Mateus - o Rei e o Reino
Mateus 1.1 Livro da genealogia de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão.
Os Evangelhos servem como a base da fé cristã. No entanto, o Evangelho de Mateus destaca-se por sua singularidade e por sua importância crucial para a compreensão do Cristianismo. Para aprofundar o entendimento deste evangelho e de seus temas centrais, é fundamental explorar seus alicerces (quem escreveu, para quem escreveu e o que escreveu).
Um judeu convertido
1. Quem era Mateus?
A Igreja primitiva tradicionalmente atribui a autoria deste evangelho a Mateus, um dos doze discípulos de Jesus. Conhecido também como Levi (Mateus 9:9-13) e ex-publicano (cobrador de impostos), o nome de Mateus como autor nunca foi contestado, apesar de o próprio evangelho não o declarar explicitamente. O mais antigo testemunho dessa autoria data do século II, proveniente do escritor Papias.
2. A literatura de Mateus.
Os evangelista empregaram, em suas escritas, um gênero literário singular, teologicamente conhecido como evangelho. Esse gênero combina narrativa histórica, focada em um período específico para descrever a vida de Jesus, com elementos biográficos que retratam a vida de Jesus como a própria vida de Deus. Além disso, incorpora a teologia, visando instruir os leitores sobre aspectos teológicos.
Mateus, em particular, apresenta um “evangelho”, um relato das boas-novas, convencido de que Jesus de Nazaré foi o enviado celestial de Deus. O propósito de Jesus era proclamar boas-novas a Israel e cumprir as profecias das Escrituras, embora por meios inesperados e não convencionais: morrendo pelos pecados do mundo(,) em vez de lutar para libertar a terra dos romanos. Desde então, os cristãos consideram esta (essa) a melhor notícia que se pode receber ou compartilhar.
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Prólogo (1.1-2.23). A genealogia, o nascimento e a primeira infância de Jesus demonstram que ele era o tão esperado Messias.
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A vinda do reino (3.1-7.29). Sermão: as leis do reino (5.1-7.29)
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As obras do reino (8.1-10.42). Sermão: a missão do reino (10.1-
42)
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A natureza do reino (11.1-13.58). Sermão: parábolas do reino (13.1-58)
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A autoridade do reino (14.1-18.35). Sermão: o caráter e a autoridade da igreja (18.1-35)
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As mudanças do reino (19.1-25.46). Sermão: o julgamento do reinos
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A paixão e a ressurreição (26.1-28.20). Jesus morreu como o Rei sofredor e exaltado na sua ressurreição como o Rei vitorioso. Cristo revelou-se a seus discípulos e os comissionou a espalharem o seu evangelho até aos confins da terra
Temos poucos testemunhos antigos sobre o local de escrita do Evangelho de Mateus. Irineu, Eusébio e Jerônimo sugerem a Palestina ou afirmam que foi escrito para cristãos judeus em Israel. No entanto, estudiosos modernos apontam para Antioquia da Síria, considerando sua grande população de judeus e judeus messiânicos, além de ser uma cidade fora de Israel que necessitava de um texto em grego, não em hebraico, para o seu trabalho missionário (At 13.1-3).
Além desses pontos fundamentais, é difícil acrescentar informações mais precisas com segurança. A tradição frequentemente afirma que o evangelho se dirige especificamente a cristãos judeus, sem detalhar sua localização ou o local de composição do livro. Contudo, é cada vez mais aceito pela erudição moderna que Mateus provavelmente escreveu para judeus messiânicos que haviam se separado de suas sinagogas locais ou foram excomungados por terem aceitado Jesus como Messias e Senhor.
Sobre a data de redação do evangelho. Irineu, um escritor cristão do século II, afirma que Mateus escreveu seu evangelho “enquanto Pedro e Paulo pregavam o evangelho e fundavam a igreja em Roma” (Contra Heresias, 3.1.1). Se essa informação for precisa, é provável que o Evangelho de Mateus tenha sido redigido no início ou na metade da década de 60, pois, ao que se sabe, foi o único período em que ambos os apóstolos estiveram simultaneamente na capital imperial do século I.
