras se aplica diretamente a uma situação, ninguém poderá jamais ter cem por cento de certeza acerca da vontade de Deus. Embora a caminhada cristã melhore a nossa capacidade de discernir a vontade de Deus, inevitavelmente cometeremos erros. 


O volume das Escrituras seguiu o caminho da história da redenção.


O que Deus disse para o seu povo, foi suficiente em momentos distintos de seu plano de redenção. Enquanto a história transcorria, Deus pôde acrescentar mais instruções, porém, o homem não está autorizado a acrescentar informações por conta própria. Deus quem decidiu o que revelar e não revelar em cada estágio da história da redenção. 


Com o desenvolvimento do plano de Deus, mais palavras foram acrescentadas, registrando e interpretando a história. No tempo de Moisés, os primeiros cinco livros foram suficientes para o povo de Deus na época, porém Deus ordenou posteriormente, que outros autores inserissem novos ensinos, e assim, as Escrituras foram suficientes para os crentes das épocas posteriores. Como não ocorreram novos eventos no plano de redenção após a formação da igreja antiga, o que temos é suficiente para responder as nossas perguntas e questões, mesmo as mais difíceis. Portanto, como não tivemos novos fatos no plano de Deus, não recebemos novas orientações de Deus para serem registradas, incluídas e interpretadas. 


Algumas implicações


1 - Somos incentivados a buscar nas escrituras aquilo que Deus quer que façamos.


Isso não significa que a bíblia responde a todas as dúvidas que possamos conceber, mas, que tudo que Deus intenta dizer sobre o assunto encontra-se na Bíblia. Quando enfrentamos um problema relevante para a nossa caminhada, podemos estudar as Escrituras, na certeza de que Deus nos dará orientação. Mesmo as nossas impressões subjetivas, como testemunho interior e voz da consciência, devem ser mediadas pela Bíblia, inclusive mensagens que alguém diz ter recebido do próprio Deus. 


2 - Não devemos acrescentar nada e nem colocar outro ensino ou mestre em posição de igualdade com a Palavra de Deus. 


Temos vários exemplos negativos nesse sentido – católicos, mórmons e testemunhas de Jeová - que introduziram informações ao texto inspirado por Deus. Para o nosso espanto, mesmo entre os protestantes, encontramos indivíduos que vão além das Escrituras e fazem afirmações baseadas em experiências e interpretações cheias de especulações. Essas adições, contradizem o texto bíblico, introduzindo conceitos nocivos a mensagem de Deus. Muitos destes “ensinos” custaram caro para seus adeptos. Podemos apontar dois desdobramentos naturais deste tipo de coisa: primeiro, redução da importância do estudo da Bíblia. Segundo, a disseminação de ensinos contrários as Escrituras. É comum das seitas enfatizar trechos ou ensinamentos “obscuros” da Palavra de Deus.


3 - Deus não exige que as pessoas creiam em alguma informação acerca de sua natureza ou sobre a salvação que não se encontre na Bíblia. 


Tudo que precisamos saber sobre os atos, as palavras e os mandamentos de Deus, em especial, sobre Jesus e sua obra, encontra-se nas Escrituras. Não precisamos descobrir nada novo, até porque, nada novo pode mudar o que Deus deixou registrado na Bíblia. Wayne Grudem assevera: 


Precisamos tomar o cuidado de jamais permitir (na teoria ou na prática) a equiparação dessas revelações às Escrituras. Precisamos insistir em que Deus não exige de nós que creiamos em nada sobre ele ou sua obra no mundo que esteja contido nessas revelações mas não nas Escrituras.


4 - Não existe pecado que não seja declarado de forma clara nas Escrituras. 


Não devemos acrescentar proibições a partir de interpretações equivocadas de textos obscuros. É comum entre os crentes de todos os tempos, ignorar o estudo da Palavra de Deus, para aderir ao conjunto de regras estabelecidos por uma denominação ou tradição cristã. Não existe qualquer problema nas regras, mas o Espírito Santo não encoraja a obediência de regras que não estejam de acordo com a aprovação de Deus. Um bom exemplo disso, é a oposição da igreja católica quanto aos métodos de controle de natalidade ou a proibição da tradição protestante aos estilos musicais. 


5 - Nosso estudo teológico, moral e ético deve concentrar-se e contentar-se nas Escrituras. 


Existem alguns temas os quais a Bíblia pouco ou nada fala, precisamos aceitar isso, nunca sugerindo que a Palavra de Deus é menos do que poderia ser. Algumas situações, exigiram atenção maior da parte do crente do que o problema recebeu no ensino bíblico. Podemos citar os exemplos da discussão sobre fertilização in vitro, inseminação artificial ou aborto. Estas situações são importantes, porém, pouco frequentes. Lamentavelmente, líderes cristãos têm gastado considerável tempo e esforço, em discussões secundárias como: ceia, batismo, governo da igreja e volta de Cristo. Assuntos que a Bíblia nos oferece pouca informação. Não devemos dizer que essas questões são destituídas de importância, ou que as Escrituras não dão solução para elas, o que devemos fazer é reconhecer que a Palavra de Deus é “econômica” nestes pontos. Sem ignorar o que está claro, mas, sendo tolerante onde a Bíblia se cala. 


Conclusão


A bíblia é suficiente para conhecer o caráter, a natureza e a vontade de Deus. Nela encontramos o que Deus exige para a nossa salvação e para vivermos de forma a agradar ao Senhor - tanto moral como eticamente. Todo o nosso ensino deve ser submetido ao exame das Escrituras, devemos encontrar respaldo em todo contexto da Palavra de Deus para o que ensinamos e como conduzimos a nossa vida. É necessário excluirmos as especulações e revelações que nos afastam da vontade de Deus. As fontes externas são importantes, tanto as teológicas, quanto as demais áreas do saber, porém, elas devem ser usadas como auxiliares da Palavra de Deus, não como fonte primária para conhecer a Deus e a sua vontade.



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