Providência




Gênesis 49.1 Depois, Jacó chamou os seus filhos e disse: — Ajuntem-se, e eu lhes farei saber o que vai acontecer com vocês nos dias que virão: 2“Reúnam-se e ouçam, filhos de Jacó; ouçam o que diz Israel, o pai de vocês.” 3“Rúben, você é o meu primogênito, minha força e as primícias do meu vigor, o mais excelente em dignidade e o mais excelente em poder. 4Impetuoso como a água, você não será o mais excelente, porque subiu ao leito de seu pai e o profanou; você profanou a minha cama.” 5“Simeão e Levi são irmãos; as suas espadas são instrumentos de violência. 6Que a minha alma não entre no conselho deles; que a minha glória não participe do seu agrupamento; porque no seu furor mataram homens, e na sua vontade perversa mutilaram touros. 7Maldito seja o seu furor, pois era forte; e maldita seja a sua ira, pois era intensa; eu os dividirei em Jacó e os espalharei em Israel.” 8“Judá, os seus irmãos o louvarão; a sua mão estará sobre o pescoço dos seus inimigos; os filhos de seu pai se inclinarão diante de você. 9Judá é um leãozinho; da presa você subiu, meu filho. Ele se agacha e se deita como leão e como leoa; quem o despertará? 10O cetro não se afastará de Judá, nem o bastão sairá de entre os seus pés, até que venha Siló; e a ele obedecerão os povos. 11Ele amarrará o seu jumentinho à vide e o filho da sua jumenta, à videira mais excelente; lavará as suas roupas no vinho e a sua capa, em sangue de uvas. 12Os seus olhos serão cintilantes de vinho, e os seus dentes serão brancos de leite.” 13“Zebulom habitará na praia dos mares e servirá de porto para os navios, e a sua fronteira se estenderá até Sidom.” 14“Issacar é jumento de ossos fortes, deitado entre os rebanhos de ovelhas. 15Viu que o repouso era bom e que a terra era deliciosa; baixou os ombros à carga e sujeitou-se ao trabalho escravo.” 16“Dã julgará o seu povo, como uma das tribos de Israel. 17Dã será uma serpente junto ao caminho, uma víbora junto à vereda, que morde o calcanhar do cavalo e faz o seu cavaleiro cair para trás.” 18“A tua salvação espero, ó Senhor!” 19“Gade será atacado por guerrilheiros, mas ele lhes atacará a retaguarda.” 20“Aser, o seu pão será abundante e ele produzirá delícias reais.” 21“Naftali é uma gazela solta; ele fala palavras bonitas.” 22“José é um ramo frutífero, ramo frutífero junto à fonte; seus galhos se estendem sobre o muro. 23Os flecheiros lhe dão amargura, atiram contra ele e o hostilizam. 24O seu arco, porém, permanece firme, e os seus braços são feitos ativos pelas mãos do Poderoso de Jacó, sim, pelo Pastor e pela Pedra de Israel, 25pelo Deus de seu pai, que o ajudará, e pelo Todo-Poderoso, que o abençoará com bênçãos dos altos céus, com bênçãos das profundezas, com bênçãos dos seios e do ventre. 26As bênçãos de seu pai excederão as bênçãos de meus pais até o alto dos montes eternos; estejam elas sobre a cabeça de José e sobre o alto da cabeça do que foi distinguido entre seus irmãos.” 27“Benjamim é lobo que despedaça; pela manhã devora a presa e à tarde reparte o despojo.” 28São estas as doze tribos de Israel e isto é o que lhes falou seu pai quando os abençoou; a cada um deles abençoou segundo a bênção que lhe cabia.

Essa passagem apresenta Jacó, no leito de morte, abençoando as tribos de Israel. É a sequência do episódio no qual o patriarca abençoou José e seus dois filhos. Neste capítulo vislumbramos a nação em estado embrionário - com as tribos de Judá e José destinadas a ter proeminência no sul e no norte, respectivamente.

Este texto é o primeiro poema estendido na Bíblia, possui características marcadamente proféticas e representa o clímax da passagem que começou em 47.13. O seu propósito: a identificação das doze tribos de Israel e de suas bênçãos individuais, que profetizam seus destinos únicos dentro de seu destino comum como uma nação. Esses resumos certificam que essas bênçãos são planejadas para as tribos que descendem dos doze filhos, não apenas aos filhos.

