A sã doutrina exposta no evangelho
1 Timóteo 1.3Partindo eu para a Macedônia, roguei que você permanecesse em Éfeso para ordenar a certas pessoas que não mais ensinem doutrinas falsas 4e que deixem de dar atenção a mitos e genealogias intermináveis, que causam controvérsias em vez de promoverem a obra de Deus, que é pela fé. 5O objetivo desta instrução é o amor que procede de um coração puro, de uma boa consciência e de uma fé sincera. 6Alguns se desviaram dessas coisas, voltando-se para discussões inúteis, 7querendo ser mestres da lei, quando não compreendem nem o que dizem nem as coisas acerca das quais fazem afirmações tão categóricas. 8Sabemos que a Lei é boa, se alguém a usa de maneira adequada. 9Também sabemos que ela não é feita para os justos, mas para os transgressores e insubordinados, para os ímpios e pecadores, para os profanos e irreverentes, para os que matam pai e mãe, para os homicidas, 10para os que praticam imoralidade sexual e os homossexuais, para os sequestradores, para os mentirosos e os que juram falsamente; e para todo aquele que se opõe à sã doutrina. 11Esta sã doutrina se vê no glorioso evangelho que me foi confiado, o evangelho do Deus bendito.
O apóstolo, após uma saudação relativamente curta – em relação a outras correspondências – entrou no assunto que o interessava. Paulo recorda a comissão dada a Timóteo como forma de encorajar o jovem pastor. Ele deixou seu discípulo em Éfeso e o incumbiu de permanecer ali com uma missão.
Ele tem uma tarefa específica: Paulo espera que Timóteo adote uma posição firme frente à ameaça dos falsos mestres. Isso pode ser comprovado pelo uso incomum da expressão “ordenar”, um termo militar que significa literalmente dar ordens a alguém. A admoestação para que não “ensinem outra doutrina” sugere fortemente a existência de um corpo doutrinário já nos primórdios da igreja. Essas palavras são uma oportuna advertência aos nossos tempos contra a busca de novidades no ensino cristão.
As palavras de Paulo sugerem que houve, da parte de Timóteo, certa relutância em continuar na cidade, que era uma das mais importantes igrejas asiáticas tanto estratégica quanto culturalmente. O temperamento contido e tímido de Timóteo pode ter contribuído para fazê-lo recuar diante de uma tarefa tão pesada e ingrata. Timóteo é lembrado pelo apóstolo de que ele próprio é um homem com autoridade.
Portanto, o intuito do apóstolo é advertir seu discípulo quanto à existência dos ensinos falsos na igreja e como lidar com eles.
Paulo esperava que Timóteo usasse sua autoridade para reprimir dois erros específicos em relação ao evangelho: o cerimonialismo - presente no judaísmo - e o ascetismo gnóstico.
O ensino deve promover a obra de Deus
3Partindo eu para a Macedônia, roguei que você permanecesse em Éfeso para ordenar a certas pessoas que não mais ensinem doutrinas falsas 4e que deixem de dar atenção a mitos e genealogias intermináveis, que causam controvérsias em vez de promoverem a obra de Deus, que é pela fé.
O ensino falso que Paulo quer combater é caracterizado como “mitos e genealogias intermináveis”. Parece que os efésios tentavam ligar o ensinamento cristão a duas principais heresias do seu tempo: o gnosticismo e o judaísmo. Os falsos mestres eram membros de uma seita fascinada com os aspectos mais especulativos do judaísmo, misturado com o ascetismo característico do gnosticismo.
O apóstolo defendia que todo esse assunto improdutivo era completamente fútil. Calvino asseverou que “aqueles que fazem mau uso das Escrituras, como costumam fazer as pessoas ímpias, fazendo do cristianismo uma engenhosa exibição, obscurecem o evangelho. [...] não porque tudo o que se pode dizer sobre elas seja fictício, mas porque é tolice e perda de tempo”.
