Cinco Pontos: As Doutrinas da Graça
Romanos 8.28 Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito. 29Pois aqueles que Deus de antemão conheceu ele também predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. 30E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou. 31Que diremos, então, à vista destas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós? 32Aquele que não poupou o seu próprio Filho, mas por todos nós o entregou, será que não nos dará graciosamente com ele todas as coisas? 33Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica.
Cem anos depois dos primeiros movimentos da Reforma, as discussões das doutrinas bíblicas, especialmente, acerca da salvação, ainda estavam muito efervescentes. Os primeiros reformadores já haviam morrido e duas escolas de pensamento antagonizavam dentro da tradição reformada. Calvinistas e arminianos protagonizaram uma controvérsia importante para toda a história do protestantismo no mundo.
O fundador do grupo arminiano Jacó Armínio (1560-1609) estudou na escola de Genebra, e depois se tornou professor na Universidade de Leyden na Holanda. Depois de sua morte, seus alunos formularam um credo em cinco artigos e os apresentaram em 1610, sob o nome de Remonstrância. A resposta veio no Sínodo de Dort em 1619. Os delegados do sínodo formularam a resposta, que ficou conhecida como os Cânones de Dort. Os Cinco Pontos não foram escolhidos pelos reformados, eles surgiram como uma resposta aos arminianos.
Estes cinco pontos estão no centro da teologia bíblica e têm relevância significativa para toda a vida cristã. A posição individual sobre eles afeta decisivamente a nossa perspectiva sobre Deus, o homem, a salvação, a expiação, a nova vida, a adoração e as missões. O intuito é aprofundar nossa experiência da graça de Deus, entender e crer em sua verdade revelada na escritura.
Depravação Total
Romanos 3.9 Que se conclui? Temos nós alguma vantagem? Não, de forma nenhuma. Pois já temos demonstrado que todos, tanto judeus como gregos, estão debaixo do pecado. 10Como está escrito: “Não há justo, nem um sequer, 11não há quem entenda, não há quem busque a Deus... 23pois todos pecaram e carecem da glória de Deus,
No texto acima, o escritor inspirado revela que o homem natural não busca a Deus, que todos, sem exceção, pecaram e estão completamente afastados de Deus. Em sua carta aos efésios (Ef 2.3), Paulo afirma que os homens são “por natureza filhos da ira”. A corrupção da raça humana é tão profunda e tão forte que os torna escravos do pecado e moralmente incapazes de vencer a rebelião contra Deus. Estão completamente alienados de Deus. Paulo descreve a condição da humanidade como “mortos em delitos e pecados” (Ef. 2.1). Em outras palavras, completamente incapazes de salvar a si mesmos. Totalmente dependentes da graça de Deus e totalmente perdidos no pecado.
Isso não significa que os homens não podem fazer coisas boas, mas que o homem não regenerado é incapaz de buscar a Deus ou de praticar qualquer bem espiritual. Tudo que o homem faz é pecado, mesmo os atos exteriores de bondade procedem de um coração corrompido, egoísta e rebelde contra Deus. Ele não tem uma mentalidade e um coração que se submeta a Deus de forma alguma.
De forma prática, a doutrina da depravação total, ensina que a maldade dos homens está inteiramente ligada ao pecado. Os homens não nascem bons e são corrompidos ao longo da vida (como defendia Rousseau). Por isso, em suma, todas as nossas debilidades, descaminhos e pecados são resultado direto da natureza caída. Nesse sentido, qualquer tentativa de correção que não inclua a necessidade de
arrependimento, não pode produzir efeitos a longo prazo. Por outro lado, em nossos relacionamentos, estamos sempre diante de alguém que, como nós, é um pecador amado profundamente por Cristo. Tratamos todas as pessoas com a mesma graça que foi estendida a todos nós por Jesus.
Eleição Incondicional
Romanos 8.29 Pois aqueles que Deus de antemão conheceu ele também predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos.
Se estamos totalmente depravados, como podemos nos livrar? Somente por meio da intervenção sobrenatural de Deus. Seu primeiro ato é a eleição incondicional de pecadores por sua graça soberana. Paulo ensina no texto acima que Deus conheceu pecadores de antemão e depois os predestinou para a salvação. John Piper definiu assim a eleição incondicional:
A eleição de Deus é um ato incondicional da graça livre, dada por meio de seu filho Jesus, antes de o mundo existir. Por meio deste ato, Deus escolheu, antes da fundação do mundo, aqueles que seriam libertos da escravidão ao pecado e levados ao arrependimento e à fé salvadora em Jesus.
Alguém pode dizer que o homem causa a eleição. Que o indivíduo, por vontade própria, escolhe a salvação em Cristo e por isso Deus o escolhe. Contudo, uma vez que, a condição dos homens é de “morto em delitos e pecados”, não existe nenhuma condição que ele possa satisfazer antes que Deus escolha salvar. No final, estamos diante da seguinte situação: ou nós escolhemos Deus livremente, ou Deus nos escolhe livremente. Alguém pode objetar dizendo: “mas é a fé?”. A fé não é condição para eleição, porém, a eleição é uma condição para a fé. Por ser uma declaração diferente do que estamos habituados a pensar devemos olhar para a Escritura.
