Corrupção






Gênesis 27.1 Quando Isaque envelheceu e os seus olhos se enfraqueceram, a ponto de não mais poder ver, chamou Esaú, seu filho mais velho, e lhe disse: — Meu filho! Esaú respondeu: — Aqui estou! 2O pai lhe disse: — Estou velho e não sei o dia da minha morte. 3Pegue agora as suas armas, a sua aljava e o seu arco, vá ao campo e apanhe para mim alguma caça. 4Faça uma comida saborosa, como eu aprecio, e traga aqui para mim, para que eu coma e abençoe você antes que eu morra. 5Rebeca esteve escutando enquanto Isaque falava com Esaú, seu filho. E Esaú foi ao campo para apanhar a caça e trazê-la. 6Então Rebeca disse a Jacó, seu filho: — Ouvi seu pai falar com Esaú, o seu irmão. Ele disse: 7“Traga uma caça e faça uma comida saborosa para mim, para que eu coma e o abençoe na presença do Senhor, antes que eu morra.” 8Agora, meu filho, escute as minhas palavras e faça o que lhe ordeno. 9Vá ao rebanho e traga-me dois bons cabritos. Deles farei uma saborosa comida para o seu pai, como ele aprecia. 10Você a levará ao seu pai, para que a coma e o abençoe, antes que ele morra. 11Mas Jacó disse a Rebeca, sua mãe: — Esaú, meu irmão, é um homem peludo, e eu sou um homem de pele lisa. 12Se o meu pai me apalpar, passarei a ser visto por ele como zombador e trarei sobre mim maldição e não bênção. 13A mãe respondeu: — Caia sobre mim essa maldição, meu filho. Faça somente o que eu digo: vá e traga os cabritos para mim. 14Ele foi, pegou os cabritos e os trouxe a sua mãe, que fez uma saborosa comida, como o pai dele apreciava. 15Depois, Rebeca pegou a melhor roupa de Esaú, seu filho mais velho, roupa que tinha consigo em casa, e vestiu Jacó, seu filho mais novo. 16Com a pele dos cabritos cobriu-lhe as mãos e a lisura do pescoço. 17Então entregou a Jacó, seu filho, a comida saborosa e o pão que havia preparado. 18Jacó foi a seu pai e disse: — Meu pai! Ele respondeu: — Fale! Quem é você, meu filho? 19Jacó respondeu a seu pai: — Sou Esaú, seu filho primogênito. Fiz o que o senhor ordenou. Levante-se, por favor; sente-se e coma da minha caça, para que depois o senhor me abençoe. 20Isaque perguntou a seu filho: — Como foi que você conseguiu achar a caça tão depressa, meu filho? Ele respondeu: — Porque o Senhor, seu Deus, a mandou ao meu encontro. 21Então Isaque disse a Jacó: — Chegue mais perto, para que eu o apalpe, meu filho, e veja se você é meu filho Esaú ou não. 22Jacó se aproximou de Isaque, seu pai, que o apalpou e disse: — A voz é de Jacó, mas as mãos são de Esaú. 23E não o reconheceu, porque as mãos realmente estavam peludas como as de seu irmão Esaú. E o abençoou. 24Então perguntou: — Você é mesmo o meu filho Esaú? Ele respondeu: — Eu sou. 25Então disse: — Traga isso para perto de mim, para que eu coma da caça de meu filho e o abençoe. Jacó a levou até ele e o pai comeu. Trouxe-lhe também vinho, e ele bebeu. 26Então Isaque, seu pai, lhe disse: — Venha cá e me dê um beijo, meu filho. 27Ele se aproximou e o beijou. Então o pai aspirou o cheiro da roupa dele e o abençoou. Ele disse: “Eis que o cheiro do meu filho é como o cheiro do campo, que o Senhor abençoou; 28Deus lhe dê do orvalho do céu, e da exuberância da terra, e fartura de trigo e de vinho. 29Que povos sirvam você, e nações o reverenciem. Que você seja senhor de seus irmãos, e os filhos de sua mãe se curvem diante de você. Maldito seja quem o amaldiçoar, e bendito quem o abençoar.” 30E aconteceu que, depois que Isaque abençoou Jacó e este tinha acabado de sair da presença de seu pai, chegou Esaú, seu irmão, vindo da sua caçada. 31Ele também fez uma comida saborosa e a levou ao seu pai. E lhe disse: — Levante-se, meu pai, e coma da caça de seu filho, para que o senhor me abençoe. 32Então Isaque, o pai dele, perguntou: — Quem é você? Ele respondeu: — Sou o seu filho, o seu primogênito; sou Esaú. 33Isaque estremeceu, sentindo uma violenta comoção. E disse: — Mas então quem foi aquele que apanhou a caça e trouxe para mim? Eu comi tudo, antes que você chegasse, e o abençoei, e ele será abençoado. 34Ao ouvir tais palavras de seu pai, Esaú deu um grito cheio de amargura e disse: — Abençoe também a mim, meu pai! 35Mas Isaque respondeu: — Seu irmão veio e, com astúcia, tomou a bênção que era sua. 36Esaú disse: — Não é com razão que ele se chama Jacó? Pois já duas vezes me enganou: tirou-me o direito de primogenitura e agora tomou a bênção que era minha. E perguntou: — Então o senhor não reservou nenhuma bênção para mim? 37Isaque respondeu a Esaú: — Eis que o constituí senhor sobre você, e fiz com que todos os parentes sejam servos dele; de trigo e de vinho o supri. Assim, o que posso fazer por você, meu filho? 38Esaú disse a seu pai: — Será que o senhor, meu pai, tem somente uma bênção? Abençoe também a mim, meu pai. E, levantando Esaú a voz, chorou. 39Então Isaque, seu pai, disse: “Sua habitação será longe dos lugares férteis da terra, longe do orvalho que cai do alto. 40Você viverá da sua espada e servirá o seu irmão; quando, porém, você se libertar, sacudirá do seu pescoço o jugo dele.”

