Imitadores de Deus: Sábios



Efésios 5.15 Tenham cuidado com a sua maneira de viver: que não seja como insensatos, mas como sábios, 16aproveitando ao máximo cada oportunidade, porque os dias são maus. 17Portanto, não sejam insensatos, mas procurem compreender qual é a vontade do Senhor.


Paulo segue oferecendo conselhos práticos da conduta ética esperada dos imitadores de Deus. Seu argumento é o de que os cristãos devem adotar novos padrões de conduta em decorrência natural de sua nova natureza. 


Efésios 4.22 Quanto à antiga maneira de viver, dispamse do velho homem, que se corrompe por desejos enganosos, 23para serem renovados no modo de pensar e 24se vestirem do novo homem, criado para ser semelhante a Deus em justiça e santidade provenientes da verdade.


A seguir acrescentou uma nova razão fundamental para o comportamento dos crentes:


Efésios 5.1Portanto, sejam imitadores de Deus, como filhos amados, 2e vivam em amor, como também Cristo nos amou e se entregou por nós como oferta e sacrifício de aroma agradável a Deus.


Desde então, ele vem dando orientações objetivas acerca da conduta santa do povo de Deus. esse pequeno, mas importante parágrafo da carta é baseado em dois pressupostos: (1) os crentes são sábios e não insensatos e, (2) a sabedoria cristã é sabedoria prática, ela ensina como os crentes devem se comportar. O intuito do apóstolo é mostrar que aqueles que já se desfizeram de sua velha natureza e abraçaram a vida nova em Cristo evidenciam e comprovam seu estado de salvação por meio de suas obras. Paulo convoca os crentes para manifestar a sabedoria inerente à nova realidade. Nosso comportamento não deve mais se conformar ao mundo, a carne ou ao diabo, mas manifestar a vontade de Deus. 


Ter cuidado


Efésios 5.15 Tenham cuidado com a sua maneira de viver: que não seja como insensatos, mas como sábios,


O apóstolo começa com o que é nuclear para todo e qualquer indivíduo: tudo que é valioso requer atenção extraordinária. Todas as pessoas tomam cuidado especial com tudo que é importante. Com os filhos, com os pais, com a família, com o emprego, com o dinheiro, com o lazer, com a igreja, com a aparência entre outras coisas. A lista é quase interminável e pode variar de pessoa para pessoa. Contudo, certamente, o que é valioso será preservado com cautela incomum. Por essa perspectiva, Paulo vincula a nossa vida cristã e o nosso discipulado em Cristo. Devemos ter cuidado com a vida cristã. Devemos tratá-la como a coisa séria que é. 


A seguir, ele apresenta um contraste entre sábios e insensatos. No contexto, insensatos são todos os que têm percepção das coisas pertencentes a Deus e sua salvação, porém, não desejam alcançar níveis superiores de maturidade e sabedoria. Nem mesmo consideram as maneiras de se alcançar tais níveis. Consideram de pouca importância ou mesmo prejudicial o que deveria ser encarado em alta consideração. Os parvos não apreciam o que é imprescindível para o seu amadurecimento. Por outro lado, os sábios são os que buscam, por meio da graça de Deus, afastar-se de qualquer coisa que possa comprometer seu avanço espiritual. Seu compromisso é cuidadosamente pensado para edificar sua vida no fundamento dos apóstolos e profetas (Ef 2.20). Como são, então, as pessoas sábias que tomam cuidado com seu crescimento espiritual?


Aproveitando o tempo


Efésios 5.16 aproveitando ao máximo cada oportunidade, porque os dias são maus.


Os indivíduos sábios tiram o maior proveito do seu tempo – sendo que “oportunidade” foi a palavra usada para traduzir o termo grego Kairós. Indiscutivelmente, mesmo entre os incrédulos, é consenso de que o tempo é um recurso preciosíssimo. Todos nós temos a mesma quantidade de tempo disponível, com sessenta minutos por hora e vinte quatro horas por dia. Uma vez tendo passado, até as pessoas mais sábias, capazes ou importantes não podem recuperá-las. Quando analisamos este texto à luz da passagem precedente, a oportunidade referida consiste em mostrar por meio de nossos comportamentos o poder e a glória transformadora do evangelho. Enriquecendo-se de boas obras, alcançando a maturidade espiritual, fortalecendo a comunhão, testemunhando para o próximo em tudo isso, glorificando a Deus.