Os nomes e/ou atos dos doze filhos prenunciam o destino das tribos, demonstrando, que Deus soberanamente escolheu os filhos de Jacó e, providencialmente conduziu cada acontecimento para o cumprimento de seu propósito. Nas palavras do pregador inglês Charles Spurgeon “O destino é isto: o que tem de ser será. Mas há uma diferença entre isso e a providência. A providência diz: o que Deus ordena será; mas a sabedoria de Deus nunca ordena algo sem um propósito. [...] O destino diz apenas que a coisa tem de ser; a providência, por sua vez, diz: Deus move as rodas adiante, e lá estão elas.”

De que maneira a providência divina, conforme descrita nas bênçãos de Jacó, concilia a responsabilidade humana com o cumprimento dos propósitos de Deus, mesmo diante dos pecados? Como as profecias sobre as tribos de Israel, revelam a complexidade da providência de Deus em guiar seu povo através da história?

Jacó abençoa seus filhos
1. Jacó fala como profeta (49.1-2)

1Depois, Jacó chamou os seus filhos e disse: — Ajuntem-se, e eu lhes farei saber o que vai acontecer com vocês nos dias que virão: 2“Reúnam-se e ouçam, filhos de Jacó; ouçam o que diz Israel, o pai de vocês.”

Jacó utiliza linguagem profética para pronunciar bênçãos sobre seus filhos. As bênçãos são também profecias. Jacó é, como seus ancestrais, um profeta. A poesia do texto dificulta o entendimento dos leitores modernos – O patriarca emprega animais, eventos da natureza e os acontecimentos na vida de seus filhos.

A responsabilidade humana é ressaltada nos pecados cometidos pelos filhos e em suas repercussões práticas, tanto em suas vidas e quanto no desenvolvimento do plano de Deus para a nação. Entretanto, o Deus providente conduz seu povo de maneira soberana para o cumprimento de seus propósitos santos.

Existem dois perigos, quando abordamos esse texto: o primeiro, é o profetismo - a ideia de que os profetas estão em atividade no período pós-apostólico. Deus pode revelar mensagens inspiradas especiais para as pessoas? Deus pode fazer, obviamente, o que ele desejar fazer, contudo, o movimento profético - como relatado no texto - perdeu força após o estabelecimento da igreja e o fechamento do cânon da Escritura. O segundo, é o hereditarismo - o pensamento que afirma que os comportamentos podem ser transmitidos por fatores como família, genética ou espiritual. Os filhos de Jacó foram todos

abençoados, mesmo que aparentemente, seus pecados tenham dirigido a vontade de Deus. Bavinck argumenta: “O pecado em si não é bom. Ele só se torna bom porque, contrário à sua natureza, é obrigado, pela onipotência de Deus, a promover sua honra”.

2. As bênçãos de Israel (49.3-27)

Jacó organiza suas bênçãos proféticas segundo as mães, colocando os seis filhos de Lia (49.3-15) e os dois filhos de Raquel (49.22-27) na estrutura externa, e os quatro filhos de suas servas (49.16- 21) no centro.

Os filhos de Lia

3“Rúben, você é o meu primogênito, minha força e as primícias do meu vigor, o mais excelente em dignidade e o mais excelente em poder. 4Impetuoso como a água, você não será o mais excelente, porque subiu ao leito de seu pai e o profanou; você profanou a minha cama.”

Jacó apresenta primeiro a honra e o poder herdados pelo filho mais velho, e então os retira por causa de sua ofensa sexual cometida contra seu pai – Rubén se deitou com Bila (Gn 35.22). A posição singular do primogênito garantiria, normalmente, direitos a uma porção dupla e à liderança. A porção dupla é concedida a José. Nenhum profeta, juiz, sacerdote ou rei descende dessa tribo.

4Impetuoso como a água... A raiz hebraica significa ser insolente, orgulhoso, indisciplinado, imprudente, incontrolável ou instável. A localização da tribo, no sudeste da nação e na fronteira com inimigos históricos de Israel: Edom, Moabe e Amom; exigiu capacidades específicas, como as mencionadas pelo pai.

