A Coroação do Rei




Mateus 3.13 Por esse tempo, Jesus foi da Galileia para o rio Jordão, a fim de que João o batizasse. 14João, porém, quis convencê-lo a mudar de ideia, dizendo: — Eu é que preciso ser batizado por você, e é você que vem a mim? 15Mas Jesus respondeu: — Deixe por enquanto, porque assim nos convém cumprir toda a justiça. Então ele concordou. 16Depois de batizado, Jesus logo saiu da água. E eis que os céus se abriram e ele viu o Espírito de Deus descendo como pomba, vindo sobre ele. 17E eis que uma voz dos céus dizia: — Este é o meu Filho amado, em quem me agrado.

Era necessário que houvesse algum reconhecimento público do Rei. Jesus tinha certeza de que o ministério profético de João — batismo para o arrependimento — possuía profundo significado para Ele como Messias.

É razoável questionar a razão pela qual Cristo procurou ser batizado. Certamente, o propósito não era remover o pecado original ou o atual, pois Ele não possuía nenhum dos dois. Além disso, o batismo não tem essa eficácia naqueles que apresentam um ou ambos os tipos de pecado.

O batismo de Jesus por João Batista é interpretado como a coroação pública do Messias e como a instituição do batismo enquanto primeira ordenança de obediência e compromisso público para os seguidores de Cristo.

De que forma a nossa obediência à ordem de Jesus para sermos batizados, bem como às demais ordenanças, reflete o compromisso de Cristo em "cumprir toda a justiça"? Além disso, como o nosso batismo — ou o nosso compromisso público com Cristo e sua igreja — nos separa ativamente do mundo e fortalece o nosso papel como cidadãos do Reino?

O batismo de Jesus

Jesus vai a Galileia. 3.13

Mateus 3.13 Por esse tempo, Jesus foi da Galileia para o rio Jordão, a fim de que João o batizasse.

Quando João Batista já estava pregando a doutrina do arrependimento e realizando o batismo, Jesus veio da Galileia com o propósito de ser batizado. Esse ato demonstra a profunda humildade de Cristo, que se dirige a João — seu servo — sem chamá-lo, e também a sua alegre e voluntária sujeição à ordenança do batismo, visto que Ele, por iniciativa própria, realizou a longa e cansativa jornada de três dias de viagem para ser batizado por João, seu servo.

Esta passagem destaca a importância do batismo. Alguém pode questionar: "O batismo não é essencial?". Ele foi essencial para Jesus. Se está escrito que deve ser feito e, se foi tão necessário para ele, não pode ser considerado desnecessário para seus seguidores. Mesmo que exija algum esforço, devemos cumprir essa ordem, que é obrigatória para todos os que creem.

A recusa de João em batizar Jesus. 3.14-15

14João, porém, quis convencê-lo a mudar de ideia, dizendo: — Eu é que preciso ser batizado por você, e é você que vem a mim? 15Mas Jesus respondeu: — Deixe por enquanto, porque assim nos convém cumprir toda a justiça. Então ele concordou.

A passagem de Mateus 3:14-15 é singular deste evangelho.

14João, porém, quis convencê-lo a mudar de ideia, dizendo: — Eu é que preciso ser batizado por você, e é você que vem a mim? Inicialmente, João Batista tentou impedir Jesus de ser batizado, argumentando que a ordem deveria ser inversa: ele próprio, João, é que precisava ser batizado por Jesus. Anteriormente, João havia demonstrado reservas em batizar fariseus e saduceus, considerando-os indignos. Agora, porém, o desafio era diferente: ele hesitava em batizar Jesus por considerar seu próprio batismo insuficiente ou indigno para alguém como ele.

João Batista demonstrava humildade e, consciente de sua própria condição de pecador, não conseguia identificar em Jesus qualquer pecado que demandasse arrependimento ou confissão. Isso o levava a concluir que Jesus é quem deveria batizá-lo. Em Mateus, o foco principal está na impecabilidade de Jesus e no testemunho de Deus Pai, e não no testemunho de João Batista — uma distinção importante em relação ao Evangelho de João.

15Mas Jesus respondeu: — Deixe por enquanto, porque assim nos convém cumprir toda a justiça. Então ele concordou.

O consentimento de João foi conseguido porque Jesus lhe disse: “assim nos convém cumprir toda a justiça”.

