Conversão



Gênesis 27.41 Esaú passou a odiar Jacó por causa da bênção com que seu pai o tinha abençoado. E disse em seu íntimo: — Os dias de luto por meu pai se aproximam; então matarei meu irmão Jacó. 42Chegaram aos ouvidos de Rebeca estas palavras de Esaú, seu filho mais velho. Então ela mandou chamar Jacó, seu filho mais moço, e lhe disse: — Eis que o seu irmão Esaú se consola fazendo planos para matá-lo. 43Agora, pois, meu filho, ouça bem o que vou dizer: levante-se e fuja para a casa de Labão, meu irmão, em Harã. 44Fique com ele alguns dias, até que passe o furor de seu irmão, 45e cesse o rancor dele contra você, e se esqueça do que você lhe fez. Quando isso acontecer, enviarei alguém para trazer você de volta. Não posso perder os meus dois filhos num só dia! 46Então Rebeca disse a Isaque: — Estou aborrecida da vida por causa das filhas de Hete. Se Jacó tomar esposa dentre as filhas de Hete, tais como estas, as filhas desta terra, de que me servirá a vida? 28.1Isaque chamou Jacó e, dando-lhe a sua bênção, lhe ordenou, dizendo: — Não escolha uma esposa dentre as filhas de Canaã. 2Levante-se e vá a Padã-Arã, à casa de Betuel, pai de sua mãe, e tome lá por esposa uma das filhas de Labão, irmão de sua mãe. 3Que o Deus Todo-Poderoso o abençoe, faça com que seja fecundo e o multiplique para que você venha a ser uma multidão de povos. 4Que ele lhe dê a bênção de Abraão, a você e à sua descendência, para que você possua a terra de suas peregrinações, concedida por Deus a Abraão. 5Assim, Isaque despediu Jacó, que se foi a Padã-Arã, à casa de Labão, filho de Betuel, o arameu, irmão de Rebeca, mãe de Jacó e de Esaú. 6Esaú viu que Isaque havia abençoado Jacó e o havia mandado a Padã-Arã, para tomar de lá esposa para si, e que, ao abençoá-lo, lhe havia ordenado que não escolhesse uma esposa dentre as filhas de Canaã. 7Soube também que Jacó, obedecendo ao seu pai e à sua mãe, havia ido a Padã-Arã. 8Sabendo também que Isaque, seu pai, não via com bons olhos as filhas de Canaã, 9Esaú foi à casa de Ismael e, além das mulheres que já tinha, tomou por mulher Maalate, filha de Ismael, filho de Abraão, e irmã de Nebaiote. 10Jacó partiu de Berseba e seguiu para Harã. 11Quando chegou a certo lugar, ali passou a noite, porque o sol já se havia posto. Pegou uma das pedras do lugar, fez dela o seu travesseiro e se deitou ali mesmo para dormir. 12E sonhou: Eis que estava posta na terra uma escada cujo topo atingia o céu, e os anjos de Deus subiam e desciam por ela. 13E eis que o Senhor estava perto dele e lhe disse: — Eu sou o Senhor, Deus de Abraão, seu pai, e Deus de Isaque. A terra em que agora você está deitado, eu a darei a você e à sua descendência. 14A sua descendência será como o pó da terra; você se estenderá para o oeste e para o leste, para o norte e para o sul. Em você e na sua descendência serão benditas todas as famílias da terra. 15Eis que eu estou com você e o guardarei por onde quer que você for. Farei com que você volte para esta terra, porque não o abandonarei até que eu cumpra aquilo que lhe prometi. 16Quando Jacó despertou do sono, disse: — Na verdade, o Senhor está neste lugar, e eu não o sabia. 17E, temendo, disse: — Quão temível é este lugar! É a casa de Deus, a porta dos céus. 18Na manhã seguinte, Jacó levantou-se de madrugada, pegou a pedra que havia usado como travesseiro e a pôs em pé como coluna. E sobre o topo dela derramou azeite. 19E ao lugar, cidade que antes se chamava Luz, deu o nome de Betel. 20Jacó fez também um voto, dizendo: — Se Deus for comigo, e me guardar nesta jornada que empreendo, e me der pão para comer e roupa para vestir, 21de maneira que eu volte em paz para a casa de meu pai, então o Senhor será o meu Deus; 22e a pedra, que pus como coluna, será a casa de Deus; e, de tudo o que me concederes, certamente te darei o dízimo.