5“Simeão e Levi são irmãos; as suas espadas são instrumentos de violência. 6Que a minha alma não entre no conselho deles; que a minha glória não participe do seu agrupamento; porque no seu furor mataram homens, e na sua vontade perversa mutilaram touros. 7Maldito seja o seu furor, pois era forte; e maldita seja a sua ira, pois era intensa; eu os dividirei em Jacó e os espalharei em Israel.”

5...as suas espadas são instrumentos de violência. Jacó faz referência ao massacre dos homens de Siquém em retaliação pelo estupro de Diná (Gn 34). Visto que eles compartilham dos mesmos traços criminosos de violência, raiva e crueldade, eles recebem a mesma condenação e o mesmo destino.

7... eu os dividirei em Jacó e os espalharei em Israel. Os descendentes de Simeão serão absorvidos no território de Judá. Os descendentes de Levi recebem 48 cidades e terras de pasto entre as doze tribos, incluindo Efraim e Manassés, porém, não receberam territórios como as outras tribos.

A espada de Simeão apoiará as grandes vitórias de Davi em seu período e será fundamental para a preservação do reino do sul na divisão dos reinos. Moisés e Arão, ambos da tribo de Levi, foram os responsáveis pela libertação de Israel. A Levi foi dada a honrosa tarefa de servir diretamente ao Senhor no tabernáculo e, mais tarde, no templo. Em Números 25, é relatado que Finéias, um levita, pôs fim a uma praga ao assassinar um israelita que havia profanado o acampamento de Israel no deserto.

8“Judá, os seus irmãos o louvarão; a sua mão estará sobre o pescoço dos seus inimigos; os filhos de seu pai se inclinarão diante de você. 9Judá é um leãozinho; da presa você subiu, meu filho. Ele se agacha e se deita como leão e como leoa; quem o despertará? 10O cetro não se afastará de Judá, nem o bastão sairá de entre os seus pés, até que venha Siló; e a ele obedecerão os povos. 11Ele amarrará o seu jumentinho à vide e o filho da sua jumenta, à videira mais excelente; lavará as suas roupas no vinho e a sua capa, em sangue de uvas. 12Os seus olhos serão cintilantes de vinho, e os seus dentes serão brancos de leite.”

Jacó ignora completamente os pecados de Judá em sua juventude, provavelmente porque o Judá arrependido se sacrificou mais tarde pelo bem- estar de Jacó. Os elogios de seus próprios irmãos validam o direito de Judá ao governo.

No deserto, Judá era, de longe, a maior tribo. No contexto de Juízes, tanto no assentamento da terra após a conquista quanto na guerra civil contra Benjamim, Deus nomeia Judá como líder das tribos. O livro de Samuel celebra Davi e a hegemonia de Judá sobre as outras tribos. No livro dos Reis, a lâmpada de Davi permanece acesa.

9Judá é um leãozinho... O leão, um dos maiores e mais fortes carnívoros, representa uma ameaça não apenas aos animais, mas também para a humanidade. Esse caçador muito poderoso e destemido era um símbolo de realeza no Antigo Oriente Próximo. Judá conquista seus inimigos e inspira medo. No livro de Apocalipse (Ap 5.5), João denomina Jesus de “o Leão da tribo de Judá”.

10O cetro não se afastará de Judá... Esse é um símbolo de eminência e realeza. A profecia é confirmada pela aliança davídica e pela chegada do rei e seu reino em Cristo Jesus.

11Ele amarrará o seu jumentinho à vide e o filho da sua jumenta, à videira mais excelente... A videira é um símbolo de fertilidade, alegria, paz e prosperidade. Aqui é uma hipérbole de prosperidade tremenda. Ninguém além de um indivíduo incrivelmente rico amarraria um jumento à melhor videira, pois o jumento comeria as uvas preciosas.

11... lavará as suas roupas no vinho e a sua capa, em sangue de uvas. 12Os seus olhos serão cintilantes de vinho, e os seus dentes serão brancos de leite.” Outra imagem de grande prosperidade e/ou poder. O vinho seria tão abundante e comum que ele poderia ser usado como água de lavagem. Jacó abençoa Judá com:

realeza, domínio, eternidade e prosperidade. O reino do sul sempre foi conhecido por sua prosperidade e abundância.

A bênção profética sobre Judá é cumprida em Davi e em sua casa, e, no Novo Testamento, ela é cumprida e consumada em Jesus Cristo (Ap 5.5). Não tem como olhar para as bençãos estendidas para Judá e não perceber Cristo e o seu reino eterno.