O batismo realizado por João enfatizava dois pontos principais: arrependimento e urgência. Jesus reconhece que o seu próprio batismo é a vontade de Deus, e tanto ele quanto João "cumprem" a justiça ao se submeterem a esse ritual até o fim. Conforme observado por Mateus (vv. 16,17), o resultado desse batismo aponta claramente para Jesus, que é identificado como o Servo Sofredor (Is 42.1). A principal característica desse Servo é a obediência a Deus: Ele “cumpre toda a justiça” ao sofrer e morrer para efetuar a redenção, em plena submissão à vontade divina. Assim, por meio do batismo, Jesus demonstra Sua firme determinação em realizar a obra que lhe foi designada.

A atitude de João Batista serve como modelo para todos os cristãos. Os seguidores de Cristo devem reconhecer sua insuficiência para realizar as tarefas da causa de Cristo na terra e, ao mesmo tempo, devem se identificar com o Salvador. Cristo realizou todas as boas obras e concedeu Seu Espírito para que os crentes pudessem edificar uns aos outros.

Efésios 4.7 E a graça foi concedida a cada um de nós segundo a medida do dom de Cristo. 8Por isso diz: “Quando ele subiu às alturas, levou cativo o cativeiro e concedeu dons aos homens.”

A Aprovação Divina. 3.16-17

16Depois de batizado, Jesus logo saiu da água. E eis que os céus se abriram e ele viu o Espírito de Deus descendo como pomba, vindo sobre ele. 17E eis que uma voz dos céus dizia: — Este é o meu Filho amado, em quem me agrado.

16Depois de batizado, Jesus logo saiu da água. E eis que os céus se abriram e ele viu o Espírito de Deus descendo como pomba, vindo sobre ele. O texto sugere que a saída imediata de Jesus da água, após o batismo, foi acompanhada por uma atestação igualmente imediata do Espírito. O batismo de Jesus e essa confirmação constituem um único evento e devem ser interpretados em conjunto.

A expressão "os céus se abriram" remete às visões encontradas no Antigo Testamento. Por exemplo:

Isaías 64.1 Ah! Se fendesses os céus e descesses! Se os montes tremessem na tua presença,

Ezequiel 1.1 No trigésimo ano, no quinto dia do quarto mês, estando eu no meio dos exilados, junto ao rio Quebar, os céus se abriram e eu tive visões de Deus.

A comparação "o Espírito de Deus descendo como pomba" pode significar que o Espírito desceu de maneira semelhante à de uma pomba ou que Ele assumiu a forma de uma pomba.

É um notável paradoxo que o Messias, destinado a batizar com fogo, tenha visto o Espírito Santo descer sobre Ele em seu batismo na forma de uma pomba — um símbolo de gentileza e mansidão. Em Jesus, observamos a união da "bondade e severidade de Deus" (Rm 11:22). Essa dualidade permeia todo o Novo Testamento, manifestando-se de forma proeminente no Evangelho de Mateus.

Contudo, a descida do Espírito não pode ser adequadamente avaliada sem a consideração do versículo 17; portanto, a compreensão plena de seu significado será tratada na análise desse versículo.

17E eis que uma voz dos céus dizia: — Este é o meu Filho amado, em quem me agrado. A descida do Espírito, mencionada no versículo 16, precisa ser compreendida à luz do versículo 17. O Espírito é derramado sobre o servo em Isaías 42.1-4, passagem à qual o versículo 17 faz alusão.

Isaías 42.1“Eis aqui o meu servo, a quem sustenho; o meu escolhido, em quem a minha alma se agrada. Pus sobre ele o meu Espírito, e ele promulgará o direito para os gentios.

Essa voz é a própria voz de Deus e testifica que o próprio Deus irrompeu na história — um claro sinal do alvorecer da era messiânica. Já no início do ministério público de Jesus, o Pai o apresenta, ainda que de forma velada, como simultaneamente o Messias davídico, o Filho de Deus, o representante do povo e o servo sofredor. Mateus já introduziu todos esses temas e os desenvolverá ao longo de todo o seu evangelho.

O derramamento do Espírito não altera a condição de Jesus — que já era o Filho — nem lhe confere novos direitos. Em vez disso, esse evento o identifica como o Servo e o Filho prometidos, marcando o início de seu ministério público e seu confronto direto com Satanás (Mt 4.1), o que representa o alvorecer da era messiânica (12.28).

O batismo de Cristo serviu a múltiplos propósitos:

  • ●  Aprovação e Testemunho: Demonstrar sua aprovação ao batismo de João, atestando sua origem divina.

  • ●  Identificação Messiânica: Receber um testemunho do céu e de João, confirmando que Ele era o Filho de Deus e o verdadeiro Messias, antes de iniciar Seu ministério público (ao qual esse ato o introduziu e, de certa forma, instalou).

  • ●  Exemplo: Estabelecer um modelo para seus seguidores, incentivando a obediência a essa ordenança.