Deus fala ao Jacó eleito numa sublime visão, em meio às ameaças de morte de seu irmão, às maquinações de sua mãe e ao desgosto do pai. Apesar de sua pecaminosidade e fraqueza, Jacó reconhece a presença incrível de Deus e adquire sensibilidade espiritual para responder com paixão e humildade. Numa atitude de adoração, ele escolhe símbolos para lembrar o evento.

O cenário do encontro de Deus com Jacó corresponde à sua condição psicológica. Ele se encontra entre um campo de morte e um campo de trabalho forçado. Quando o Deus dos pais lhe aparece com garantias de sua presença, Jacó adora. Esse evento dá um novo sentido à sua jornada e inicia a transformação do seu caráter.

Mas será que alguma transformação autêntica e definitiva é possível? O que a Bíblia diz a respeito da transformação pessoal, profunda, autêntica? Estamos falando sobre a transformação que ocorre na conversão - um entendimento bíblico da conversão é uma das características de uma igreja saudável. Nosso propósito será considerar o que é a conversão bíblica.

A fuga de Jacó

O autor, antes de narrar o encontro de Jacó com Deus, dedica-se a apresentar o colapso dos seus vínculos familiares.

1. Rebeca aconselha Jacó a fugir e manipula Isaque. 27.41-46

Gênesis 27.41 Esaú passou a odiar Jacó por causa da bênção com que seu pai o tinha abençoado. E disse em seu íntimo: — Os dias de luto por meu pai se aproximam; então matarei meu irmão Jacó. 42Chegaram aos ouvidos de Rebeca estas palavras de Esaú, seu filho mais velho. Então ela mandou chamar Jacó, seu filho mais moço, e lhe disse: — Eis que o seu irmão Esaú se consola fazendo planos para matá-lo. 43Agora, pois, meu filho, ouça bem o que vou dizer: levante-se e fuja para a casa de Labão, meu irmão, em Harã. 44Fique com ele alguns dias, até que passe o furor de seu irmão, 45e cesse o rancor dele contra você, e se esqueça do que você lhe fez. Quando isso acontecer, enviarei alguém para trazer você de volta. Não posso perder os meus dois filhos num só dia! 46Então Rebeca disse a Isaque: — Estou aborrecida da vida por causa das filhas de Hete. Se Jacó tomar esposa dentre as filhas de Hete, tais como estas, as filhas desta terra, de que me servirá a vida?

41 Esaú passou a odiar Jacó por causa da bênção com que seu pai o tinha abençoado. E disse em seu íntimo: — Os dias de luto por meu pai se aproximam; então matarei meu irmão Jacó. O assassinato no coração de Esaú (fratricídio) identifica-o como a semente da serpente, assim como marcou Caim e Lameque.

44 Fique com ele alguns dias, até que passe o furor de seu irmão, 45e cesse o rancor dele contra você, e se esqueça do que você lhe fez. Quando isso acontecer, enviarei alguém para trazer você de volta. Não posso perder os meus dois filhos num só dia! O exílio de Jacó durou 20 anos.

45... Não posso perder os meus dois filhos num só dia! Ironicamente, ela sofre ainda mais do que espera, seu relacionamento com Esaú foi prejudicado de forma irrevogável, e ela nunca mandou chamar Jacó de seu exílio em Padã-Arã. Apesar de frustrar a determinação violenta de Esaú, Rebeca é obrigada a suportar as consequências amargas de sua fraude.

46 Então Rebeca disse a Isaque: — Estou aborrecida da vida por causa das filhas de Hete. Se Jacó tomar esposa dentre as filhas de Hete, tais como estas, as filhas desta terra, de que me servirá a

vida? Rebeca age em prol de Jacó: Ela confere à sua fuga uma aparência de legitimidade. A linguagem manipulativa de Rebeca para poupar Jacó mais uma vez manifesta a pobreza do relacionamento de Isaque e Rebeca. Isaque e Rebeca não parecem capazes de se comunicar honestamente um com o outro.

