Confiantemente salvos
1 João 5.13 Estas coisas escrevi a vocês que creem no nome do Filho de Deus para que saibam que têm a vida eterna. 14E esta é a confiança que temos para com ele: que, se pedirmos alguma coisa segundo a sua vontade, ele nos ouve. 15E, se sabemos que ele nos ouve quanto ao que lhe pedimos, estamos certos de que obtemos os pedidos que lhe temos feito. 16Se alguém vê o seu irmão cometer pecado que não leva à morte, pedirá, e Deus dará vida a esse irmão. Isso aos que cometem pecados que não levam à morte. Há pecado que leva à morte, e por esse não digo que se deva pedir. 17Toda injustiça é pecado, e há pecado que não leva à morte. 18Sabemos que todo aquele que é nascido de Deus não vive em pecado, porque quem é nascido de Deus guarda a si mesmo, e o Maligno não pode tocar nele. 19Sabemos que somos de Deus e que o mundo inteiro jaz no Maligno. 20Também sabemos que o Filho de Deus já veio e nos tem dado entendimento para reconhecermos aquele que é o Verdadeiro. E nós estamos naquele que é o Verdadeiro, em seu Filho, Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna. 21Filhinhos, cuidado com os ídolos!
A perseverança dos santos é uma preciosa doutrina das Escrituras. Os crentes verdadeiros perseveraram até o fim e somente os que perseverarem são verdadeiros crentes. Nas palavras de John Piper “os santos têm de perseverar e perseverarão na fé e na obediência que procede da fé”. Isso não significa que os eleitos não enfrentarão lutas intensas contra o pecado em diversos momentos de sua vida, ao contrário, eles lutarão contra o pecado com arrependimento e fé.
Nesse sentido, se a perseverança é uma evidência da salvação, como podemos distinguir entre um crente genuíno que luta contra o pecado e alguém que nunca foi verdadeiramente salvo? Como a doutrina da perseverança dos santos nos encoraja a lidar com os momentos de dúvida e fraqueza em nossa fé?
A certeza da salvação não se baseia em sentimentos, mas na obra de Cristo e nas promessas de Deus. A salvação genuína produz frutos visíveis na vida dos eleitos: A obediência e o amor por Deus são evidências da salvação.
A certeza da salvação
O apóstolo João tratou do assunto em sua primeira carta. O tema segurança é dominante em sua correspondência. Para o apóstolo a segurança do crente é dupla: o cristianismo é a religião verdadeira e o crente é nascido de novo e possui a vida eterna. João está preocupado por que os seus “filhinhos” estão sendo envolvidos por falsos mestres (1 João 3.7 Filhinhos, não se deixem enganar por ninguém...) que negavam a encarnação de Jesus (1 João 4.2 Nisto vocês reconhecem o Espírito de Deus: todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus;). O apóstolo, portanto, coloca sua ênfase
em três marcas do cristianismo verdadeiro, a saber, fé no Cristo encarnado, obediência que provém da fé e o amor fraternal como resultado da obediência.
1 João 5.13 Estas coisas escrevi a vocês que creem no nome do Filho de Deus para que saibam que têm a vida eterna. 14E esta é a confiança que temos para com ele: que, se pedirmos alguma coisa segundo a sua vontade, ele nos ouve. 15E, se sabemos que ele nos ouve quanto ao que lhe pedimos, estamos certos de que obtemos os pedidos que lhe temos feito. 16Se alguém vê o seu irmão cometer pecado que não leva à morte, pedirá, e Deus dará vida a esse irmão. Isso aos que cometem pecados que não levam à morte. Há pecado que leva à morte, e por esse não digo que se deva pedir. 17Toda injustiça é pecado, e há pecado que não leva à morte. 18Sabemos que todo aquele que é nascido de Deus não vive em pecado, porque quem é nascido de Deus guarda a si mesmo, e o Maligno não pode tocar nele. 19Sabemos que somos de Deus e que o mundo inteiro jaz no Maligno. 20Também sabemos que o Filho de Deus já veio e nos tem dado entendimento para reconhecermos aquele que é o Verdadeiro. E nós estamos naquele que é o Verdadeiro, em seu Filho, Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna. 21Filhinhos, cuidado com os ídolos!