Paulo acrescenta um motivo a mais para incentivar o uso espiritual do tempo: “porque os dias são maus”. Uma análise da carta aos Efésios será suficiente para mostrar quão indescritivelmente eram maus os dias em que essa epístola foi escrita. Para muitos crentes, os nossos dias são os tempos mais críticos da história. Tudo que nos cerca tende à corrupção e a degradação de modo a ser difícil para os piedosos caminhar tranquilamente. Porém, a advertência de Paulo no primeiro século, escancara o engano desse pensamento. 


Compreendendo a vontade do Senhor


Efésios 5.17 Portanto, não sejam insensatos, mas procurem compreender qual é a vontade do Senhor.


O apóstolo repete a admoestação: “não sejam insensatos”. As pessoas sábias devem, também, procurar compreender a vontade de Deus. A sabedoria verdadeira pode ser achada na vontade de Deus. Ao passo que, a vontade própria é a marca distintiva do insensato. O próprio Jesus orou dizendo “não seja feita a minha vontade, mas a tua” (Lc 22.42). Somos instigados a orar: “Seja feita a tua vontade”. Alguns estudiosos afirmam que não existe nada mais importante na vida do crente do que compreender e praticar a vontade de Deus. Todavia, ao procurar compreender a vontade de Deus, é fundamental distinguir entre a vontade revelada e a vontade particular de Deus. 


  • A vontade revelada. É assim chamada por que diz respeito à vontade de Deus revelada, conhecida e que pode ser estudada e consequentemente, aplicada. A vontade revelada pode ser encontrada nas páginas da Bíblia. A vontade de Deus foi plenamente e claramente revelada para o seu povo. Sem necessidade de acréscimos ou alterações. 


  • A vontade particular. Se estende às particularidades da vida das pessoas – qual carreira seguir, com quem se casar ou que igreja frequentar. A vontade particular não será encontrada nas Escrituras, sem dúvida alguma, encontraremos princípios gerais da vontade revelada para nos guiar seguramente à vontade particular. Ademais, em nenhum lugar das Escrituras somos ensinados a buscar conhecer a vontade particular de Deus para nossas vidas. Mesmo que em alguns meios, isso seja ensinado como verdade, na Bíblia não encontramos essa recomendação. Na passagem, por exemplo, somos chamados a compreender a vontade de Deus. Indicando que (1) vamos compreender e não descobrir a vontade de Deus; (2) a vontade de Deus, no contexto, diz respeito, ao comportamento esperado dos crentes. As decisões particulares devem ser tomadas com base em cuidadosa reflexão da revelação de Deus, oração e, finalmente, conselhos de pessoas maduras e experimentadas. 


Ser sábios


Efésios 5.15 Tenham cuidado com a sua maneira de viver: que não seja como insensatos, mas como sábios, 16aproveitando ao máximo cada oportunidade, porque os dias são maus. 17Portanto, não sejam insensatos, mas procurem compreender qual é a vontade do Senhor.


Como cultivar a sabedoria que incentiva o crescimento espiritual e nos afasta dos comportamentos reprováveis de acordo com a vontade de Deus? O crente deve usar seu tempo com prudência e zelo, cuidando da sua vida espiritual. O Espírito Santo estabeleceu meios para que o cristão fosse nutrido diariamente. Esses meios são ordinários, singelos e acessíveis para todos os que o buscam sinceramente. 


A palavra de Deus verbalmente inspirada - A Bíblia.


Salmo 19.7 A lei do Senhor é perfeita e revigora a alma. Os testemunhos do Senhor são dignos de confiança e tornam sábios os ingênuos. 8Os preceitos do Senhor são justos e dão alegria ao coração. Os mandamentos do Senhor são límpidos e trazem luz aos olhos. 9O temor do Senhor é puro e dura para sempre. As ordenanças do Senhor são verdadeiras; todas elas são justas.