●  Cumprimento da Justiça: Em última análise, como Ele mesmo declarou, "cumprir toda a justiça".

 

O compromisso com o Rei coroado

16Depois de batizado, Jesus logo saiu da água. E eis que os céus se abriram e ele viu o Espírito de Deus descendo como pomba, vindo sobre ele. 17E eis que uma voz dos céus dizia: — Este é o meu Filho amado, em quem me agrado.

Matthew Henry (1662-1714), um pregador presbiteriano e teólogo puritano famoso por seu vasto e devocional comentário bíblico, destacou um ponto relevante: “No batismo de Cristo houve uma manifestação das três pessoas na sagrada Trindade. O Pai confirmando o Filho ser mediador; o Filho entrando solenemente na obra; o Espírito Santo descendo sobre Ele, para ser através de Sua mediação comunicado ao Seu povo.”

Spurgeon afirma: “Nosso Senhor e Rei está agora totalmente diante de nós. Ele foi precedido, previsto e indicado por João Batista; Ele foi consagrado à sua obra no batismo; Ele foi ungido pelo Espírito e confessado pelo Pai; e, portanto, Ele tem justamente iniciado a sua obra como Rei.”


Em outro ponto diz: “Nosso Rei foi agora anunciado e ungido. Seu próximo passo não seria se apossar do reino? Nós veremos”.

Como Rei, Ele exige a obediência de seus súditos, e a primeira demonstração dessa obediência é o batismo — o mesmo ato que ele próprio realizou.

1 - O que é o batismo?

Bobby Jamieson ofereceu uma definição exata de batismo:

O batismo é o ato de uma igreja afirmar e representar a união de um crente com Cristo, imergindo-o em água; e o ato de um crente se comprometer publicamente com Cristo e com o seu povo, unindo assim um crente à igreja e o distinguindo do mundo.

Analisemos cada segmento desta frase, refletindo sobre como cada declaração encontra seu fundamento nas Escrituras.

O ato de uma igreja.

Mateus 18.18 — Em verdade lhes digo que tudo o que ligarem na terra terá sido ligado nos céus, e tudo o que desligarem na terra terá sido desligado nos céus.

As chaves do Reino servem para ligar na terra o que está ligado no céu e para desligar na terra o que está desligado no céu. Isso significa que os apóstolos e as igrejas reunidas têm a autoridade para tornar pública uma declaração ou veredicto em nome de Jesus.

Afirmar e representar a união de um crente com Cristo.

Romanos 6.4 Fomos sepultados com ele na morte pelo batismo, para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também nós andemos em novidade de vida.

O batismo é um sinal da aplicação do evangelho. Ele indica que a pessoa renunciou ao pecado e foi unida a Cristo pela fé.

Imergindo-o em águas.

Romanos 6.4 Fomos sepultados com ele na morte pelo batismo, para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também nós andemos em novidade de vida.

Como uma igreja afirma e representa a união de um crente com Cristo? Ao imergi-lo em água. A palavra grega baptizo, da qual deriva nossa palavra "batizar", significa mergulhar ou imergir algo em água, geralmente resultando em submersão completa.

O ato de um crente.

Atos 2.41 Então os que aceitaram a palavra de Pedro foram batizados, havendo um acréscimo naquele dia de quase três mil pessoas.

O batismo é o primeiro ato público de fé daquele que recebe Cristo como Salvador e Senhor. Não é algo que os não cristãos devam praticar. O batismo afirma e retrata a união do crente com Cristo; portanto, somente aqueles que estão unidos a Cristo pela fé devem ser batizados.

Comprometendo-se publicamente com Cristo.

Romanos 6.3 Ou será que vocês ignoram que todos nós que fomos batizados em Cristo Jesus fomos batizados na sua morte?

O batismo representa o compromisso público de um crente com Cristo. É a forma pela qual ele se apresenta como

cristão, professando publicamente sua fé e submissão ao Senhor Jesus Cristo.

E com o seu povo.

1 Coríntios 12.12 Porque, assim como o corpo é um e tem muitos membros, e todos os membros, mesmo sendo muitos, constituem um só corpo, assim também é com respeito a Cristo. 13Pois, em um só Espírito, todos nós fomos batizados em um só corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres. E a todos nós foi dado beber de um só Espírito.

No batismo, um crente compromete-se não apenas com Cristo, mas também com o povo de Cristo. O batismo, portanto, é um compromisso de seguir a Cristo na companhia de sua igreja. Nele, o cristão se compromete a amar, servir e se submeter ao povo de Cristo.

Unindo assim um crente à igreja e o distinguindo do mundo.

Mateus 28.19 Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, 20ensinando-os a guardar todas as coisas que tenho ordenado a vocês. E eis que estou com vocês todos os dias até o fim dos tempos.