No capítulo anterior, observamos que Isaque recebeu as bênçãos divinas por graça. Contudo, o prosseguimento da narrativa demonstrará sua desobediência aos planos de Deus, acarretando graves consequências para sua família.

Nessa passagem, acompanhamos o relato da família de Isaque que ilustra as consequências do egoísmo e da manipulação. A busca pela bênção patriarcal, que deveria ser um momento de transmissão da herança e das promessas divinas, transforma-se em um intrincado jogo de enganos e conflitos, revelando a fragilidade humana e as lutas por poder dentro da família. A passagem oferece um valioso estudo de caso sobre como a natureza pecaminosa se manifesta nas relações familiares, mostrando como a busca por poder e bênçãos pode levar a enganos, conflitos e consequências duradouras.

Através da análise da história de Isaque e de seus filhos, somos convidados a refletir sobre a nossa própria condição e a forma como o pecado ainda hoje influencia nossas escolhas e relacionamentos. Diante desse cenário, uma pergunta se torna inevitável: quais as facetas da natureza pecaminosa são reveladas nesse relato bíblico e como elas se manifestam em nosso dia a dia?

Uma família em conflito

A passagem começa com o plano secreto de Isaque de abençoar Esaú (27.1-4) e intensifica-se com o esquema enganoso de Rebeca (27.5-17) e o artifício de Jacó na presença de Isaque (27.18-23). Então, alcança o clímax quando Isaque abençoa Jacó e Esaú chega atrasado e recebe apenas uma anti bênção (27.30-40).

1. Isaque instrui Esaú a preparar uma refeição para abençoá-lo

Gênesis 27.1 Quando Isaque envelheceu e os seus olhos se enfraqueceram, a ponto de não mais poder ver, chamou Esaú, seu filho mais velho, e lhe disse: — Meu filho! Esaú respondeu: — Aqui estou! 2O pai lhe disse: — Estou velho e não sei o dia da minha morte. 3Pegue agora as suas armas, a sua aljava e o seu arco, vá ao campo e apanhe para mim alguma caça. 4Faça uma comida saborosa, como eu aprecio, e traga aqui para mim, para que eu coma e abençoe você antes que eu morra.