Benjamin Keach, importante teólogo batista do século 17 assegura que “Muitos confiam que têm o Espírito Santo, luz e poder, quando tudo isso é mera ilusão… Alguns homens gloriam do Espírito… porém, ao mesmo tempo, eles menosprezam e vilipendiam as suas benditas ordenanças e instituições, que ele deixou em sua Palavra”. Existe uma relação indestrutível entre a espiritualidade do crente e as Escrituras Sagradas. Em forte contraste com a tendência moderna, que se especializou em cultivar a espiritualidade por meio de hábitos saudáveis, cultura terapêutica e ênfase exagerada no self. Precisamos voltar para a Bíblia como meio de cultivar a vida espiritual. 


Portanto, o crente deve abandonar as fórmulas humanas, rejeitar os maneirismos e os discursos falsos dos que só tratam das emoções. Devemos evitar os constantes apelos para buscarmos por conta própria e os interesses egoístas. Em outras palavras, o cristão espiritualmente saudável cultiva a meditação na Bíblia como centro de sua vida. Tem uma sede incomum por conhecer e aplicar as Escrituras Sagradas e não poupa esforços nessa empreitada. Ele estuda a Bíblia mais do que qualquer outra coisa. 


A comunicação com Deus – A oração.


Mateus 6.9 Vocês devem orar assim: “Pai nosso, que estás nos céus! Santificado seja o teu nome. 10Venha o teu reino; seja feita a tua vontade na terra como no céu. 11Dános hoje o pão nosso de cada dia. 12Perdoa as nossas ofensas, como também temos perdoado aqueles que nos ofendem. 13E não nos deixes cair em tentação, mas livranos do Maligno, pois teu é o reino, o poder e a glória para sempre. Amém”.


A oração é outro meio pelo qual os crentes têm se aproximado de Deus. É inegável que a igreja primitiva e os apóstolos estruturaram as suas vidas e a igreja de Deus em uma sólida vida de oração. Existem diversos testemunhos de homens piedosos ao longo da história que buscavam ao Senhor em oração incessante. 


No entanto, os cristãos maduros também reconhecem que para perseverarmos na disciplina constante e saudável da oração precisamos da capacitação do Espírito Santo. Pois, a oração é, e sempre foi, um dos grandes desafios da vida cristã. Na tentativa de contornar essa dificuldade imposta aos crentes, alguns grupos se perderam. Os católicos inventaram métodos extra bíblicos como o terço ou rosário, as orações repetitivas e o ascetismo religioso. Por outro lado, alguns crentes criaram as técnicas do secreto, as orações na madrugada ou no monte e os cultos de busca. Não precisamos dizer que qualquer tentativa de solucionar a questão que não inclua o arrependimento e a submissão ao Senhor falhou terrivelmente em seus resultados. John Bunyan, puritano conhecido por sua obra “O Peregrino” disse: 


Quanto ao meu coração, quando vou orar, acho-o tão relutante em buscar a Deus; e, quando está na presença de Deus, se mostra tão relutante em permanecer com ele, que muitas vezes sou forçado, em minhas orações, a primeiramente implorar a Deus que pegue o meu coração e fixe-o nele mesmo, em Cristo; e, quando meu coração está ali, peço a Deus que o mantenha ali. 


Bunyan mostra que a única maneira de lidar com a inconstância na oração é, em oração, clamar ao Espírito Santo por ajuda. Resolvemos a questão, reconhecendo a nossa incapacidade e a reação alérgica da velha natureza à presença de Deus. 


A incompreensão sobre a natureza da oração é outro fator que pode comprometer a oração. De acordo com a Bíblia, a oração é uma resposta do crente a revelação do caráter e da natureza de Deus, ou seja, deve ser acompanhada da meditação nas Escrituras. Ela não deve ser quantificada por tempo, mas por temor ao Senhor. As orações podem ser comunicações escritas. A oração comunitária da igreja sempre foi uma marca das igrejas cristãs, enquanto que os crentes atuais preferem as orações em particular. Finalmente, temos um modelo de oração que pode ser seguido pelos crentes, a saber, a oração que o Senhor nos ensinou, o Pai Nosso (Mt 6.9-13). Gerações de crentes testemunharam que, quando perseveramos na oração como meio de alimentar nossa alma, tempos de intenso deleite e satisfação brotam da adoração no coração dos quebrantados e contritos. 