46... Estou aborrecida da vida por causa das filhas de Hete. A questão é pureza versus sincretismo religioso. As mulheres canaanitas tinham a tendência de manipular seus maridos para adorar seus deuses, ao passo que as fenícias (caso das filhas de Labão) adoravam os deuses de seus maridos.

2. Isaque abençoa Jacó. Esaú manifestasua incredulidade. 28.1-9

28.1 Isaque chamou Jacó e, dando-lhe a sua bênção, lhe ordenou, dizendo: — Não escolha uma esposa dentre as filhas de Canaã. 2Levante-se e vá a Padã-Arã, à casa de Betuel, pai de sua mãe, e tome lá por esposa uma das filhas de Labão, irmão de sua mãe. 3Que o Deus Todo-Poderoso o abençoe, faça com que seja fecundo e o multiplique para que você venha a ser uma multidão de povos. 4Que ele lhe dê a bênção de Abraão, a você e à sua descendência, para que você possua a terra de suas peregrinações, concedida por Deus a Abraão. 5Assim, Isaque despediu Jacó, que se foi a Padã-Arã, à casa de Labão, filho de Betuel, o arameu, irmão de Rebeca, mãe de Jacó e de Esaú. 6Esaú viu que Isaque havia abençoado Jacó e o havia mandado a Padã-Arã, para tomar de lá esposa para si, e que, ao abençoá-lo, lhe havia ordenado que não escolhesse uma esposa dentre as filhas de Canaã. 7Soube também que Jacó, obedecendo ao seu pai e à sua mãe, havia ido a Padã-Arã. 8Sabendo também que Isaque, seu pai, não via com bons olhos as filhas de Canaã, 9Esaú foi à casa de Ismael e, além das mulheres que já tinha, tomou por mulher Maalate, filha de Ismael, filho de Abraão, e irmã de Nebaiote.

O texto apresenta o contraste marcante entre os dois personagens: Jacó recebe a bênção de Abraão, enquanto que Esaú evidencia o motivo de ter sido rejeitado por Deus.

28.1Isaque chamou Jacó e, dando-lhe a sua bênção... Por meio desse ato, Isaque publicamente, reconhece Jacó como o verdadeiro herdeiro da bênção de Abraão.

3Que o Deus Todo-Poderoso o abençoe, faça com que seja fecundo e o multiplique para que você venha a ser uma multidão de povos. 4Que ele lhe dê a bênção de Abraão, a você e à sua descendência, para que você possua a terra de suas peregrinações, concedida por Deus a Abraão. A bênção é uma expressão renovada da aliança com Abraão em 17.1-8. Ele agora menciona explicitamente a descendência numerosa e a terra especificadas na bênção de Abraão.

3... uma multidão de povos. A expressão significa uma comunidade de nações descendentes do patriarca. O cumprimento definitivo dessa profecia encontra-se em Cristo e em sua igreja.

6Esaú viu... 7Soube também... 8Sabendo também... 9Esaú foi... Esaú é uma figura de ironia trágica. A despeito de seu desejo de fazer parte da família e de agradar ao pai, falta-lhe aquela perspicácia espiritual que o conectaria à linhagem de Deus.

9Esaú foi à casa de Ismael e, além das mulheres que já tinha, tomou por mulher Maalate, filha de Ismael, filho de Abraão, e irmã de Nebaiote. Sua jornada é uma paródia da viagem de Jacó. Ismael é a descendência natural rejeitada de Abraão. É incrível, mas é apenas agora que ele reconhece que se casar com mulheres canaanitas não é apropriado em sua família.