1 Quando Isaque envelheceu e os seus olhos se enfraqueceram, a ponto de não mais poder ver... O comentário explica o aparente triunfo do esquema de Rebeca para que Jacó finja ser Esaú.

4Faça uma comida saborosa, como eu aprecio, e traga aqui para mim, para que eu coma e abençoe você antes que eu morra. No período patriarcal, a bênção familiar era um evento público proferido na partida ou diante da morte, designando o herdeiro principal da herança familiar (econômica, social e religiosa) e transmitindo as promessas divinas para a futura geração. Essa bênção era irrevogável, pois o Senhor a validava através da fé do patriarca. Após a Lei, a bênção divina passou a ser mediada aos israelitas pelos sacerdotes (Nm 6.22-27), e no Novo Testamento, por Jesus. A solicitação de Isaque por uma refeição saborosa antes de abençoar um filho em particular sugere que ele desejava conferir essa bênção familiar, que tradicionalmente era pública e direcionada ao herdeiro, de forma reservada.

A despeito de reconhecer a perda do direito de primogenitura (Gn 27.36), Esaú ainda esperava receber a bênção. Contudo, para o autor de Hebreus, inspirado por Deus, Esaú havia vendido seu direito de herança. O texto bíblico ainda acrescenta que, "querendo herdar a bênção, foi rejeitado, pois não achou lugar de arrependimento, embora, com lágrimas, o tivesse buscado" (Hb 12.17). Em suma, Esaú desejava a bênção, mas não o modo de vida que ela demandava, algo que Deus não permitiu. O plano secreto de Isaque estava fadado ao fracasso.

2. Rebeca instrui Jacó a enganar seu pai.

5Rebeca esteve escutando enquanto Isaque falava com Esaú, seu filho. E Esaú foi ao campo para apanhar a caça e trazê-la. 6Então Rebeca disse a Jacó, seu filho: — Ouvi seu pai falar com Esaú, o seu irmão. Ele disse: 7“Traga uma caça e faça uma comida saborosa para mim, para que eu coma e o abençoe na presença do Senhor, antes que eu morra.” 8Agora, meu filho, escute as minhas palavras e faça o que lhe ordeno. 9Vá ao rebanho e traga-me dois bons cabritos. Deles farei uma saborosa comida para o seu pai, como ele aprecia. 10Você a levará ao seu pai, para que a coma e o abençoe, antes que ele morra. 11Mas Jacó disse a Rebeca, sua mãe: — Esaú, meu irmão, é um homem peludo, e eu sou um homem de pele lisa. 12Se o meu pai me apalpar, passarei a ser visto por ele como zombador e trarei sobre mim maldição e não bênção. 13A mãe respondeu: — Caia sobre mim essa maldição, meu filho. Faça somente o que eu digo: vá e traga os cabritos para mim. 14Ele foi, pegou os cabritos e os trouxe a sua mãe, que fez uma saborosa comida, como o pai dele apreciava. 15Depois, Rebeca pegou a melhor roupa de Esaú, seu filho mais velho, roupa que tinha consigo em casa, e vestiu Jacó, seu filho mais novo. 16Com a pele dos cabritos cobriu-lhe as mãos e a lisura do pescoço. 17Então entregou a Jacó, seu filho, a comida saborosa e o pão que havia preparado. 18Jacó foi a seu pai e disse: — Meu pai! Ele respondeu: — Fale! Quem é você, meu filho? 19Jacó respondeu a seu pai: — Sou Esaú, seu filho primogênito. Fiz o que o senhor ordenou. Levante-se, por favor; sente-se e coma da minha caça, para que depois o senhor me abençoe. 20Isaque perguntou a seu filho: — Como foi que você conseguiu achar a caça tão depressa, meu filho? Ele respondeu: — Porque o Senhor, seu Deus, a mandou ao meu encontro. 21Então Isaque disse a Jacó: — Chegue mais perto, para que eu o apalpe, meu filho, e veja se você é meu filho Esaú ou não. 22Jacó se aproximou de Isaque, seu pai, que o apalpou e disse: — A voz é de Jacó, mas as mãos são de Esaú. 23E não o reconheceu, porque as mãos realmente estavam peludas como as de seu irmão Esaú. E o abençoou.