Atos 13.48 Os gentios, ouvindo isto, se alegravam e glorificavam a palavra do Senhor. E creram todos os que haviam sido destinados para a vida eterna.
Efésios 1.4 Antes da fundação do mundo, Deus nos escolheu, nele, para sermos santos e irrepreensíveis diante dele. Em amor 5nos predestinou para ele, para sermos adotados como seus filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o propósito de sua vontade,
Indiscutivelmente, a passagem mais clara acerca da eleição é Romanos 9:
Romanos 9.11 E os gêmeos ainda não eram nascidos, nem tinham feito o bem ou o mal — para que o propósito de Deus, quanto à eleição, prevalecesse, não por obras, mas por aquele que chama —, 12quando foi dito a Rebeca: “O mais velho será servo do mais moço.” 13Como está escrito: “Amei Jacó, porém desprezei Esaú.” 14Que diremos, então? Que Deus é injusto? De modo nenhum! 15Pois ele diz a Moisés: “Terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia e terei compaixão de quem eu tiver compaixão.” 16Assim, pois, isto não depende de quem quer ou de quem corre, mas de Deus, que tem misericórdia. 17Porque a Escritura diz a Faraó: “Foi para isto mesmo que eu o levantei, para mostrar em você o meu poder e para que o meu nome seja anunciado em toda a terra.” 18Logo, Deus tem misericórdia de quem quer e também endurece a quem ele quer. 19Mas você vai me dizer: “Por que Deus ainda se queixa? Pois quem pode resistir à sua vontade?” 20Mas quem é você, caro amigo, para discutir com Deus? Será que o objeto pode perguntar a quem o fez: “Por que você me fez assim?”
Aqueles que desfrutam da verdade na eleição incondicional estão protegidos contra todas as formas de ensinos centrados no homem, os quais destroem gradualmente a igreja e a enfraquecem por dentro. Quando Deus é a principal realidade no Universo, mas é tratado como uma irrealidade, podemos temer profundamente a nossa situação. Além disso, a eleição incondicional reforça nosso desejo pelo evangelismo e as missões. De acordo com a Bíblia, o mundo é um cemitério, e estamos pregando para mortos, entretanto, cremos que Deus realmente ressuscita os mortos. Sabemos, também, que ele usa a pregação humana para fazer isso. A obra soberana de Deus em dar vida aos mortos é mediante a pregação espiritual da Palavra de Deus. Jesus disse: “Ainda tenho outras ovelhas, não deste aprisco. Preciso trazer também estas. Elas ouvirão a minha voz e, então, haverá um só rebanho e um só pastor.” (Jo 10.16). Finalmente, a eleição deve nos levar a adoração. Ela nos faz ver o quão insignificante e inadequado nós somos em nossos amores e em nossas capacidades. Em tudo, somos incondicionalmente dependentes de Deus.
Expiação Limitada
Romanos 8.28 Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito. 29Pois aqueles que Deus de antemão conheceu ele também predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. 30E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou. 31Que diremos, então, à vista destas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós? 32Aquele que não poupou o seu próprio Filho, mas por todos nós o entregou, será que não nos dará graciosamente com ele todas as coisas? 33Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica.
Quem são as pessoas que se destinam as promessas deste texto? A passagem, certamente, menciona um grupo definido de pessoas. Para essas pessoas a morte de Cristo é garantia absoluta e inabalável de que receberão com ele todas as coisas. Paulo denomina esses irmãos de “os eleitos de Deus”. Jesus afirmou:
João 10.14 Eu sou o bom pastor. Conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem, 15assim como o Pai me conhece, e eu conheço o Pai; e dou a minha vida pelas ovelhas.
O que Jesus está dizendo é que ele dá a sua vida por suas ovelhas. Em resumo, a sua vida será entregue para um grupo limitado de pessoas. A expiação de Cristo é limitada às suas ovelhas conhecidas desde a fundação do mundo. A expiação de Cristo é suficiente para todas as pessoas e eficiente para aqueles que ele salva. Alguns limitam o poder da expiação, condicionando-a a aceitação dos indivíduos. Mas a verdade é que ela não é limitada em seu valor e suficiência, todavia, limitada àqueles para os quais esse efeito salvador foi designado. Portanto, Cristo morreu por todos, mas não por todos da mesma forma.
John Piper explica: “se você dissesse que Cristo morreu da mesma maneira por todos os seres humanos, então... você creria que a morte de Cristo não garantiu decisivamente a salvação de ninguém; apenas tornou os homens salváveis, de modo que alguma outra coisa seria decisiva em salvá-los, ou seja, a sua escolha.”. Nesse caso, Jesus apenas possibilitou a salvação de pessoas. Afirmamos que na cruz Deus tinha em vista a salvação concreta e eficaz de suas ovelhas. Ele não criou uma possibilidade de salvação, mas comprou realmente e obteve infalivelmente para eles tudo que é necessário para a sua salvação.