13“Zebulom habitará na praia dos mares e servirá de porto para os navios, e a sua fronteira se estenderá até Sidom.”. Curiosamente, Zebulom - o sexto filho de Lia e o décimo filho de Jacó - é mencionado aqui antes de seu irmão Issacar, o quinto filho de Lia, dando-lhe a preeminência. Zebulom é o mais enérgico e próspero dos dois. Jacó não menciona nenhum pecado específico de Zebulom.

Zebulom é mencionado entre aqueles que se juntam a Gideão na batalha contra os midianitas (Jz 6.35). Entre as tribos ocidentais, Zebulom contribui com o maior contingente militar ao exército de Davi; seus soldados são caracterizados como experientes e leais (1Cr 12.33). Sua localização no centro-oeste da terra contribuiu para o comércio entre o mar mediterrâneo e as nações árabes.

14“Issacar é jumento de ossos fortes, deitado entre os rebanhos de ovelhas. 15Viu que o repouso era bom e que a terra era deliciosa; baixou os ombros à carga e sujeitou-se ao trabalho escravo.”

Ele é o quinto filho de Lia e o nono filho de Jacó. No livro de Juízes, a tribo é desprezada na maioria das vezes. Ela não é mencionada no inventário das tribos em Juízes 1 ou nos relatos da batalha contra Canaã e Midiã (Jz 4 e 6). Isso significa que ela não exerceu um papel significativo, na verdade exerceu um papel inglório durante esse período. Na verdade, Issacar é descrito como preguiçoso, submisso e impotente (Gn 49.14-15). Apesar de forte, teimosamente se recusa a trabalhar, preferindo o conforto. Ele será obrigado a “baixar os ombros à carga”. Implicitamente, Jacó repreende a tribo por permitir que sua prosperidade material a torne submissa e estéril aos senhores cananeus.

Alguns textos bíblicos, porém falam bem de Issacar (Jz 5.15; 1Cr 12.32). Foram comandantes estrategistas na companhia vitoriosa de Davi. O seu território ficava no planalto fértil da Galileia inferior, a melhor terra agrícola em Israel. Região onde Jesus desenvolveu parte considerável de seu ministério.

Os filhos de Bila e Zilpa
16“Dã julgará o seu povo, como uma das tribos de Israel. 17Dã será uma serpente junto ao

caminho, uma víbora junto à vereda, que morde o calcanhar do cavalo e faz o seu cavaleiro cair para trás.” Dã é o primeiro filho de Bila e o quinto filho de Jacó. Juntamente com Judá e José, recebe duas bênçãos distintas: para exercer justiça e, apesar de relativamente pequena, atacar.

A imagem de uma serpente na estrada apresenta a tribo como insignificante e em posição vulnerável, exatamente como será sua situação em Juízes. Entretanto, letal quando ataca. Apesar de pequena, a tribo de Dã será agressiva, perigosa e atacará inesperadamente para derrubar nações (Jz 18). Sansão, membro dessa tribo, fere sozinho os filisteus (Jz 14-16).

18“A tua salvação espero, ó Senhor!” Jacó insere uma petição a Deus porque suas profecias predizem explícita e implicitamente, vitórias, prosperidade e crescimento, ao mesmo tempo, hostilidades ferozes e brutais contra as tribos.

19“Gade será atacado por guerrilheiros, mas ele lhes atacará a retaguarda.” Ele é o primeiro filho de Zilpa e o sétimo filho de Jacó. A bênção prediz que Gade terá uma vida atribulada, mas que contra-atacará seus inimigos. Assentado na Transjordânia vulnerável, ao longo de toda sua história, Gade - como Rubén - sofrerá ataques dos amonitas, moabitas, arameus e assírios.

Essas tribos foram fundamentais na preservação da nação, funcionando como escudo contra ataques de inimigos históricos. Obviamente, elas contra- atacavam após cada derrota. Pequena demais para se lançar numa guerra, ela recorreria a ataques de guerrilha. Seu povo era famoso como guerreiro (Dt 33.20; 1Cr 5.18; 12.8).

20“Aser, o seu pão será abundante e ele produzirá delícias reais.” Ele é o oitavo filho de Jacó, seu segundo com Zilpa, serva de Lia. Essa é uma referência à sua terra fértil nas colinas ocidentais da região montanhosa da Galileia.