1) A segurança confiante dos crentes
1 João 5.13 Estas coisas escrevi a vocês que creem no nome do Filho de Deus para que saibam que têm a vida eterna.
João ressalta de maneira incontestável o propósito de sua carta. A epístola foi escrita a fim de saberdes que tendes a vida eterna. Os crentes tinham sido abalados pelos falsos mestres e ficaram inseguros quanto ao seu estado espiritual. Na epístola toda João ofereceu aos crentes critérios (doutrinário, moral e social) pelos quais, podem examinar-se e a outros. O seu propósito é afirmar a segurança deles. O anseio do apóstolo João quanto a seus “filhinhos” não é que creiam e recebam, mas que, tendo crido, saibam que receberam e, portanto, continuam tendo a vida eterna.
É comum, atualmente, censurar qualquer pretensão de segurança da salvação, repudiá-la como presunçosa, e afirmar que nenhuma certeza é possível. Contudo, certeza e humildade não se excluem mutuamente. O propósito de Deus para o seu povo não é somente que ouçam, creiam e vivam, mas também que tenham segurança em suas promessas. A presunção, então, está em duvidar da Sua palavra, não em confiar nela.
2) O exemplo da oração
14E esta é a confiança que temos para com ele: que, se pedirmos alguma coisa segundo a sua vontade, ele nos ouve. 15E, se sabemos que ele nos ouve quanto ao que lhe pedimos, estamos certos de que obtemos os pedidos que lhe temos feito.
Para provar o seu argumento, o autor inspirado oferece uma prova. Uma demonstração de que os crentes podem ter segurança. Ele passa para a segurança desfrutada pelo crente na oração respondida. Esta segurança não é tanto um conhecimento, mas comunhão com Ele que é a expressão da vida eterna sobre a qual João está escrevendo.
A condição, porém, é, se pedirmos alguma coisa segundo a sua vontade. A oração não é um recurso conveniente para impormos a nossa vontade a Deus, ou para dobrar a Sua vontade à nossa, mas, sim, o meio prescrito de subordinar a nossa vontade à de Deus. É pela oração que os eleitos buscam a vontade de Deus – apresentada em sua palavra de forma objetiva - , e se alinham com ela. Toda oração verdadeira é uma variação do tema, “Faça-se a tua vontade”. O Nosso Senhor nos ensinou a dizer isso, na oração modelo que nos deu, e acrescentou o supremo exemplo disso no Getsêmani.
3) O exemplo da disciplina.
16Se alguém vê o seu irmão cometer pecado que não leva à morte, pedirá, e Deus dará vida a esse irmão. Isso aos que cometem pecados que não levam à morte. Há pecado que leva à morte, e por esse não digo que se deva pedir. 17Toda injustiça é pecado, e há pecado que não leva à morte.
João, agora, oferece uma ilustração específica. Não se trata agora de um caso de petição, mas de intercessão. A certeza da vida eterna que o cristão deve desfrutar não o deve levar a preocupar-se consigo mesmo, negligenciando os outros. Ao contrário, ele precisa reconhecer o seu dever de cuidar com amor do seu irmão necessitado, quer seja material, quer espiritual, como aqui. O argumento do apóstolo é que se alguém vir a seu irmão cometer pecado – no contexto um pecado doutrinário - ele não pode simplesmente dizer, “acaso sou eu tutor de meu irmão?” (Gn 4.9) como disse Caim, e não fazer nada. Esta é a maneira de se lidar com o pecado na igreja local. E Deus ouve esse tipo de oração.
Contudo, nem todo pecador pode receber vida em resposta à oração. João traça uma distinção entre “pecado que não leva à morte” e “pecado que leva à morte”. Para aqueles que cometem o primeiro o cristão pode orar, e por meio da oração Deus lhe dará vida. Pelo último, João não manda orar. Certamente, ele não proíbe explicitamente essa oração, mas não a aconselha, pois evidentemente duvida da sua eficácia neste caso.
