O Rei divino humano
Mateus 1.18 O nascimento de Jesus Cristo foi assim: Maria, a sua mãe, estava comprometida para casar com José. Mas, antes de se unirem, ela se achou grávida pelo Espírito Santo. 19José, com quem Maria estava para casar, sendo um homem justo e não querendo envergonhá-la em público, resolveu deixá-la sem que ninguém soubesse. 20Enquanto ele refletia sobre isso, eis que lhe apareceu em sonho um anjo do Senhor, dizendo: — José, filho de Davi, não tenha medo de receber Maria como esposa, porque o que nela foi gerado é do Espírito Santo. 21Ela dará à luz um filho e você porá nele o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos pecados deles. 22Ora, tudo isto aconteceu para se cumprir o que foi dito pelo Senhor por meio do profeta: 23“Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, e ele será chamado pelo nome de Emanuel.” (“Emanuel” significa: “Deus conosco”.) 24Quando José despertou do sono, fez como o anjo do Senhor lhe havia ordenado e recebeu Maria por esposa. 25Porém não teve relações com ela enquanto ela não deu à luz um filho, a quem pôs o nome de Jesus.
Nesta passagem, Mateus não está preocupado em satisfazer a curiosidade dos historiadores contando-lhes a história do nascimento de Jesus em detalhes, mas sim em destacar a atenção para certos aspectos em que a revelação do Antigo Testamento se cumpriu.
O evangelista foi compelido a dar relevo à concepção sobrenatural do filho de Maria, e ao fazer isso, foi levado a ver nesta concepção o cumprimento das palavras ditas por Deus por meio de seu profeta, registradas em Isaías 7.14 Portanto, o Senhor mesmo lhes dará um sinal: eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho e lhe chamará Emanuel.
O propósito de Mateus é mostrar que, quando Jesus nasceu de Maria, nada menos do que a “Shekinah”, a presença revelada de Deus, foi manifesta (embora em carne humana) no meio do seu povo, e assim, continuaria, mesmo após o término da vida terrena de Jesus, pois o Evangelho de Mateus conclui com a grande promessa: “eis que estou com vocês todos os dias até o fim dos tempos” (Mt 28.20b).
Como a verdade de que Jesus é o “Deus conosco” (Emanuel), que salva do pecado afeta nossa maneira prática (pessoal e comunitária) de viver a justiça e de experimentar a presença de Deus?
O nascimento do Rei
A passagem pode ser dividida em três partes:
1 - O Cenário. 1.18
Mateus 1.18 O nascimento de Jesus Cristo foi assim: Maria, a sua mãe, estava comprometida para casar com José. Mas, antes de se unirem, ela se achou grávida pelo Espírito Santo.
1... O nascimento de Jesus Cristo foi assim: Maria, a sua mãe... Maria é apresentada discretamente. Embora ao compararmos os relatos dos demais evangelhos, possamos obter deles um retrato mais completo, Maria não ocupa muito espaço no Evangelho de Mateus. O evangelista contradiz o dogma católico que afirma a imaculada conceição de Maria – afirmado em 1854. O respeito pela designação divina de Maria, não deve, porém, levar à formulação de ensinos que contrariem as Escrituras.
1... estava comprometida para casar com José.
O compromisso de casamento era uma ligação legal; apenas o divórcio em juízo poderia desfazê-lo, e a infidelidade nesse estágio do compromisso era considerada adultério.
Era comum entre os judeus primeiro se casar, depois, consumá-lo, levando a mulher para a casa do marido. Embora a mulher ainda não fosse casada nem tivesse entrado na casa do marido, ainda assim, era considerada esposa de um homem. Essa distinção entre uma mulher casada e uma virgem prometida era precisamente o caso de Maria.
1... Mas, antes de se unirem... A gravidez de Maria foi descoberta enquanto ela ainda era noiva, e o contexto pressupõe que Maria e José eram castos.