3. O início da peregrinação de Jacó. 28.10-22

10Jacó partiu de Berseba e seguiu para Harã. 11Quando chegou a certo lugar, ali passou a noite, porque o sol já se havia posto. Pegou uma das pedras do lugar, fez dela o seu travesseiro e se deitou ali mesmo para dormir. 12E sonhou: Eis que estava posta na terra uma escada cujo topo atingia o céu, e os anjos de Deus subiam e desciam por ela. 13E eis que o Senhor estava perto dele e lhe disse: — Eu sou o Senhor, Deus de Abraão, seu pai, e Deus de Isaque. A terra em que agora você está deitado, eu a darei a você e à sua descendência. 14A sua descendência será como o pó da terra; você se estenderá para o oeste e para o leste, para o norte e para o sul. Em você e na sua descendência serão benditas todas as famílias da terra. 15Eis que eu estou com você e o guardarei por onde quer que você for. Farei com que você volte para esta terra, porque não o abandonarei até que eu cumpra aquilo que lhe prometi. 16Quando Jacó despertou do sono, disse: — Na verdade, o Senhor está neste lugar, e eu não o sabia. 17E, temendo, disse: — Quão temível é este lugar! É a casa de Deus, a porta dos céus. 18Na manhã seguinte, Jacó levantou-se de madrugada, pegou a pedra que havia usado como travesseiro e a pôs em pé como coluna. E sobre o topo dela derramou azeite. 19E ao lugar, cidade que antes se chamava Luz, deu o nome de Betel. 20Jacó fez também um voto, dizendo: — Se Deus for comigo, e me guardar nesta jornada que empreendo, e me der pão para comer e roupa para vestir, 21de maneira que eu volte em paz para a casa de meu pai, então o Senhor será o meu Deus; 22e a pedra, que pus como coluna, será a casa de Deus; e, de tudo o que me concederes, certamente te darei o dízimo.

10Jacó partiu de Berseba e seguiu para Harã. Isaque enfrenta um perigo ainda maior do que o de seu avô Abraão, a quem precedeu cerca de 125 anos naquela longa e difícil jornada. Se Abraão percorreu um caminho árduo, o de Isaque se mostra mais ameaçador: em Berseba, Esaú o aguarda como um leão faminto; em Harã, Labão prepara sua armadilha para aprisionar e consumir suas vítimas.

12E sonhou: Eis que estava posta na terra uma escada cujo topo atingia o céu, e os anjos de Deus subiam e desciam por ela. Em um encontro surpreendente e fortuito, Deus toma a iniciativa de se revelar a Jacó por meio de um sonho. Nele, uma escada celestial conecta o céu e a terra, servida e transitada por anjos, com o Senhor no topo, manifestando sua majestade. Essa revelação divina irrompe na vida de Jacó sem qualquer esforço ou manipulação de sua parte. O sonho em si é a promessa de um futuro na presença de Deus. Assim, em um lugar comum, de maneira inesperada e fora dos planos de Jacó, Deus, em sua soberania, decide se apresentar a ele.

12... uma escada... A escada, diferente da torre construída pelos rebeldes em Gênesis 11:4 que buscavam o céu por iniciativa humana, é aqui apresentada como algo que desce do alto, originária de Deus, assemelhando-se a um zigurate. Desse modo, a ligação entre o céu e a terra se estabelece pela graça divina.

12... os anjos de Deus... Os anjos são “espíritos ministradores, enviados para serviço a favor dos que hão de herdar a salvação” (Hb 1.14). Os anjos sugerem que o Senhor, que torna sua

presença conhecida em Betel, também estará com Jacó por meio de seus mensageiros angelicais.

13... Eu sou o Senhor, Deus de Abraão, seu pai, e Deus de Isaque. A teofania lembra as promessas que capacitaram uma mulher infértil (Sara) a ter um filho, um refugiado sem- terra (Isaque) a se tornar forte e rico, Jacó, como o portador da bênção, é o herdeiro da aliança de Abraão.

Os termos da promessa:

  • ●  13...eu a darei... A salvação é um presente surpreendente de Deus, que não se recebe por meio de manipulação humana.

  • ●  14... Em você e na sua descendência serão benditas todas as famílias da terra. A eleição particular da semente eleita sempre está ligada à sua importância universal.

  • ●  15Eis que eu estou com você... Deus graciosamente concede garantias íntimas a Jacó para sustentar sua fé.

  • ●  15... o guardarei por onde quer que você for... Deus promete preservação e proteção.

  • ●  15...Farei com que você volte para esta terra... Deus promete o seu retorno - seus pecados causaram sua partida de Canaã; Yahweh determinará e orientará sua volta

    no futuro.