Mateus tinha um propósito em mente quando escreveu. Os judeus cristãos desejavam que seus amigos e familiares se unissem a eles na adoração a Jesus. No entanto, os judeus não cristãos temiam que Deus estivesse punindo Israel por tolerar o que consideravam uma “apostasia”. Essa “rivalidade fraternal” pode ter influenciado a linguagem incisiva de Mateus sobre os judeus de sua época, assim como as fortes críticas de Jesus a líderes israelitas. O conflito com os líderes judaicos pode ter acelerado a transição para uma Igreja multiétnica, incluindo judeus e gentios (Mt 28:18-20). Assim, o propósito central de Mateus era mostrar que seguir a Jesus era o
verdadeiro caminho para que os judeus permanecessem parte do povo eleito de Deus. Contudo, é claro que o apóstolo tinha múltiplos propósitos teológicos e, como outros cristãos, Mateus enfrentava uma difícil batalha para convencer judeus monoteístas de que Jesus é Deus.
A teologia de Mateus
O Evangelho de Mateus apresenta Jesus como o Messias prometido, cumprindo profecias e sendo o herdeiro de Davi. Ele conecta as alianças antiga e nova, define o Reino dos Céus como presente e futuro, e destaca a ética do Sermão da Montanha. Mateus é único ao incluir a Igreja como manifestação do Reino. A autoridade de Jesus, a Lei mosaica e a salvação universal são temas centrais para uma audiência judaica e cristã.
Jesus Cristo - o Rei
Mateus 1.1 Livro da genealogia de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão.
A narrativa de Mateus é inteiramente dedicada a Jesus Cristo, Filho de Davi. Cada evento de sua vida foi criteriosamente selecionado para ilustrar e comprovar tanto a sua natureza divina quanto humana. A cristologia em Mateus destaca-se por apresentar Jesus como o Messias davídico prometido, identificado logo no início como “o Filho de Davi”. A divindade de Jesus é frequentemente enfatizada pelo evangelista através do uso da palavra kyrios (“Senhor”). A igreja de Deus é liderada por Cristo, o Rei soberano, que guia seu povo santo e messiânico conforme sua Palavra inspirada.
Este tema central é acompanhado por outros tópicos de grande relevância:
1. Profecia e cumprimento.
Mateus 5.17 — Não pensem que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim para revogar, mas para cumprir.
O Evangelho de Mateus distingue-se pela sua riqueza em citações e alusões ao Antigo Testamento. Nele, Jesus é frequentemente apresentado como o cumprimento das profecias antigas, um ponto realçado pela palavra "cumprir", que introduz um número significativo (estimado entre dez e catorze) dessas referências.
Mateus destaca que Jesus ensinou que a lei tinha uma função profética, apontando-o. A validade da lei é contínua e se manifesta no ministério, nos ensinamentos, na morte e ressurreição de Jesus. Ele próprio é o elemento central, pois seu ministério conecta o Antigo Testamento (e a lei) ao cumprimento profético.
Esses elementos, por si mesmos, estabelecem a credibilidade de que Mateus escreveu seu evangelho principalmente para um público judeu. O objetivo era apresentar Jesus como o Messias esperado, que cumpria a lei e as profecias do Antigo Testamento.
2. Milagres
Mateus 11.4 Então Jesus lhes respondeu: — Voltem e anunciem a João o que estão ouvindo e vendo: 5os cegos veem, os coxos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados e aos pobres está sendo pregado o evangelho. 6E bem-aventurado é aquele que não achar em mim motivo de tropeço.
Deus, o Soberano do universo e da história, sustenta todos os acontecimentos. No entanto, ele ocasionalmente realiza atos extraordinários, que, no mundo moderno, denominamos "milagres". Os autores bíblicos, por sua vez, preferem usar termos como "sinal", "maravilha" ou "poder" para descrever essas manifestações divinas.