Então, qual é o pecado para morte? Sem dúvida, os leitores de João estavam familiarizados com a expressão. Num sentido, todo pecado é para morte, pois a morte é a pena para o pecado (Rm 6.23); mas aqui o apóstolo distingue entre pecado que é para morte e o que não é. Primeiro, é necessário ressaltar o que o apóstolo não pretendeu dizer. Ele não está ensinando a diferenciação casuística (A casuística surgiu no contexto do cristianismo primitivo, com os primeiros líderes da igreja buscando orientar os fiéis em relação a questões práticas da vida) entre pecados “capitais” e pecados “veniais” e a especificação dos “sete pecados capitais”. Mas não há nenhuma aprovação ou menção do N. T. em prol dessa classificação arbitrária de pecados.
Então o que o apóstolo está ensinando? Dentro do contexto de toda a sua carta, ele está mencionando a negação de Cristo e a renúncia da fé por parte dos falsos mestres. Essa advertência se aplica aos falsos mestres que de fato haviam repudiado tão evidentemente a verdade, que se retiraram definitivamente da igreja. Nos evangelhos Jesus denominou esse pecado de blasfêmia contra o Espírito Santo. Este pecado, cometido pelos fariseus, era uma deliberada e consciente rejeição da verdade conhecida. Atribuíam as poderosas obras de Jesus, evidentemente feitas "pelo Espírito de Deus (Mt 12:28), à ação de Belzebu. Tal pecado, disse Jesus, nunca seria perdoado, nem neste mundo nem no porvir. Este pecado o leva a um estado de embotamento moral e espiritual. Seu efeito será a ruína espiritual, a separação final da alma e Deus, que é a "segunda morte. É certo que outrora foram membros da igreja visível e sem dúvida passavam por “irmãos” nesse tempo. Mas saíram, e com a sua saída ficou evidente que eles nunca tinham sido “dos nossos” (1 Jo 2:19). Visto que rejeitaram o Filho, não tinham direito à vida. Seu pecado era realmente para morte.
4) Três afirmações
A epístola termina de modo característico. Toda ela esteve interessada na segurança cristã. Assim, o autor conclui com a afirmação de três claras e cândidas certezas, cada qual introduzida por: sabemos (Não há aqui sugestões, tentativas ou hesitação, mas afirmações cristãs intrépidas, dogmáticas, que estão além de toda discussão).
Primeiro “sabemos”: 18Sabemos que todo aquele que é nascido de Deus não vive em pecado, porque quem é nascido de Deus guarda a si mesmo, e o Maligno não pode tocar nele.
A passagem não admite exceção. Aquele que foi gerado por Deus continua sendo filho de Deus, com privilégios e obrigações permanentes e irrevogáveis. Uma destas obrigações vem expressa na frase, “não vive em pecado”. O tempo do verbo é o presente e implica em continuidade, hábito ou permanência. O novo nascimento resulta em novo comportamento. O pecado e o filho de Deus são incompatíveis. Podem encontrar-se ocasionalmente; não podem conviver em harmonia.
Segundo “sabemos”: 19Sabemos que somos de Deus e que o mundo inteiro jaz no Maligno.
Em terrível contraste com os nascidos de Deus, “o mundo inteiro jaz na maligno”. João não diz que o mundo é "do" maligno, mas, que está “no maligno” - em suas mãos e sob o seu domínio. O maligno não toca no cristão, mas o mundo está irremediavelmente em suas garras. A alternativa inflexível é declarada cruamente. Cada pessoa pertence ou a Deus ou ao mundo. Não há uma terceira categoria.
Hoje em dia, quando a linha de demarcação entre a igreja e o mundo anda confusa, é importante reaprender que todos, menos os que tiveram nascimento celestial, estão sob a autoridade e o poder dos “dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal” (Ef 6:12) e do seu chefe, o deus e príncipe deste mundo.
Terceiro “sabemos”: 20Também sabemos que o Filho de Deus já veio e nos tem dado entendimento para reconhecermos aquele que é o Verdadeiro. E nós estamos naquele que é o Verdadeiro, em seu Filho, Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna.
A terceira afirmação é a mais fundamental das três. Ela mina toda a estrutura da teologia dos hereges. Diz respeito ao Filho de Deus, exclusivamente, por meio de quem podemos ser salvos do maligno e libertados do mundo. A revelação e a redenção são Sua obra de graça. Sem Ele, não poderíamos nem conhecer a Deus nem vencer o pecado.