1... ela se achou grávida pelo Espírito Santo. O poder do Senhor, manifesto no Espírito Santo que se esperava fosse ativo na era messiânica, realizou milagrosamente a concepção. Isso ocorreu para que a natureza humana de Cristo estivesse livre da poluição original; para que, sendo o produto imediato do Espírito Santo e sem pecado, fosse plenamente adequada à união com o Filho de Deus e ao ofício de Mediador que ele havia assumido. Jesus é o filho de Davi, filho de Abraão, mas, igualmente, é gerado pelo Espírito Santo. Plenamente humano e plenamente divino.
2 - A salvação de Deus. 1.19-23
19José, com quem Maria estava para casar, sendo um homem justo e não querendo envergonhá-la em público, resolveu deixá-la sem que ninguém soubesse. 20Enquanto ele refletia sobre isso, eis que lhe apareceu em sonho um anjo do Senhor, dizendo: — José, filho de Davi, não tenha medo de receber Maria como esposa, porque o que nela foi gerado é do Espírito Santo. 21Ela dará à luz um filho e você porá nele o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos pecados deles. 22Ora, tudo isto aconteceu para se cumprir o que foi dito pelo Senhor por meio do profeta: 23“Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, e ele será chamado pelo nome de Emanuel.” (“Emanuel” significa: “Deus conosco”.)19José, com quem Maria estava para casar, sendo um homem justo e não querendo envergonhá-la em público, resolveu deixá-la sem que ninguém
soubesse. Ao tomar conhecimento da gravidez de Maria, José, por ser um homem justo, não podia, em sã consciência, casar com ela, agora supostamente infiel. Por esse casamento ser uma admissão tácita de sua própria culpa, e por não querer expô-la à desgraça do divórcio público, José optou por uma solução mais discreta, permitida pela lei.
20Enquanto ele refletia sobre isso, eis que lhe apareceu em sonho um anjo do Senhor, dizendo: — José, filho de Davi, não tenha medo de receber Maria como esposa, porque o que nela foi gerado é do Espírito Santo. José tentou resolver esse dilema da forma que lhe parecia mais adequada. Foi então que, Deus interveio por meio de um sonho. José já havia decidido o caminho a seguir, quando Deus interveio. Agora, ele deveria “receber” Maria como esposa - expressão que reflete principalmente os costumes de casamento da época, embora, não exclui o intercurso sexual, pois a gravidez de Maria era um ato direto do Espírito Santo.
No Novo Testamento, os sonhos como forma de comunicação divina são muito raros (Mateus 1.20; 2.2,13,19,22, 27.19; At 2.17). O foco está na intervenção providente e graciosa de Deus para o cumprimento de seus propósitos. Os sonhos sempre ocuparam o imaginário popular dos crentes; contudo, da perspectiva bíblica, tratam-se de comunicações específicas de Deus para revelar seu plano para o seu povo. Após o encerramento do cânon das Escrituras, tornaram-se dispensáveis.
Deus pode se comunicar por sonhos? A resposta mais objetiva é: sim, Deus pode fazer o que ele quiser. No entanto, os sonhos devem estar sujeitos à revelação escrita de Deus, nesse sentido, os torna irrelevantes.
21Ela dará à luz um filho e você porá nele o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos pecados deles. Sem dúvida, foi a graça divina que solicitou a cooperação de Maria antes da concepção e a de José depois disso. Aqui, José é apresentado ao mistério da encarnação e Mateus revela o propósito de seu relato. “Jesus” é a forma grega de “Josué”, que significa “Yahweh salva”, e identifica o Filho de Maria como aquele que traz a salvação prometida. Havia grande expectativa entre os judeus quanto à vinda de um Messias que redimiria Israel da tirania romana e purificaria seu povo. No entanto, não se esperava que o Messias davídico entregasse sua própria vida em resgate para salvar seu povo do pecado.