A irrelevância da doutrina espúria estava em contraste direto com a edificação que deve resultar do verdadeiro ensino cristão. Tudo o que não edificava os crentes deveria ser rejeitado, ainda que não tenha nenhum outro defeito; e tudo que servia apenas para suscitar contendas deveria ser duplamente condenado e rejeitado.
Para nós hoje, isso significa que nenhum ensinamento pode contradizer a Escritura, o que inclui os registros escritos do ensinamento dos apóstolos.
Toda doutrina que contribui para edificação da igreja deve ser aprovada e ensinada, mas aquelas que ocasionam motivos para controvérsias infrutíferas devem ser peremptoriamente descartadas.
Como maneira de contribuir para que os crentes não se distraiam com esses falsos ensinos, o extenso escopo teológico de tradição reformada recomenda a trilogia histórico confessional. São três fontes seguras de doutrinas que edificam a igreja.
1. As declarações confessionais – documentos que resumem todas as doutrinas fundamentais e indispensáveis da tradição reformada.
2. Os Catecismos – através destes os cristãos podem examinar corpos doutrinários robustos como as confissões, o Credo Apostólico, os Dez Mandamentos e o Pai Nosso.
3. Teólogos recomendados – irmãos comprovadamente capacitados por Deus como mestres, que assumem a direção de suas igrejas locais e que contribuem para o desenvolvimento saudável da obra de Deus.
A procedência do ensino
5O objetivo desta instrução é o amor que procede de um coração puro, de uma boa consciência e de uma fé sincera. 6Alguns se desviaram dessas coisas, voltando-se para discussões inúteis, 7querendo ser mestres da lei, quando não compreendem nem o que dizem nem as coisas acerca das quais fazem afirmações tão categóricas.
Ao que parece, os falsos mestres, com quem Timóteo teve de tratar, gabavam-se de ter o apoio da lei. Paulo está argumentando que a lei não lhes oferece nenhum apoio, mas ao contrário, ela está em completa harmonia com o evangelho que ele ensinava. Os falsos mestres tinham entendido equivocadamente o objetivo e o espírito da lei.
O apóstolo ressalta que para o crente, o propósito de todas as exortações em assuntos de ordem prática, é o amor, que claramente faltava naqueles que “queriam ser mestres da lei”, cujo intuito principal era a sua própria satisfação pessoal. Paulo deixa claro a procedência desse ensino amoroso:
● “um coração puro” – tomada do A.T., a palavra coração representa a totalidade dos sentimentos morais do ser humano. Sem a pureza do coração o caráter virtuoso é impossível.
● “uma boa consciência” – A palavra grega para consciência designa a capacidade de distinguir entre o certo e o errado. O Espírito Santo trabalha a consciência dos homens para convencer do pecado.
● “uma fé sincera” – A fé que é apenas uma simulação sem base sólida era característica dos falsos mestres. O que é importante é a genuinidade dos atos daqueles que professam a fé em Cristo.
Essa tríade cristã fundamental, foi claramente negligenciada pelos falsos mestres. Por perderem seu referencial cristão, encontravam-se em um deserto sem nenhuma sinalização. O desejo de ser mestres da lei é uma característica da natureza judaica.
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As profundezas da verdade cristã não devem jamais ser obscurecidas por sutilezas sem sentido, um erro comum naqueles que se entregam a interpretações alegóricas do texto bíblico.
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O ministro fiel não ensina a verdade para estar certo ou parecer inteligente. Deus quer pureza doutrinal, mas não deseja que a igreja seja um repositório de conhecimento.
A pureza doutrinal cultiva a tríade cristã e não o orgulho vaidoso. Na busca por ortodoxia, muitos homens falharam em produzir amor e boas obras.
O ensino verdadeiro é visto no evangelho
8Sabemos que a Lei é boa, se alguém a usa de maneira adequada. 9Também sabemos que ela não é feita para os justos, mas para os transgressores e insubordinados, para os ímpios e pecadores, para os profanos e irreverentes, para os que matam pai e mãe, para os homicidas, 10para os que praticam imoralidade sexual e os homossexuais, para os sequestradores, para os mentirosos e os que juram falsamente; e para todo aquele que se opõe à sã doutrina. 11Esta sã doutrina se vê no glorioso evangelho que me foi confiado, o evangelho do Deus bendito.
