Imitadores de Deus: A ética sexual
Efésios 5.3 Entre vocês não deve haver nem sequer menção de imoralidade sexual, nem de nenhuma espécie de impureza ou de cobiça, pois essas coisas não são próprias para os santos. 4Não haja obscenidade, nem conversas tolas, nem piadas indecentes, que não são apropriadas, mas, em vez disso, ações de graças. 5Porque vocês podem estar certos de que nenhum imoral, ou impuro, ou ganancioso, que é idólatra, tem herança no reino de Cristo e de Deus. 6Ninguém os engane com palavras vazias, pois é por causa dessas coisas que a ira de Deus vem sobre os filhos da desobediência. 7Portanto, não se associem com eles.
O apóstolo partiu da imitação de Deus (Ef 5.1) para a aparência do mal. Ele contrasta e exemplifica como os crentes podem, facilmente, deixar de parecerem com Cristo para se tornarem semelhantes aos incrédulos. Oferece exemplos práticos contrários ao imperativo anterior de “viver em amor” (Ef 5.2). Exemplos práticos de conduta ética reprovável para os imitadores de Deus. Ele argumenta, que os crentes são o novo povo de Deus, e por isso, devem adotar novos padrões de comportamento. Porque nos despojamos do “velho homem” (Ef 4.22) e nos revestimos do novo homem (Ef 4.24), devemos usar roupas adequadas à nova realidade. Nesse sentido, acrescenta novos e pungentes argumentos em prol da pureza da igreja. Paulo não mede palavras.
Notoriamente, a Bíblia adverte e nos oferece diversos casos dramáticos (Davi e Bate-Seba o mais conhecido) quanto a imoralidade e impureza sexual. Desde de a época de Ló, o sobrinho de Abraão, as Escrituras Sagradas, instruem o povo de Deus acerca das relações sexuais ilícitas. Por que a Bíblia se preocupa tanto com a impureza sexual? Não é por acaso que a passagem mencionou o assunto. Nosso intuito, nessa perspectiva, é analisar com cuidado os ensinos bíblicos concernentes à ética sexual, sua importância para Deus e o evangelho e os resultados em caso de transgressão.
A imoralidade sexual
Efésios 5.3 Entre vocês não deve haver nem sequer menção de imoralidade sexual, nem de nenhuma espécie de impureza ou de cobiça, pois essas coisas não são próprias para os santos. 4Não haja obscenidade, nem conversas tolas, nem piadas indecentes, que não são apropriadas, mas, em vez disso, ações de graças.
A presente lista não tem a intenção de ser definitiva ou exaustiva – novos vícios relacionados à ética sexual podem ser acrescentados com os mesmos resultados desastrosos. Ela pode ser comparada com outras listas semelhantes em diferentes correspondências de Paulo (Rm 1.18-32; 1Co 5.9-11; Gl 5.19-21). O versículo 3 enfatiza a perversão sexual em atos e atitudes. O versículo 4 realça os mesmos pecados em palavras.
“Entre vocês não deve haver nem sequer menção de imoralidade sexual, nem de nenhuma espécie de impureza ou de cobiça” - o apóstolo pretendeu ser bem abrangente ao citar a imoralidade sexual. A expressão inclui relações sexuais ilícitas de toda espécie. A perversão sexual era, e ainda é atualmente, um traço característico do paganismo. Para reforçar o argumento, ele acrescenta a expressão “cobiça”. O termo utilizado transmite a ideia de ultrapassar ou exceder. Pessoas que ultrapassam ou excedem os limites estabelecidos por Deus, no que se refere a pureza sexual, para atender aos desejos do seu coração, se enquadram na descrição da passagem.
Paulo segue, e adiciona a imoralidade sexual também por meio de palavras - “Não haja obscenidade, nem conversas tolas, nem piadas indecentes”. Obviamente, que ele não pretendeu afirmar que o sexo nunca deve ser assunto para discussão. Que em nenhuma hipótese, devemos ouvir advertências ou admoestações acerca do tema ou relacionados a ele. Sua consideração é que qualquer ato, atitude ou palavra que um crente sensível às exigências da santa lei de Deus precisa evitar a todo custo. Gracejos vulgares, piadas indecentes e conversas picantes, mencionando pecados contra os preceitos de Deus “não são próprias para os santos”. Não existe nada de errado em elogios sinceros e respeitosos. Bom humor é o que todos nós precisamos de vez em quando. No entanto, alguns comentários são desnecessários e pecaminosos e devem ser evitados e repreendidos.
Qual é o remédio para as questões citadas? Paulo responde: “em vez disso, ações de graças”. À medida que a mente e o coração do cristão, são centrados em todas as fulgurantes e gloriosas belezas de Deus, e em suas preciosas e indescritíveis promessas o interesse nas coisas que ofendem o nosso amado Senhor se desvanece como ilusões, que na verdade, o são. Portanto, o apóstolo confronta ação de graças com vulgaridade.
A ética sexual da Bíblia
Efésios 5.3 Entre vocês não deve haver nem sequer menção de imoralidade sexual, nem de nenhuma espécie de impureza ou de cobiça, pois essas coisas não são próprias para os santos.