Da perspectiva bíblica, o pecado é a causa fundamental (se não sempre a imediata) de todas as calamidades. Por isso, este versículo orienta o leitor para o propósito fundamental da vinda de Jesus e para a natureza essencial do reinado que ele inaugura como Rei-Messias, herdeiro do trono de Davi.
Matthew Henry (1662 a 1714 - pregador presbiteriano e teólogo puritano, reconhecido por seu extenso comentário bíblico devocional) disse:
A José é dito que Maria deve dar à luz o Salvador do mundo. José deve chamá-lo Jesus, o Salvador. Jesus e Josué são o mesmo nome. A razão para esse nome é clara, pois aqueles que Cristo salva, Ele os salva de seus pecados; da culpa do pecado pelo mérito de Sua morte, e do poder do pecado pelo Espírito de Sua Graça. Ao salvá-los do pecado, Ele os salva da ira, da maldição e de toda miséria, aqui e no além. Cristo veio salvar Seu povo não em seus pecados, mas dos seus pecados; e isso para redimi-los dentre os homens para Si mesmo, que está separado dos pecadores.
22Ora, tudo isto aconteceu para se cumprir o que foi dito pelo Senhor por meio do profeta... Essa é a primeira menção do termo cumprir, que o evangelista utilizará diversas vezes ao longo de seu relato.
Mateus encontra no A. T. não apenas predições isoladas acerca do Messias, mas também vê na história e no povo do pacto, paradigmas que apontam para ele.
23“Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, e ele será chamado pelo nome de Emanuel.” (“Emanuel” significa: “Deus conosco”.) Não é possível conceber bênção maior do que a de Deus habitar com seu povo. Jesus é o chamado “Deus conosco” e, como se isso não fosse suficiente, promete – pouco antes de sua ascensão - estar conosco até o fim das eras (Mt 28.20), quando retornará a fim de compartilhar o banquete messiânico com seu povo (Mt 25.10).
Mateus não hesita em aplicar as passagens do A. T. que descrevem Yahweh diretamente a Jesus.
3 - A obediência de José. 1.24-25
24Quando José despertou do sono, fez como o anjo do Senhor lhe havia ordenado e recebeu Maria por esposa. 25Porém não teve relações com ela enquanto ela não deu à luz um filho, a quem pôs o nome de Jesus.
Quando José despertou do sono “recebeu Maria por esposa”. Do início ao fim da introdução, o Evangelho de Mateus repete o padrão da intervenção soberana de Deus, seguida pela resposta dos homens (José e os magos). Embora a história seja contada de forma simples, a obediência e submissão de José, nessas circunstâncias, são dificilmente menos notáveis que as de Maria.
Mateus quer deixar bem clara a concepção virginal de Jesus, pois acrescenta que José não teve união sexual com Maria - “não teve relações com ela” - enquanto ela não deu à luz a Jesus.
D.A. Carson diz: “O condicional “enquanto” quer dizer mais naturalmente que, após o nascimento de Jesus, Maria e José desfrutaram de relações conjugais normais... não indica celibato continuado após o nascimento de Jesus, mas enfatiza a fidelidade do celibato até o nascimento de Jesus.
Mateus 12.46 Enquanto Jesus ainda falava ao povo, eis que a mãe e os irmãos dele estavam do lado de fora, procurando falar com ele. 47E alguém lhe disse: — A sua mãe e os seus irmãos estão lá fora e querem falar com o senhor.
É deleitoso observar que, de acordo com essa passagem, Jesus está conosco como Deus, com o propósito de nos salvar. A encarnação de Jesus é a nossa salvação.
O Rei divino humano
Isaías 9.6 Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu. O governo está sobre os seus ombros, e o seu nome será: “Maravilhoso Conselheiro”, “Deus Forte”, “Pai da Eternidade”, “Príncipe da Paz”.