O ato do batismo comunica o compromisso do crente: "Eu, por meio do batismo, me comprometo com Cristo e com vocês, o povo dele"; e comunica também o compromisso da igreja: "Afirmamos a sua profissão de fé e nos comprometemos com você, como membro do corpo de Cristo".

2 - A ordenança do batismo

Mateus 28.19 Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, 20ensinando-os a guardar todas as coisas que tenho ordenado a vocês. E eis que estou com vocês todos os dias até o fim dos tempos.

Se você é cristão, Jesus ordena que você seja batizado. Todos aqueles que se tornam discípulos são batizados; não existe uma categoria de discípulo não batizado. Após o arrepender e a fé, o batismo é a primeira ordenança que os seguidores de Jesus são chamados a obedecer. Como um novo seguidor de Cristo, o batismo é a primeira ação que você realiza.

Uma questão frequentemente levantada é: as crianças devem ser batizadas? Católicos romanos e alguns outros grupos defendem a crença de que o batismo, por si só, confere graça salvífica ao batizando, unindo-o ao corpo espiritual de Cristo. Nessa perspectiva, o ato é intrinsecamente eficaz, o que significa que a criança que o recebe não precisa manifestar fé ou consentimento explícito para que o batismo cumpra seu propósito.

No entanto, essa interpretação do batismo é incompatível com a essência do Evangelho. A salvação é alcançada pela união com Cristo por meio da fé. As ordenanças, como o batismo e a Ceia do Senhor, servem para representar e confirmar essa união, mas não são o meio pelo qual ela é efetuada.

Surge, então, uma reflexão crucial: por que, se o batismo infantil fosse salvífico, tantos dos que foram batizados na infância nunca demonstram evidências de fé genuína? Onde estaria, nesse caso, a eficácia da fé deles?

O argumento mais robusto para o batismo de crianças na tradição reformada, especialmente entre os evangélicos presbiterianos, baseia-se na forte ligação entre as alianças divinas e seus respectivos sinais.

A importância da fé e do compromisso explícito, essenciais para o batismo do crente, nos leva a considerar a função

eclesiástica deste ato. A seguir, seis fatores demonstram por que a Bíblia estabelece o batismo como condição para a membresia da igreja.

Aplicações

Os seis fatores apresentados a seguir, quando considerados em conjunto, demonstram que a Bíblia estabelece o batismo como condição para a membresia da igreja.

O Rei

  1. O batismo é onde a fé se torna pública. No batismo, nós nos "distinguimos” como cristãos. Identificamos-nos publicamente com o Cristo crucificado e ressurreto, bem como com o seu povo.

  2. O batismo é o sinal de juramento inicial da nova aliança. É o ato que promulga publicamente a nossa promessa de confiar em Cristo e viver segundo a nova aliança. Trata-se de um voto solene e simbólico que confirma a entrada nessa aliança. No batismo, rogamos a Deus que nos receba nos termos da nova aliança e nos comprometemos a cumprir, pela graça, tudo o que ela exige de nós.

  3. O batismo é um critério necessário pelo qual a igreja reconhece quem é cristão. É por meio do batismo que a igreja identifica publicamente alguém como cristão; portanto, ele funciona como um critério necessário para o reconhecimento e a afirmação eclesiástica da fé de uma pessoa.

O reino

  1. O batismo é o passaporte do reino e a cerimônia de juramento do cidadão do reino. Jesus concedeu à igreja as "chaves do reino" com o propósito de discernir seus membros perante o mundo, validando as declarações de fé daqueles que, de maneira convincente, professam crer nele (Mt 16.19 e 18.18-19).

  2. O batismo é um sinal efetivo de membresia da igreja. Ele cria a realidade eclesiástica para a qual aponta: um cristão pertencendo a uma igreja local, e essa igreja local afirmando a profissão de fé desse cristão e unindo tal pessoa a si mesma. Se a membresia fosse uma casa, o batismo seria a porta da frente.

  3. Sem o batismo, a membresia não existe. "Membresia" é um termo teológico que descreve a relação entre um cristão e uma igreja. Essa relação é evidente no Novo Testamento, na medida em que algumas pessoas estão "dentro” da igreja e outras estão "fora" (1Co 5.12). Falar de membresia sem batismo é como falar de casamento sem votos.

Conclusão

O batismo de Jesus estabeleceu o modelo de obediência total para "cumprir toda a justiça". Para o crente, o batismo é um ato de fidelidade que reflete essa justiça de Cristo — o nosso "passaporte" que nos separa publicamente do mundo e nos integra ativamente ao corpo de Cristo, o seu Reino na terra.


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