Os milagres de Jesus estão intrinsecamente ligados ao advento do reino prometido, sendo elementos essenciais de Sua obra messiânica. Eles servem como dupla evidência: a manifestação iminente do reino e a confirmação de Jesus como o Rei Messias. Mais do que eventos em si, esses milagres representam um "simbolismo profético", cujo significado reside na mensagem que transmitem.
O Reino
Mateus 13.11 Ao que Jesus respondeu: — Porque a vocês é dado conhecer os mistérios do Reino dos Céus, mas àqueles isso não é concedido.
O Evangelho de Mateus tem como tema central e mais importante o Reino dos Céus. Mateus aborda a progressão do reino e a vinda de Jesus em sua encarnação. Ele anuncia o advento do reino no início do ministério público de Jesus e, no final do livro, discorre sobre a consumação final desse reino no Discurso do Monte das Oliveiras. Assim, do começo ao fim de Mateus, percebe-se o tema unificador da chegada do reino de Deus na manifestação do próprio Rei, que é o Messias de Israel e o cumprimento do reino prometido a Judá.
O Reino de Deus é descrito na declaração confessional da Coalizão Pelo Evangelho:
O reino de Deus, já presente, mas ainda não plenamente realizado, é o exercício da soberania de Deus no mundo em direção à eventual redenção de toda a criação. O reino de Deus é um poder invasivo que despoja o tenebroso reino de Satanás e regenera e renova, mediante arrependimento e fé, a vida dos indivíduos resgatados daquele reino. Portanto, ele inevitavelmente estabelece uma nova comunidade de seres humanos que estão juntos debaixo de Deus.
Seguindo o tema do Reino dos Céus, destacam-se os seguintes aspectos:
1. Igreja
Mateus 16.18 Também eu lhe digo que você é Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela.
Em Mateus (16.18; 18.17), a palavra ekklêsia ("igreja") aparece duas vezes. Mateus registra a predição de Jesus sobre a continuidade de seu grupo de discípulos como uma comunidade distinta, um povo santo e messiânico, a "igreja". Além disso, Jesus enfatiza que a obediência às exigências éticas do Reino não é opcional para os membros da igreja, mas deve caracterizar suas vidas. A fidelidade deles é considerada falsa se não praticarem os ensinamentos de Jesus (7.21-23). Por fim, uma disciplina específica deve ser imposta à comunidade (18.15-18).
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Missão
Mateus 28.18 Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: — Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. 19Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, 20ensinando-os a guardar todas as coisas que tenho ordenado a vocês. E eis que estou com vocês todos os dias até o fim dos tempos.
Muitos estudiosos consideram que a perícope final do evangelho é o clímax para o qual todo o evangelho converge. Esses versículos, ao conectar alguns dos temas mais importantes de Mateus, conferem a eles uma nova profundidade que abrange e ilumina todo o evangelho.
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Escatologia
Mateus 24.6 E vocês ouvirão falar de guerras e rumores de guerras. Fiquem atentos e não se assustem, porque é necessário que isso aconteça, mas ainda não é o fim.
Mateus organiza o tempo em quatro períodos distintos: (1) a era pré-messiânica, marcada pela revelação e história; (2) o início de uma nova era com a chegada e o ministério de Jesus; (3) o período pós-exaltação de Jesus, em que a soberania divina é exercida através dele e seus seguidores difundem o evangelho do Reino globalmente; e (4) a consumação, que é a manifestação final e escatológica do Reino de Deus.
Conclusão
O Evangelho de Mateus, escrito para cristãos judeus por volta de 60 d.C., é crucial para a fé cristã. Ele revela Jesus como o Messias e Rei, cumprindo profecias e manifestando o Reino de Deus através de seus ensinamentos, seus milagres, sua morte e sua ressurreição. O evangelho destaca o Reino dos céus como presente, mas não totalmente realizado, e a Igreja como sua manifestação, com uma missão universal de discipulado, culminando na consumação final do reino.
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