Isaías prevendo a chegada do Redentor afirmou que a criança será conhecida como “Deus Forte”. John Gill (1697-1771 - teólogo, pregador e erudito batista reformado inglês do século XVIII. Considerado uma figura chave na tradição batista calvinista) refletindo sobre a passagem afirmou:
A salvação aqui atribuída a ele, e para a qual ele está apto de todas as maneiras, sendo Deus assim como homem, e da qual ele é o único autor, deve ser entendida, não como temporal, mas como espiritual e eterna salvação; tal como foi profetizado (Isaías 45.17), e que o velho Jacó tinha em vista, quando disse: "A tua salvação espero, ó Senhor!” (Gênesis 49.18).
O catecismo Nova Cidade elucida:
Pergunta 23 - Por que o Redentor tem de ser verdadeiramente Deus? Porque, em virtude de sua natureza divina, sua obediência e seu sofrimento seriam perfeitos e eficazes, e ele seria capaz de suportar a justa ira de Deus contra o pecado, embora vencendo a morte.
A encarnação do Filho de Deus suscita algumas questões. James Boyce (1827 a 1888 - Fundador do Seminário Teológico Batista do Sul dos EUA) explica:
1. Em sua encarnação, preservou inalteradas suas relações essenciais com a natureza ou a essência divina. A subordinação, da forma como voluntariamente assumida pelo Filho, era, manifestamente, de uma pessoa divina em relação a outra. Não poderia ser uma subordinação de natureza divina a outra, pois existe apenas uma única natureza divina.
2. As Escrituras ensinam que, enquanto ele estava encarnado, era verdadeiramente Deus. Todos os atributos da divindade são atribuídos a ele: eternidade da existência, autoexistência, onipotência, onipresença, onisciência, presença no céu e na terra, contemplação e unidade com o Pai e cooperação com ele.
Foi na mesma forma humana que ele realizou atos que ninguém além de Deus poderia fazer, declarando que esses atos haviam sido realizados por seu próprio poder... Ele perdoava os pecados. Ele dava vida aos mortos. Ele tornou conhecidos eventos em lugares distantes. Ele vasculhou os corações e revelou os pensamentos secretos dos homens. Ele abandonou a própria vida e a recuperou.
Portanto, nos juntamos a Spurgeon e declaramos: “O Senhor da glória nasce como o Filho do homem e é nomeado pela ordem de Deus e pela boca do homem, Jesus, o Salvador”.
Aplicações
Mateus 1.21 Ela dará à luz um filho e você porá nele o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos pecados deles.
Duas ênfases teológicas de Mateus:
● O Rei
1. Nosso pecado foi cometido contra Deus, e somente ele pode perdoar uma transgressão contra si mesmo. Os crentes receberam o perdão completo de seus pecados: a dívida do pecado foi paga.
2. Jesus precisava ser plenamente Deus para que sua obediência e seu sofrimento fossem perfeitos, e para que a justiça de Deus fosse plenamente e eternamente satisfeita. A culpa pelos pecados foi removida.
3. Se Jesus é Deus, então não existem cristãos nominais ou meros simpatizantes. A encarnação do Filho coloca os homens diante de um dilema: se ele é tudo o que afirma ser, então deve ser adorado e reconhecido.
● O Reino
1. A entrada no reino é sempre por meios extraordinários. Ninguém pode forçar ou adentrar o reino de Deus por vontade própria. Em sua divindade, ele concede passagem àqueles que se achegam a ele.
2. O reino de Deus é alicerçado em realidades diferentes. Nele, os primeiros são os últimos, e os últimos, primeiros; os maiores são os servos. Elementos como amor sacrificial, perdão e graça são componentes inerentes desse reino.
Conclusão
O nascimento de Jesus, em Mateus, estabelece-o como o “Rei divino humano” (Emanuel, "Deus conosco"), cumprindo profecias. Sua concepção sobrenatural confirma que Jesus é plenamente Deus e homem, vindo para salvar seu povo dos pecados. Essa verdade transforma a vida prática (pessoal e comunitária), exigindo adoração, submissão e inserção no Reino, onde a justiça se manifesta em amor, perdão e graça.
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