5Rebeca esteve escutando enquanto Isaque falava com Esaú, seu filho. E Esaú foi ao campo para apanhar a caça e trazê-la. 6Então Rebeca disse a Jacó, seu filho: — Ouvi seu pai falar com Esaú, o seu irmão. Ele disse: 7“Traga uma caça e faça uma comida saborosa para mim, para que eu coma e o abençoe na presença do Senhor, antes que eu morra.” 8Agora, meu filho, escute as minhas palavras e faça o que lhe ordeno. 9Vá ao rebanho e traga-me dois bons cabritos. Deles farei uma saborosa comida para o seu pai, como ele aprecia. 10Você a levará ao seu pai, para que a coma e o

abençoe, antes que ele morra. Os valores espirituais de Rebeca são sadios, mas seu método é deplorável. A família não está cooperando, mas conspirando uns contra os outros, porque o patriarca não oferece liderança espiritual. Diferentemente de Abraão e Sara, que escutaram os conselhos espirituais um do outro em relação à herança, Isaque e Rebeca não se comunicam.

11Mas Jacó disse a Rebeca, sua mãe: — Esaú, meu irmão, é um homem peludo, e eu sou um homem de pele lisa. 12Se o meu pai me apalpar, passarei a ser visto por ele como zombador e trarei sobre mim maldição e não bênção. Jacó não levanta questões sobre a ética do plano, focando-se unicamente em sua viabilidade.

13A mãe respondeu: — Caia sobre mim essa maldição, meu filho. Faça somente o que eu digo: vá e traga os cabritos para mim. Rebeca paga um preço por sua fraude: desaparece do livro após essa cena. No final de Gênesis, porém, o autor inspirado observa que ela recebeu um sepultamento honrável com os outros patriarcas e matriarcas, na caverna de Macpela (Gn 49.30).

20...Como foi que você conseguiu achar a caça tão depressa, meu filho? Ele respondeu: — Porque o Senhor, seu Deus, a mandou ao meu encontro. Jacó acrescenta blasfêmia à sua mentira - Não tomar o nome do Senhor em vão.

20Porque o Senhor, seu Deus... Isso é consistente com a linguagem de Jacó em outros lugares (Gn 31.5). É apenas após seu retorno seguro de Harã que ele fala do Senhor como seu próprio Deus (Gn 28.20-22). O Deus dos patriarcas torna-se seu Deus apenas quando ele experimenta pessoalmente o pacto divino.

3. Isaque abençoa Jacó

24Então perguntou: — Você é mesmo o meu filho Esaú? Ele respondeu: — Eu sou. 25Então disse: — Traga isso para perto de mim, para que eu coma da caça de meu filho e o abençoe. Jacó a levou até ele e o pai comeu. Trouxe-lhe também vinho, e ele bebeu. 26Então Isaque, seu pai, lhe disse: — Venha cá e me dê um beijo, meu filho. 27Ele se aproximou e o beijou. Então o pai aspirou o cheiro da roupa dele e o abençoou. Ele disse: “Eis que o cheiro do meu filho é como o cheiro do campo, que o Senhor abençoou; 28Deus lhe dê do orvalho do céu, e da exuberância da terra, e fartura de trigo e de vinho. 29Que povos sirvam você, e nações o reverenciem. Que você seja senhor de seus irmãos, e os filhos de sua mãe se curvem diante de você. Maldito seja quem o amaldiçoar, e bendito quem o abençoar.”

26Então Isaque, seu pai, lhe disse: — Venha cá e me dê um beijo, meu filho. 27Ele se aproximou e o beijou. Trata-se do beijo de um traidor como o beijo de Judas em Jesus.

A bênção pode ser dividida em três partes:

  • ●  As descrições de Jacó: 27Ele se aproximou e o beijou. Então o pai aspirou o cheiro da roupa dele e o abençoou. Ele disse: “Eis que o cheiro do meu filho é como o cheiro do campo, que o Senhor abençoou;

    Jacó herda a bênção e o destino de Abraão.