Estas verdades nos fazem ver tudo na perspectiva dos propósitos soberanos de Deus. Tudo em nossa vida se relaciona com Deus. Ele é o começo, meio e fim de todas as coisas. Deus é aquele que dá significado a tudo. Perceber que o propósito de Deus sempre será realizado de acordo com a sua vontade nos faz ver o mundo dessa maneira. A realidade se torna supercarregada com Deus. Ele é a glória que permeia tudo que existe.
Graça Irresistível
Romanos 8.30 E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou. 31Que diremos, então, à vista destas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós?
Paulo afirma que não existe força capaz de resistir a Deus. Quando ele resolve salvar pessoas, nem mesmo essas pessoas podem impedir Deus de fazer o que ele intentou fazer. A resistência que todos os homens exercem diariamente contra Deus é vencida maravilhosamente pela graça salvadora de Deus, em favor de rebeldes indignos, os quais ele escolhe salvar. A doutrina da graça irresistível não significa que Deus não possa ser resistido, significa, que quando Deus quer, ele pode vencer qualquer resistência e tornar sua beleza irresistível.
Jesus asseverou que “Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia.” (Jo 6.44). obviamente, que Deus nunca força ninguém a se arrepender e crer contra a sua vontade. Essas coisas, para serem reais e verdadeiras, devem ser espontâneas. A graça não arrasta o indisposto para o reino; ela muda a disposição do coração.
A graça maravilhosa e irresistível de Deus me torna esperançoso de que Deus tenha a vontade, o direito e o poder de responder a oração, para que pessoas sejam mudadas. A segurança da oração é o fato de que Deus pode desfazer e mudar as coisas – inclusive o coração humano endurecido pelo pecado. Ele pode mudar as minhas vontades e as vontades daqueles que amo. Isso foi o que Deus fez por mim em resposta às orações de outras pessoas que me amavam. Isso é o que eu oro alegremente em favor de outros.
Deus tem o poder e o direito, não somente de curar enfermidades e alterar circunstâncias difíceis, mas também, de transformar soberanamente corações humanos. A graça irresistível é a grande esperança de todos aqueles que oram pela salvação e a mudança na sua própria vida e das pessoas que amam.
Perseverança dos Santos
Romanos 8.30 E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou.
Os justificados na atualidade serão glorificados no futuro. A questão é que o termo utilizado por Paulo para o fim dos crentes (glorificação) está no presente, ou seja, Deus está prometendo que fará algo no futuro que ele garante no presente. Ninguém deste grupo se perde. Pertencer a este povo significa, estar eternamente seguro. Todos os justificados vencerão a batalha da fé e não se renderão ao inimigo de suas almas. Esta perseverança é a promessa da nova aliança, obtida pelo sangue de Cristo e operada em nós pelo próprio Deus.
O ensino bíblico quer dizer que os santos têm de perseverar e que perseverarão na fé e na obediência que procede da fé. Nunca chegaremos a um ponto de renunciar a Cristo de tal forma que nunca retornemos, em vez disso, provaremos o amargo da deficiência da fé que professamos. O autor de Hebreus adverte:
Hebreus 3.12 Tenham cuidado, irmãos, para que nenhum de vocês tenha um coração mau e descrente, que se afaste do Deus vivo. 13Pelo contrário, animem uns aos outros todos os dias, durante o tempo que se chama “hoje”, a fim de que nenhum de vocês seja endurecido pelo engano do pecado.
Os eleitos não podem ser perdidos, porque pertencem a Deus, foram comprados pelo sangue de Cristo, contudo, nossa fé tem de permanecer até o fim, se devemos ser salvos. As obras de Deus fazem os eleitos perseverarem, portanto, devemos ser zelosos em confirmar nossa eleição (2 Pedro 1.10 Por isso, irmãos, procurem, com empenho cada vez maior, confirmar a vocação e a eleição de vocês; porque, fazendo assim, vocês jamais tropeçarão.).
Os crentes verdadeiros não vivem no pecado para sempre. Ao contrário, eles experimentam as angústias de sua luta constante contra a natureza pecaminosa. O papel da obediência na vida dos salvos é dar evidência de que sua fé é genuína. Não são as nossas obras que levam Deus a ser totalmente a nosso favor. Deus é favorável aos crentes pela fé em Cristo, isso os capacita as boas obras da lei. A obediência não garante nossa entrada no reino, a obediência é marca indelével de todos os que entraram no reino.
Conclusão
Deus não deixou o mundo perecer em seu pecado. Ele planejou, realizou e completará toda a sua obra de salvação para o seu povo e a sua criação. Deus faz isso com sabedoria, soberania e amor infinitos. Ele fez isso “para louvor da glória de sua graça, que ele nos concedeu gratuitamente no Amado” (Ef 1.6). Que a majestade e a doçura das doutrinas da graça de Deus sejam provadas por todos os crentes.
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