●  15... porque não o abandonarei até que eu cumpra aquilo que lhe prometi. Deus está ligado às suas promessas.

16 Quando Jacó despertou do sono, disse: — Na verdade, o Senhor está neste lugar, e eu não o sabia. 17E, temendo, disse: — Quão temível é este lugar! É a casa de Deus, a porta dos céus. 18Na manhã seguinte, Jacó levantou-se de madrugada, pegou a pedra que havia usado como travesseiro e a pôs em pé como coluna. E sobre o topo dela derramou azeite. 19E ao lugar, cidade que antes se chamava Luz, deu o nome de Betel.

Betel, a porta divina entre o céu e a terra, tipifica Jesus Cristo, o único “mediador entre Deus e os homens” (1 Tm 2:5) que concede acesso ao Pai através do seu Espírito. Os eleitos não necessitam nem devem aguardar experiências semelhantes às narradas nesta ou em qualquer outra passagem bíblica. Os escolhidos se contentam em receber a presença do Espírito Santo, sua sagrada palavra e o testemunho do seu povo. A relação dos salvos com Deus se estabelece pela fé.

17E, temendo, disse: — Quão temível é este lugar! A reação de Jacó à revelação divina se distingue da de Abraão e Isaque. É possível que seu medo decorra da consciência de ter prejudicado seu pai e irmão, similar ao temor de Adão após o pecado. Contudo, um temor reverente diante da presença de Deus, como demonstrado por Jacó, em alguma medida é adequado.

17... É a casa de Deus, a porta dos céus. O lugar até então anônimo e aparentemente insignificante torna-se a casa de Deus.

18Na manhã seguinte, Jacó levantou-se de madrugada, pegou a pedra que havia usado como travesseiro e a pôs em pé como coluna. E sobre o topo dela derramou azeite. A coluna funciona como uma testemunha e um monumento para a escada do céu e para o Senhor acima dela. Essa coluna comemora a teofania e as promessas do Senhor.

19E ao lugar, cidade que antes se chamava Luz, deu o nome de Betel. Betel. O nome significa “casa [bêt] de Deus [el]”.

20Jacó fez também um voto, dizendo: — Se Deus for comigo, e me guardar nesta jornada que empreendo, e me der pão para comer e roupa para vestir, 21de maneira que eu volte em paz para a casa de meu pai, então o Senhor será o meu Deus...

A jornada de Jacó, inicialmente uma fuga da ameaça de morte e uma busca por uma esposa aprovada pelos pais, é transformada em uma peregrinação de significado espiritual. Embora o destino e o propósito permaneçam os mesmos, Jacó agora viaja como depositário das promessas divinas, assegurado do auxílio de Deus. Guiado pelas bênçãos divinas em sua jornada, Jacó, em contrapartida, dedica sua vida - por meio de um voto - a Yahweh como seu Deus.

20Jacó fez também um voto...

O Antigo Testamento valoriza os votos, encarando-os como meio de assegurar o auxílio divino em momentos de dificuldade, oferecendo um acesso especial a Deus. Os votos eram essenciais na adoração israelita. A lei mosaica contemplava sacrifícios votivos (Lv 7.16; Nm 30.1-15) e os salmistas frequentemente realizavam ou cumpriam votos em suas súplicas e ações de graça. Apesar de não serem obrigatórios, uma vez feitos, os votos

exigiam cumprimento. Contudo, considerando que Jesus assegura o acesso especial dos crentes a Deus e que o N. T. não apresenta ensinamentos específicos sobre o tema ou práticas de cristãos fazendo votos em relação a pedidos pessoais, a igreja deve evitar tal prática.

22... e, de tudo o que me concederes, certamente te darei o dízimo. A promessa do dízimo de Jacó marca um momento importante em sua transformação: ele não é mais agarrador, mas doador. Jacó pretende pagar seu dízimo regularmente, não apenas como oferta votiva única. Jacó acertadamente entendeu que o seu dízimo não era uma oferta, mas uma devolução.