  • ●  Aquilo que ele receberá: 28Deus lhe dê do orvalho do céu, e da exuberância da terra, e fartura de trigo e de vinho.

    Em diversas regiões da Palestina, o orvalho, impulsionado pelos ventos mediterrâneos provenientes do oeste e noroeste, desempenha uma função crucial na irrigação das plantações.

  • ●  Os seus relacionamentos futuros: 29Que povos sirvam você, e nações o reverenciem. Que você seja senhor de seus irmãos, e os filhos de sua mãe se curvem diante de você. Maldito seja quem o amaldiçoar, e bendito quem o abençoar.”

    Apesar de expressa em termos pessoais, a bênção diz respeito ao destino e domínio nacionais. O plural aponta para a abrangência do domínio de Israel. A bênção de domínio universal recai, finalmente, sobre Cristo e sua igreja (Mt 28.18-19).

    Uma bênção semelhante será dada à nação de Israel quando ela se estabelecer na Terra Prometida (Dt 7.13).

4. Isaque oferece uma anti bênção para Esaú

30E aconteceu que, depois que Isaque abençoou Jacó e este tinha acabado de sair da presença de seu pai, chegou Esaú, seu irmão, vindo da sua caçada. 31Ele também fez uma comida saborosa e a levou ao seu pai. E lhe disse: — Levante-se, meu pai, e coma da caça de seu filho, para que o senhor me abençoe. 32Então Isaque, o pai dele, perguntou: — Quem é você? Ele respondeu: — Sou o seu filho, o seu primogênito; sou Esaú. 33Isaque estremeceu, sentindo uma violenta comoção. E disse: — Mas então quem foi aquele que apanhou a caça e trouxe para mim? Eu comi tudo, antes que você chegasse, e o abençoei, e ele será abençoado. 34Ao ouvir tais palavras de seu pai, Esaú deu um grito cheio de amargura e disse: — Abençoe também a mim, meu pai! 35Mas Isaque respondeu: — Seu irmão veio e, com astúcia, tomou a bênção que era sua. 36Esaú disse: — Não é com razão que ele se chama Jacó? Pois já duas vezes me enganou: tirou-me o direito de primogenitura e agora tomou a bênção que era minha. E perguntou: — Então o senhor não reservou nenhuma bênção para mim? 37Isaque respondeu a Esaú: — Eis que o constituí senhor sobre você, e fiz com que todos os parentes sejam servos dele; de trigo e de vinho o supri. Assim, o que posso fazer por você, meu filho? 38Esaú disse a seu pai: — Será que o senhor, meu pai, tem somente uma bênção? Abençoe também a mim, meu

pai. E, levantando Esaú a voz, chorou. 39Então Isaque, seu pai, disse: “Sua habitação será longe dos lugares férteis da terra, longe do orvalho que cai do alto. 40Você viverá da sua espada e servirá o seu irmão; quando, porém, você se libertar, sacudirá do seu pescoço o jugo dele.”

30E aconteceu que, depois que Isaque abençoou Jacó e este tinha acabado de sair da presença de seu pai, chegou Esaú, seu irmão, vindo da sua caçada. A disposição dos eventos ao longo do tempo aponta para a ação divina na história dos patriarcas e suas famílias.

32Então Isaque, o pai dele, perguntou: — Quem é você? A ironia trágica é inconfundível.

33Isaque estremeceu, sentindo uma violenta comoção. E disse: — Mas então quem foi aquele que apanhou a caça e trouxe para mim? Eu comi tudo, antes que você chegasse, e o abençoei, e ele será abençoado. Todo seu lindo sonho de um desfecho pacífico e apropriado de sua vida está irreversivelmente despedaçado. Apesar de ter o filho errado em vista, ele cumpriu o que Deus tinha planejado. A palavra que medeia a bênção divina é tão irrevogável quanto um juramento feito a Deus. O texto reflete as promessas de vida eterna estendida aos crentes.

34Ao ouvir tais palavras de seu pai, Esaú deu um grito cheio de amargura e disse: — Abençoe também a mim, meu pai! Esaú experimentou as amargas consequências de negligenciar sua primogenitura, sendo também vítima da fraude de seu irmão, o que lhe causou injustiça. Consciente da irrevogabilidade da bênção concedida a Jacó, seu único pedido foi por uma bênção adicional.