21“Naftali é uma gazela solta; ele fala palavras bonitas.” Naftali é o sexto filho de Jacó e o segundo filho com Bila. “gazela solta”: Um animal famoso por sua beleza e rapidez. Essa é uma alusão à liberdade, agilidade e movimentação frequente da tribo ou à sua impetuosidade. A tribo de Naftali habitou toda a região ocidental do mar da Galileia, região de grande parte do ministério terreno de Jesus.

Os filhos de Raquel

22“José é um ramo frutífero, ramo frutífero junto à fonte; seus galhos se estendem sobre o muro. 23Os flecheiros lhe dão amargura, atiram contra ele e o hostilizam. 24O seu arco, porém, permanece firme, e os seus braços são feitos ativos pelas mãos do Poderoso de Jacó, sim, pelo Pastor e pela Pedra de Israel, 25pelo Deus de seu pai, que o ajudará, e pelo Todo-Poderoso, que o abençoará com bênçãos dos altos céus, com bênçãos das profundezas, com bênçãos dos seios e do ventre. 26As bênçãos de seu pai excederão as bênçãos de meus pais até o alto dos montes eternos; estejam elas sobre a cabeça de José e sobre o alto da cabeça do que foi distinguido entre seus irmãos.”

José foi o décimo primeiro filho de Jacó, o primeiro com Raquel e seu filho favorito. Visto que Jacó adotou os dois filhos de José, Efraim e Manassés, e

confere-lhes status igual ao de seus tios como herdeiros da Terra Prometida (48.1-20), José, portanto, refere-se às tribos de Efraim e Manassés.

No oráculo de José, a raiz hebraica de "abençoar" é usada seis vezes. As bênçãos incluem fertilidade da terra, alimentada pela água do céu acima e da terra abaixo e a fertilidade do corpo (seio e ventre). As bênçãos dadas à humanidade na criação se concentram em José.

22“José é um ramo frutífero, ramo frutífero junto à fonte; seus galhos se estendem sobre o muro.

José é comparado a uma videira frutífera que estende seus galhos. A figura indica a prosperidade, a liberdade e independência das tribos de José.

Essa é uma metáfora para a expansão de seu território. De fato, as tribos de Efraim e Manassés ocuparam boa parte do território da nação, sendo o embrião do reino do norte, denominado de Efraim.

23Os flecheiros lhe dão amargura, atiram contra ele e o hostilizam. 24O seu arco, porém, permanece firme, e os seus braços são feitos ativos pelas mãos do Poderoso de Jacó, sim, pelo

Pastor e pela Pedra de Israel... As habilidades militares dos filhos de José, contribuíram decisivamente para a preservação e crescimento da nação.

24... pelas mãos do Poderoso de Jacó, sim, pelo Pastor e pela Pedra de Israel, 25pelo Deus de seu pai, que o ajudará, e pelo Todo-Poderoso, que o abençoará com bênçãos dos altos céus, com

bênçãos das profundezas, com bênçãos dos seios e do ventre. Entretanto, a fertilidade e a segurança de José se devem a Deus, que o protege e o abençoa. Ressalta a continuidade das tribos de Israel com os pais abençoados por Deus. É essa continuidade que dá sentido às bênçãos.

27“Benjamim é lobo que despedaça; pela manhã devora a presa e à tarde reparte o despojo.”

Benjamim é o décimo segundo filho e caçula de Jacó, e o segundo filho de Raquel. A imagem animal de Benjamim como lobo predatório e feroz, que compartilha sua presa, harmoniza-se com a alta reputação da tribo por sua coragem e habilidade na guerra. Saul e Paulo eram membros da tribo de Benjamim.

A designação da benção (49.28)

28São estas as doze tribos de Israel e isto é o que lhes falou seu pai quando os abençoou; a cada um deles abençoou segundo a bênção que lhe cabia.

A profecia dizia respeito às tribos de Israel e não apenas aos filhos imediatos. Jacó os abençoou, dando a cada um a bênção apropriada. O texto diz literalmente “a cada um segundo sua bênção ele os abençoou”. O narrador usa a palavra “abençoar” três vezes na conclusão.