A menção da lei no versículo anterior conduz o apóstolo a analisar seu propósito. Ele admite que ela possui algumas funções úteis quando utilizada de forma legítima.
A lei tem de estar restrita a seu intuito básico: ressaltar a maldade e o pecado. Nesse sentido, a lei pode ser descrita como boa.
O apóstolo está longe de condenar os nobres preceitos da lei, mas está se opondo de maneira veemente às aplicações espúrias dos falsos mestres. Paulo destaca que a lei foi concebida para:
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Os transgressores, que a ignoram;
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Os insubordinados, que não estão prontos a aceitar a disciplina;
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Os incrédulos, que não têm temor a Deus;
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Os pecadores, que se opõem a ele;
Os ímpios e profanos, que negam as coisas sagradas.
Paulo faz uma lista de pecados sem o interesse de ser exaustivo ou definitivo. Sua ordem, porém, é significativa:
1. Primeiro ofensas a Deus ([...] para os transgressores e insubordinados, para os ímpios e pecadores, para os profanos e irreverentes [...]),
2. em seguida pecados contra o próximo conforme alistados nos Dez Mandamentos: ([...]para os que matam pai e mãe, para os homicidas, 10para os que praticam imoralidade sexual e os homossexuais, para os sequestradores, para os mentirosos e os que juram falsamente [...]).
3. A lista de ofensas é finalmente concluída com a inclusão de todo aquele que se opõe à sã doutrina.
A doutrina correta é uma questão primordial no ensino do N.T. especialmente na teologia paulina.
Contudo, a conclusão da lista mostra a superioridade do evangelho e leva o apóstolo a fazer uma declaração adicional a respeito: “11Esta sã doutrina se vê no glorioso evangelho que me foi confiado, o evangelho do Deus bendito”. Esse versículo conclui a seção iniciada no versículo 8.
Toda instrução, em última instância, tem de apoiar o evangelho, mesmo ao ensinar sobre a lei mosaica. Em resumo, a sã doutrina baseia-se no fundamento do evangelho.
Portanto, Paulo defende a lei como boa e uma expressão do caráter santo de Deus dada à humanidade com o propósito de redenção. Deus nos deu a lei para que possamos avaliar a nós mesmos à luz de seu padrão justo, encontrar-nos em falta e depois, voltar-nos a ele para conseguir graça.
Ninguém consegue a salvação por obedecer à lei, na verdade, ninguém consegue obedecer a lei fielmente. Aqueles que admitem sua impotência e recebem o dom gratuito de Deus pela fé em Jesus têm agora uma nova relação com a lei. Os crentes não estão mais “sob” a lei – ou seja, sujeitos a condenação inevitável dela – mas agora abraçam e amam a lei como meio de conhecer a Deus e adorá-lo por meio da obediência.
Lamentavelmente, aqueles que desejam ser considerados mais zelosos pela lei, comprovam mediante sua maneira de viver, ser seus principais transgressores. O maior exemplo disso, é a quantidade de testemunhos lamentáveis que temos presenciado nas trincheiras da igreja de Cristo. Indivíduos que estão sempre falando da santidade de vida, dos seus méritos e da satisfação de suas conquistas, no entanto, sua conduta de vida clama contra eles, testificando que são violentamente perversos, mentirosos e ímpios. Estão provocando a ira de Deus o quanto lhes é possível e atrevidamente desdenham de seus justos juízos.
Conclusão
O evangelho que exibe e ressalta somente a glória de Deus, repreende naturalmente aqueles que se esforçam para levá-lo à degradação. Apegar-se a sã doutrina exige esforço e muitos podem incorrer no erro de ouvir falsos mestres que estão preocupados com "mitos e genealogias" que não edificam em nada a igreja de Cristo. Os crentes devem conhecer e transmitir com vigor, coragem e firmeza o ensino dos apóstolos, denunciando com confiança os falsos ensinos.
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