Desde a antiguidade, as pessoas têm reconhecido que é apropriado dar a Deus no mínimo um dízimo de sua renda. Malaquias adverte os seus contemporâneos que dar a Deus menos que o dízimo significa roubá-lo (Ml 3.6-12). Enquanto Jesus considera o dízimo uma questão menos importante da lei do que demonstrar justiça, misericórdia e fidelidade, ele mesmo assim diz: “Devíeis fazer estas coisas, sem omitir aquelas” (Mt 23.23). Contudo, após Cristo enviar o Espírito Santo, seus apóstolos incrementaram o princípio do dízimo com um padrão espiritual mais elevado: O povo de Deus dá a si mesmo a Deus (Rm 12.1-2); devolve bênçãos materiais àqueles que trazem bênçãos espirituais (1Co 9.6-18) e generosamente contribui com outros santos (2Co 8.1-15). O princípio agora é: “aquele que semeia pouco, pouco também ceifará; e o que semeia com fartura, com abundância também ceifará” (Gl 6.9). Os cristãos devem fazê-lo com proporcionalidade (o princípio dos 10%), regularidade, generosidade e alegria (1Co 16.1-3). Os apóstolos nunca instruíram ou motivaram as pessoas a dar com base em uma obrigação ou troca, mas com base na graça recebida de Deus. Nossa prática deveria refletir a generosidade abundante exigida no N. T..

A doutrina da conversão

Efésios 2.8 Porque pela graça vocês são salvos, mediante a fé; e isto não vem de vocês, é dom de Deus; 9não de obras, para que ninguém se glorie. 10Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas.

Ao ter seus olhos espirituais abertos, Jacó percebe que seu local de descanso, antes considerado árido, torna-se um santuário dedicado a Deus. Ao longo da história de Israel, o templo original foi primeiramente substituído por uma tenda-santuário móvel, adequada às

suas jornadas, e posteriormente por um templo fixo de pedra e cedro, mais apropriado para o seu estabelecimento na terra. Em Cristo e sua igreja, esses templos provisórios alcançam sua plena realização.

A Bíblia pinta um quadro sombrio da nossa existência. Em Efésios 2:1-3, Paulo declara que a humanidade está morta espiritualmente, escravizada pela carne, o mundo e o diabo e sob a justa condenação. Somente a intervenção divina, ao nos conceder a visão, revela o poder transformador da presença de Deus em nós.

A mera percepção da presença divina altera o significado e o sentido de nossa existência. Em vez de um andar sem rumo, nossa existência configura-se como uma peregrinação rumo à cidade santa, na companhia do Deus santo (Hb 12.22-24). A história bíblica é marcada por transformações radicais resultantes da presença de Deus, fenômeno que chamamos de conversão.

No texto de Efésios, Paulo apresenta os elementos da conversão:

1. A fonte da conversão: Efésios 2.8 Porque pela graça vocês são salvos, mediante a fé; e isto não vem de vocês, é dom de Deus; 9não de obras, para que ninguém se glorie.

A conversão é um ato unicamente divino. A capacidade ou o esforço humano são insuficientes para produzi-la. Ela implica uma transformação profunda do coração, efetuada exclusivamente pelo Espírito de Deus. Necessitamos de uma nova vida, de sermos libertos da escravidão espiritual e absolvidos da condenação, o que só é possível pela graça divina, através da proclamação da mensagem de Cristo.

2. A natureza da conversão: Efésios 2.8 Porque pela graça vocês são salvos, mediante a fé; e isto não vem de vocês, é dom de Deus; 9não de obras, para que ninguém se glorie.

Paulo contrapõe a salvação pela lei, que exige obediência total aos mandamentos divinos, à salvação pela graça, que se alcança unicamente pela fé em Cristo. Assim, conversão não se trata de adotar novas condutas morais, mudar de igreja ou aprimorar habilidades. A verdadeira conversão implica renunciar a qualquer esforço inútil de justificação pelas obras da lei e depositar total confiança em Cristo.

3. Os resultados da conversão: 10Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas.

A conversão, se compreendida como ato nosso, permanece incompreendida. Contudo, ela abrange nossas ações. É necessário um comprometimento sincero e uma escolha deliberada de renunciar aos pecados. Fé e arrependimento são indissociáveis; não há fé sem arrependimento, nem arrependimento verdadeiro sem fé. O arrependimento reside no coração e implica uma decisão integral do indivíduo de desviar-se do pecado.