Ele nos lembra que, embora sejamos chamados a agir e a ser responsáveis, a bênção e o sucesso verdadeiros vêm da mão de Deus, que soberanamente orquestra todas as coisas para o cumprimento de seus propósitos, mesmo quando nossas escolhas são falhas. Reconhecer a providência nos humilha e nos direciona a depender inteiramente da graça e da sabedoria de Deus, e não de nossos próprios esforços ou méritos.

A providência de Deus

Romanos 11.33 Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão inexplicáveis são os seus juízos, e quão insondáveis são os seus caminhos! 34“Pois quem conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi o seu conselheiro? 35Ou quem primeiro deu alguma coisa a Deus para que isso lhe seja restituído?” 36Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele seja a glória para sempre. Amém!

De modo adequado, Paulo conclui sua descrição arrebatadora do plano divino para a salvação, inclusive dos israelitas, com um hino de louvor que expressa admiração e reverência pelo que Deus está fazendo. Ninguém pode entender completamente a Deus, o qual não tem nem conselheiros, nem credores. Deus é a origem, o meio e o propósito de todas as coisas.

A vida de Jacó começou e agora termina com profecias inspiradas por Deus. Uma profecia anunciou seu destino, no ventre de sua mãe; e agora ele anuncia o futuro de seus descendentes. A narrativa de Gênesis, que começou com a bênção de Deus sobre a criação, termina agora com a transmissão da bênção de Deus de Jacó para os seus filhos, ressaltando, o controle harmonioso de Deus sobre todas as coisas.

A providência de Deus pode ser definida como: A determinação divina de realizar todas as coisas de acordo com seu caráter para o cumprimento de seus santos propósitos.

O catecismo de Heidelberg responde à pergunta 27: O que é a providência de Deus?

É a força onipotente e onipresente, com que Deus, pela sua mão, sustenta e governa o céu, a terra e todas as criaturas. Assim, ervas e plantas, chuva e seca, anos frutíferos e infrutíferos, comida e bebida, saúde e doença, riqueza e pobreza e todas as coisas não nos sobrevêm por acaso, mas de sua mão paternal.

Piper comenta: “a palavra soberania não contém a ideia de ação intencional, mas a palavra providência, sim”. Em outro momento, ele diz: “Mas o que confere a essa definição sua inclinação em direção a providência (e não apenas à soberania) é a expressão ‘de sua paternal’.

Desfrutando da providência de Deus

Gênesis 49.28 São estas as doze tribos de Israel e isto é o que lhes falou seu pai quando os abençoou; a cada um deles abençoou segundo a bênção que lhe cabia.

Três efeitos da providência de Deus:

  • ●  DEUS. Desperta a reverência e nos leva a verdadeira adoração. Deus estava orquestrando os detalhes precisos do funcionamento e preservação do povo do pacto. Deus orquestra a existência das nações, o funcionamento dos elementos da natureza e os desígnios humanos para cumprir seus propósitos eternos que incluem a benção de seus filhos. Como não deleitarmos extasiados com Deus diante de suas maravilhas!

    Piper questiona: “Se existem crentes ou igrejas cuja adoração parece fraca, passiva e rotineira, não será porque talvez não conheçam essa providência.”

  • ●  GRAÇA – Deus está operando no seu povo o que é agradável aos seus olhos. Graciosamente, elegeu, predestinou, chamou, justificou, santificou e prometeu vida eterna no mundo restaurado. É uma grande tragédia o fato de milhões de crentes imaginarem uma salvação em que eles são a causa decisiva.

●  HOMEM – A providência nos torna atentos quanto aos substitutos humanos do evangelho. As tribos de Israel aprenderiam rapidamente – e dolorosamente - que não existiam substitutos adequados para a benção de Deus.

O pior que pode acontecer com um indivíduo é trocar a glória do evangelho da graça de Deus por maquinações humanas. Mesmo as boas coisas criadas por Deus para a sua glória podem estar infestadas de orgulho e vanglória do pecado. A providência funciona como campo de força contra as propostas que excluem a determinação divina.

Conclusão

Mesmo diante das falhas e pecados humanos, a providência de Deus se manifesta, orquestrando cada acontecimento para cumprir seus propósitos santos. Essa orquestração divina nos convida à reverência e adoração, ressalta a graça que nos elege e santifica, e alerta contra a substituição da bênção de Deus por esforços ou méritos humanos. A providência divina é a certeza de que Deus sustenta e governa todas as coisas, direcionando-as para sua glória e o bem de seus filhos.


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