O evangelho cristão não tem que ver apenas com a verdade de que Cristo nos tem dado certas coisas, mas que Ele já veio (e voltará). De acordo com João, o que Ele nos tem dado é entendimento, o poder ou capacidade de saber para reconhecermos o verdadeiro. Deste modo, as duas primeiras sentenças do versículo 20 ensinam a necessidade da mediação de Jesus, tanto para o conhecimento de Deus como para a comunhão com Deus. O Deus feito conhecido por Jesus Cristo (comunhão), é que é o verdadeiro Deus (conhecimento), e que, além disso, Ele é a vida eterna.
5) Uma exortação.
21Filhinhos, cuidado com os ídolos!
A exortação final se baseia nas três grandes certezas que acabou de exprimir. O dever, guardai-vos dos ídolos, surge naturalmente da condição e caráter do verdadeiro
cristão, que ele esteve expondo. O Filho de Deus o guardará (18), mas isto não o isenta da responsabilidade de guardar-se. O conhecimento do verdadeiro Deus e a comunhão com Ele são incoerentes com o culto a idolos.
A doutrina da perseverança dos santos
A confissão de fé de Londres de 1689 afirma:
Esta perseverança não depende de um livre-arbítrio da parte dos santos; mas, sim, decorre da imutabilidade do decreto da eleição, fluindo do amor gratuito e inalterável de Deus Pai, sobre a eficácia do mérito e da intercessão de Jesus Cristo; da união com Ele; do juramento de Deus; da habitação de seu Espírito e da semente de Deus dentro neles; da natureza do pacto da graça. De tudo isso decorrem também a certeza e a infalibilidade da perseverança dos santos.
John Piper acrescenta: “Essa perseverança é a promessa da nova aliança, obtida pelo sangue de Cristo e operada em nós pelo próprio Deus, não para diminuir, mas para estimular e dar poder à nossa vigilância; para que digamos no final: combati o bom combate; não eu, mas a graça de Deus comigo (2Tm 4.7;1 Co 15.10).
Wayne Grudem afirma: Se você tem confiança na obra de Cristo em seu favor, a certeza na capacidade de Cristo de suportar a pena pelos seus pecados e de confiar que Cristo pode levá-lo até o céu fundamentado apenas na obra dele, e não na sua obra, então, essa confiança é uma garantia de uma fé verdadeira.
Ele complementa: Além disso, deve haver mostras de um relacionamento continuo e presente com Jesus Cristo. [...] Uma vida perfeita não é necessária, mas uma verdadeira vida cristã demonstrará obediência aos mandamentos e imitação da vida de Cristo.
Os frutos da perseverança
Do que consideramos na passagem da Escritura registrada pelo apóstolo João, concluímos:
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● A nossa fé tem que permanecer se devemos ser salvos. Os crentes não podem agir com indiferença para com o chamado bíblico a perseverança. Existe um combate da fé para ser realizado.
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● A obediência – que evidencia o novo nascimento – é necessário para a salvação final. A salvação exige que os crentes sejam moralmente diferentes – alinhados com os mandamentos de Deus – e andem em novidade de vida. Deus não espera perfeição dos eleitos, mas que odeiam o pecado.
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● Deus opera nos eleitos para que perseverem. Umas das mais preciosas e incríveis promessas da nova aliança é o compromisso de Deus em conduzir os crentes até o fim. Paulo afirmou: “Estou certo de que aquele que começou boa obra em vocês há de completá-la até o Dia de Cristo Jesus” (Fp 1.6).
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● Os crentes devem ser zelosos em confirmar a sua eleição. Fazemos nossos melhores esforços para crescermos e cremos profundamente nas promessas e no poder que o pecado é mortificado em nossa vida pelo Espírito Santo.
● A perseverança é uma obra em comunidade. Deus nunca projetou que lutássemos sozinhos a batalha da fé. Devemos lutar uns pelos outros. Deus envia a sua Palavra por meio de irmãos em nossa vida.
Conclusão
A certeza da graça de Deus, que cumpre a aliança com os eleitos, é um fundamento muito maior, mais forte e mais prazeroso do que qualquer opinião de segurança eterna que a torna impessoal, descuidada e automática. Que Deus o aprofunde cada vez mais na graça divina da perseverança.
Que mensagem poderosa. Glória a Deus.
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