Portanto, conversão é melhor definida como a resposta voluntária e espontânea à oferta da graça divina, na qual indivíduos se arrependem genuinamente de seus pecados e depositam sua fé em Cristo para a salvação.

Vivendo como convertido

As três ênfases teológicas de Gênesis:

  • ●  DEUS - A presença de Deus não significa uma vida fácil, mas uma vida por meio da qual o eleito é aperfeiçoado por Deus.

    A narrativa bíblica apresenta o exílio de Jacó – apesar da presença divina – como um período marcado por intensas aflições e numerosas injustiças perpetradas por Labão. Se Deus recompensasse nosso desempenho imediatamente aliviando o sofrimento, haveria uma confusão entre moralidade (obediência) e prazer, e Deus seria utilizado para satisfazer desejos egoístas. A ética se fundamentaria no eudemonismo (a prática do bem visando uma retribuição), e não no serviço abnegado como forma de agradar a Deus. Ao separar o veredito do desempenho, Deus possibilita que o crente desenvolva virtudes espirituais como fé, perseverança, caráter e esperança, independentemente da aceitação divina.

  • ●  GRAÇA - A manifestação da graça de Deus é completamente imerecida e incondicional.

    Jacó não demonstrou nenhum mérito ou ser particularmente dedicado a buscar a Deus em seus momentos de aflição. Apesar disso, Deus o surpreendeu ao ir ao seu encontro com uma hoste celestial completa. Essa ação divina foi totalmente inesperada e incondicional, desprovida de qualquer censura ou demanda. Em vez disso, manifestou- se uma abundância de promessas emanando da declaração central: "Eu sou o Senhor".

Muitos argumentam que qualquer transformação ou conversão deve ser meramente uma alteração que nos impulsione a alcançar nosso potencial, fortalecendo-nos, e jamais nos modificar essencialmente ou nos convencer do erro. Contudo, a Bíblia declara que a mudança necessária não reside em autodescoberta, mas sim em uma reorientação (mudança completa de rumo). A palavra “arrependimento” denota literalmente uma mudança de direção. Implica desviarmo-nos de nossos pecados em direção ao único Deus verdadeiro. Abandonar a presunção de nossa autossuficiência (eficiência) e a ilusão de controle, reconhecendo que pertencem exclusivamente a Deus. Nossa existência presente carece de uma reorientação fundamentada na graça imerecida de Deus.

● HOMEM - A verdadeira mudança que necessitamos é a conversão de adorarmos a nós mesmos para a adoração a Deus.

O coparticipante divino da aliança compromete-se a estar presente, preservar e proteger seu eleito até ele retornar em segurança para a Terra Prometida. O peregrino obriga-se a vir à casa de Deus para adorá-lo e trazer-lhe o dízimo. A verdadeira adoração consiste em mais do que sentimentos espirituais interiores. Ela se expressa em atos de adoração corporativos, públicos e tangíveis.

A conversão genuína implica um retorno a Deus, à Sua Palavra e à comunidade cristã. A incompreensão desse conceito bíblico leva a igrejas cheias de indivíduos que, apesar da frequência e participação ativa, e do uso da linguagem religiosa, não vivenciaram o poder transformador do Evangelho. Consequentemente, observa-se o aumento de divórcios, a persistência de escândalos e o enfraquecimento da vida espiritual (caracterizada pela oração, estudo bíblico e comunhão).

Se a conversão é fruto da graça de Deus por meio da pregação do evangelho, então a nossa única alternativa é resgatar a proclamação do evangelho por meio de crentes verdadeiramente convertidos e assim, experimentaremos a grande conversão que tanto ansiamos.

Conclusão

A verdadeira conversão, conforme demonstrada na história de Jacó, é uma transformação profunda e genuína iniciada pela graça divina, que resulta em uma vida de adoração e serviço a Deus, marcada pela fé, arrependimento e compromisso com a comunidade cristã. Este processo, longe de ser apenas uma mudança superficial, implica uma reorientação completa da vida, da adoração de si para a adoração de Deus, e se manifesta em atos concretos de obediência e serviço.


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