36Esaú disse: — Não é com razão que ele se chama Jacó? Pois já duas vezes me enganou: tirou-me o direito de primogenitura e agora tomou a bênção que era minha. E perguntou: — Então o senhor não reservou nenhuma bênção

para mim? Esaú se recusa a aceitar sua culpa, assim como Adão culpou a mulher (Gn 3.12). Contudo, essa fraude custará muito também a Jacó. No final, Deus pode usar o pecado humano para cumprir seu propósito.

37Isaque respondeu a Esaú: — Eis que o constituí senhor sobre você, e fiz com que todos os parentes sejam servos dele; de trigo e de vinho o supri. Assim, o que posso fazer por você, meu filho? Mesmo sabendo que Deus havia escolhido Jacó, Isaque pretendia dar tudo a Esaú e nada a Jacó. Ironicamente, ele agora nada tem a oferecer ao filho a quem ama, exceto uma anti bênção.

A anti bênção é uma paródia da bênção de Jacó:

  • ●  As descrições de Esaú: 40Você viverá da sua espada e servirá o seu irmão;

  • ●  Aquilo que receberá: Sua habitação será longe dos lugares férteis da terra, longe do orvalho que cai do alto.

  • ●  Os seus relacionamentos: 39Então Isaque, seu pai, disse: quando, porém, você se libertar, sacudirá do seu pescoço o jugo dele.

    O cumprimento da profecia dentro da história de Israel valida que a bênção de Isaque sobre Jacó também se cumprirá no destino final de Israel.


A corrupção absoluta do homem.

Efésios 2.1 Ele lhes deu vida, quando vocês estavam mortos em suas transgressões e pecados, 2nos quais vocês andaram noutro tempo, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe da potestade do ar, do espírito que agora atua nos filhos da desobediência. 3Entre eles também nós todos andamos no passado, segundo as inclinações da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da ira, como também os demais.

Os grandes pensadores de nossa era indagam com frequência: “o que há de errado com as pessoas?”. Cada geração tem uma perspectiva ofuscada de seus próprios problemas, por estar, naturalmente, envolvida para fazer uma análise honesta e ajustada. Ainda assim, os meios de comunicação nos ajudam a entender a abrangência da perversidade contemporânea. Os problemas econômicos, o desemprego em massa, a fome, a exploração desordenada dos recursos naturais, o racismo, as ideologias, a desintegração da família, desonestidade, promiscuidade entre outros, revelam um cenário catastrófico. Ainda que exista um profundo crescimento científico e tecnológico, eles não conseguem produzir uma sociedade justa, humanitária e tranquila. O homem parece incapaz de resolver seus próprios problemas sociais, emocionais, econômicos e espirituais. O próprio homem está fora de órbita.

A maioria de nós consegue se reconhecer em Jacó. Muitas vezes, agimos com motivos impuros e intenções equivocadas, Deus realiza a sua boa obra, mesmo nos reprovando ao longo do caminho. A passagem estudada prepara o terreno para o clímax que acontece no capítulo 28. Antes de revelar a sua amorosa graça, o autor bíblico mostra a profundidade do pecado na vida do patriarca.

No trecho da carta aos Efésios, Paulo desmascara os triunfalistas e oferece um profundo diagnóstico da condição humana que ajuda a explicar o que aconteceu no caso do relato de Gênesis. O diagnóstico do homem caído na sociedade caída engloba três componentes: a morte, a escravidão e a condenação.

  1. Paulo inicia apontando a condição em que todos os seres humanos se encontram a parte de Deus: m o r t o s e m suas transgressões e pecados...

    A morte significa separação definitiva da criação, das outras pessoas e de nós mesmos. Porém, ela é o sintoma de outra separação, a saber, os homens estão separados de Deus.