A comunhão do povo de Deus – A igreja. 


Hebreus 10.24 Importemonos uns com os outros para nos incentivarmos ao amor e às boas obras. 25E não deixemos de nos reunir como igreja, segundo o costume de alguns, mas procuremos encorajar uns aos outros, sobretudo agora que vocês veem aproximarse o Dia.


Falar da igreja como forma de nutrir a vida espiritual dos crentes pode produzir estranheza em algumas pessoas que habitualmente pensam a devoção como uma disciplina particular. Na verdade, nos últimos anos, os cristãos foram desencorajados a pensar na igreja como fonte de suprimento espiritual. A teologia do secreto ganhou força e os crentes foram levados a abandonar a comunhão dos santos e as ordenanças, em especial, a ceia do Senhor.  Isso pode ser uma grande surpresa para muitos cristãos, que atualmente parecem não estar considerando a participação na ceia do Senhor como uma disciplina espiritual importante. Um lugar em que o povo de Deus tem rica comunhão com o seu Redentor. Eles preferem discutir, quem deve ou não participar dos elementos do pão e do cálice. 


O N.T. desconhece o cristianismo solitário. Uma das fontes de constante e vigorosa nutrição espiritual dos crentes é a comunhão cristã do corpo de Cristo.  A comunhão tem a ver com a vida comum da igreja. A fé cristã é distintivamente coletiva. Viver como cristão significa estar em compromisso uns com os outros. Envolver-se com atividades em que somos naturalmente expostos aos nossos irmãos para o crescimento da comunidade da fé. Além disso, a comunhão da igreja molda a nossa teologia da graça - recebemos e compartilhamos graça e perdão, o nosso testemunho – vitórias e fracassos em comuns, e a nossa ética – padrões de pecado e santificação. Elementos fundamentais em uma vida que glorifica ao Senhor. Todavia, a comunhão deve ser intencional e rica de experiências – conhecer o irmão na informalidade das atividades de comunhão.


Praticando a vida espiritual 


Proceder piedosamente requer momentos de buscar a comunhão pessoal com Deus. Para isso, o cristão pode seguir os seguintes passos:


  1. Estabeleça um horário em sua agenda diária – dê preferências aos horários de melhor desempenho pessoal. Se não tiver um tempo disponível, crie um diminuindo outras atividades de sua vida. Não existe nada mais importante do que um encontro pessoal com o Rei da Glória. 

  2. Seja disciplinado e constante. Não deixe de fazer nenhum dia sequer. Não desmarque em hipótese nenhuma. Encontre um local tranquilo e siga um plano de leitura e oração permanente. 

  3. Ore para que o Espírito Santo conduza seu coração. O crente deve ser sempre e humildemente sujeito ao Espírito Santo. Apatia e frieza não combinam com a presença alegre e poderosa de Deus.

  4. Leia um trecho das Escrituras. Não leia uma passagem muito longa. Concentre-se em um versículo ou doutrina ressaltada no texto. Tome o cuidado de não especular e ir além do que Deus falou. Não crie novas doutrinas. Busque a Deus no texto.

  5. Medite nas Escrituras. A meditação cristã é diferente das meditações das religiões orientais, nas quais os indivíduos esvaziam a mente. Na meditação cristã a mente do crente paira sobre uma verdade para extrair sua doçura e levá-lo à adoração. 

  6. Pregue a verdade para a sua alma. Estimule a sua fé, a alegria e a devoção ao Senhor. Examine sua vida e sinceramente aplique a verdade a ela. 

  7. Louve ao senhor com gratidão. Encerre seu devocional com louvores em seus lábios. Termine orando e deixe que o Espírito Santo encha seu coração de prazer e saciedade. 


Conclusão


Um cristão que cultiva a espiritualidade bíblica e consequentemente saudável, pode esperar que sua vida experimente crescimento em sabedoria e energia para lidar com os comportamentos pecaminosos. Quando pessoas com o coração sincero e contrito buscam a presença santa de Deus e invocam o seu nome, certamente, experimentarão amadurecimento, santificação e a vontade de Deus. Contudo, não se engane, precisamos desenvolver novos hábitos, disciplinas e desejos piedosos para realizarmos esse ato de serviço ao Senhor.





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