  2. A seguir o apostolo oferece provas da escravidão humana: 2nos quais vocês andaram noutro tempo, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe da potestade do ar, do espírito que agora atua nos filhos da desobediência. 3Entre eles também nós todos andamos no passado, segundo as inclinações da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos;

    Essa escravidão é de natureza espiritual. Se por trás da morte está o pecado, o que existe no pecado que escraviza os homens? O apóstolo responde: o mundo e seu sistema, a carne e seus desejos e o diabo e seus asseclas. Ele designa essas três influências como sendo as que controlam (e controlavam os crentes) a existência de todos os que estão mortos em transgressões e pecados. A morte existe. Aqui estão as provas.

  3. Finalmente, a sentença dos que vivem assim: e éramos por natureza filhos da ira, como também os demais.

    O apóstolo terminou seu desagradável diagnóstico do homem sem Deus: não somente estão mortos e escravizados, mas também, condenados - por natureza merecedores da ira. Segundo as Escrituras, fora de

Cristo, o homem está morto por causa de suas transgressões e pecados, escravizado pelo mundo, pela carne e pelo diabo e condenado sob a ira de Deus.

O apóstolo, porém, não parou neste ponto, seu raciocínio seguinte começa com uma adversativa: “Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou” (Ef 2.4). Com estas palavras ele contrasta a realidade desesperadora da humanidade caída com a iniciativa gloriosa e a ação resoluta de Deus. Deus, interferiu para modificar a nossa terrível condição. É fundamental manter unidas as duas partes deste contraste, ou seja: o que somos por natureza e o que somos pela graça. A condição humana e a compaixão de Deus. Por ora, vamos tratar apenas da primeira.

Aplicações

Gênesis 27.30 E aconteceu que, depois que Isaque abençoou Jacó e este tinha acabado de sair da presença de seu pai, chegou Esaú, seu irmão, vindo da sua caçada.

As aplicações práticas da passagem, devem seguir as três ênfases teológicas de Gênesis: Deus, graça e homem.

  • ●  DEUS. Tudo acontece conforme Deus decretou.

    Deus, embora não aparente, é central em toda a narrativa. Questiona-se sua perspectiva sobre os eventos e sua aparente não intervenção nos conflitos dolorosos. Contudo, a realidade é que seu controle é absoluto. Mesmo sem plena compreensão, a confiança em sua condução nos momentos dramáticos da vida é essencial. A conclusão revela que as ações dos personagens estavam em consonância com o que ele havia preordenado.

  • ●  GRAÇA. Os planos de Deus dependem de sua graça soberana e não da fidelidade humana.

    O que cumpre os planos de Deus é uma família de fé e fracasso: Isaque, que confia em seus sentidos falíveis, e carece de determinação; Rebeca, que age por meio de dominação e fraude; Jacó que engana e mente cometendo blasfêmia; e Esaú que despreza a benção de Deus e não consegue encontrar o caminho do arrependimento. Curiosamente, essa é uma mensagem de esperança para a igreja, pois a irrupção do reino de Deus depende, no final das contas, da graça soberana de Deus, não da fidelidade humana. O narrador não aponta simplesmente para a falibilidade dos eleitos de Deus, cujas virtudes muitas vezes se transformam em vícios, mas reafirma a graça de Deus. É a sua misericórdia a base última da salvação.

  • ●  HOMEM. O homem colhe as consequências infames de suas ações.

    Embora a bênção seja transmitida segundo a boa vontade de Deus. A sentença divina sobre os atos egoístas da família é pronunciado nas consequências desastrosas que se seguem: Esaú decide matar Jacó e Jacó precisou fugir da Terra Prometida e tornar-se um exilado em Padã-Arã, onde Labão engana-o repetidas vezes. Mais tarde, Jacó lamenta a perda de seu filho mais jovem em virtude de uma fraude por parte de seus filhos mais velhos. Rebeca perde o contato com ambos os filhos e morre sem memorial. Isaque continua a viver sem relevância. Podemos ser encorajados pelo fato de que Deus nos usará a despeito das nossas falhas, mas precisamos reconhecer também que existem consequências reais para o nosso pecado e nossa arrogância.

Conclusão

A despeito das falhas humanas, Deus age, contudo o pecado invariavelmente acarreta consequências. Isso demonstra a tensão existente entre a graça divina e a responsabilidade individual.


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