O tom do argumento do apóstolo assume a conotação de absoluta gravidade. Qualquer pessoa que ler esse texto com cuidado e atenção, pode notar a importância e o peso dado por Paulo ao tema. Os leitores da epístola podem se perguntar, porque existem mandamentos tão sérios e rígidos acerca do assunto?
Como um todo os seres humanos são fascinados por sexo. Em todas as culturas, o sexo tem arrebatado o imaginário e a vontade das pessoas. Homens e mulheres jogam fora suas famílias, casas, dinheiro e terras para alcançarem a satisfação sexual. Atualmente, o sexo se tornou casual, destituído de qualquer intimidade e com o intuito exclusivo de satisfazer o indivíduo. Não mais exige sequer uma aparência de compromisso permanente. A base fundamental do sexo é o prazer, a paixão e a liberdade pessoal.
A igreja cristã de maneira geral, anda um pouco confusa no que se refere à ética sexual. Muitos cristãos carecem de uma visão clara e bíblica sobre pureza sexual e relacionamentos que vá além do conceito truncado de “não pode fazer sexo”. Qualquer abordagem que veja o sexo como o mal a ser evitado a todo custo e não um dom de Deus a ser celebrado, perde o sentido e deixa de captar o ideal bíblico. Nesse sentido, se não compreendermos por que Deus criou o sexo, nunca poderemos de fato ver significado nos seus mandamentos sobre pureza sexual. Vamos dedicar um tempo para compreender o ensino bíblico sobre sexo.
Entendendo o propósito do sexo
Para compreendermos acertadamente, o propósito do sexo, faz se necessário adiantar um pouco a leitura da carta.
Efésios 5.31 “Por essa razão, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e os dois se tornarão uma só carne.” 32Este é um grande mistério; refiro‑me, porém, a Cristo e à igreja. 33Portanto, cada um de vocês também ame a sua esposa como a si mesmo, e a esposa trate o marido com todo o respeito.
Nessa passagem, Paulo traça um paralelo estreito entre o casamento cristão e o relacionamento de Cristo com a igreja. Paulo declara que o casamento é um grande mistério. Em toda a Bíblia, a expressão descreve a maravilhosa e gloriosa verdade de Deus revelada em Jesus. O apóstolo espantosamente aplica essa sentença tão impressionante ao casamento. Ainda mais surpreendente, Paulo acrescenta “refiro-me, porém, a Cristo e à igreja”. Mas ele não estava falando de casamento? Por que mudar o assunto assim? Exatamente neste ponto reside a importância do sexo, não naquilo que ele realiza num plano terreno, mas o que espelha num plano divino. Sexo e evangelho estão intrinsicamente ligados. De fato, entender um é dar sentido ao outro. O texto declara que Deus criou o sexo para servir como um retrato vívido da união espiritual e transformadora que os crentes têm com Deus por meio de Cristo. O sexo foi criado por Deus para servir como testemunho vivo do evangelho.
Relembrando o evangelho
Efésios 5.1 Portanto, sejam imitadores de Deus, como filhos amados, 2e vivam em amor, como também Cristo nos amou e se entregou por nós como oferta e sacrifício de aroma agradável a Deus.
Precisamos nos lembrar do contexto imediatamente anterior a passagem que estamos estudando. Nossa união espiritual com Cristo é um aspecto essencial, mas muitas vezes ignorado do evangelho. Um componente chave da salvação na Bíblia, é centrado em nossa conexão com a própria vida de Deus, por meio de Jesus Cristo e através da habitação do Espírito Santo. Esse relacionamento entre Deus e seu povo acontece por meio do pacto. Estamos aliançados com Deus. No fim, nossa esperança definitiva é que estamos casados com Cristo. Essa união com Cristo é o que garante nossa vida eterna. Resumidamente, casamento e sexo são ilustrações poderosas da aliança que existe entre Cristo e o cristão, e elas foram criadas precisamente para esse propósito.
O porque e como da pureza sexual
A principal intenção de Deus ao criar o sexo era para que ele servisse como um testemunho vivo da aliança espiritual entre Cristo e a igreja. Nossas vidas sexuais deveriam ser moldadas de acordo com a forma pela qual Cristo e a igreja se relacionam espiritualmente. Assim como Cristo se reserva espiritualmente para a sua esposa (a igreja), assim também somos chamados a nos reservarmos sexualmente para o nosso cônjuge na aliança do casamento. Portanto, a pessoa que usa a sexualidade de forma promíscua falha em agir consistentemente com a imagem de amor e entrega de Cristo por sua noiva. Assim, à medida que estudamos a pureza sexual, devemos lembrar que cada parte de nós, incluindo a sexualidade, tem um propósito mais alto do que meramente nosso prazer, pois cada parte de nós foi criada primariamente para refletir a glória de Deus.
Mais que um padrão subjetivo
Você poderia dizer com certeza e clareza como homens e mulheres devem se relacionar sexualmente com alguém do sexo oposto? Muitas pessoas constroem seus próprios padrões sexuais, geralmente, a partir de sua própria experiência, da experiência de pessoas conhecidas ou da cultura secular. A Bíblia fala com clareza – objetiva e atemporal – sobre o que é fisicamente apropriado entre um homem e uma mulher. Deus agrupou os relacionamentos em três categorias. Entender a dinâmica dessas categorias é o caminho para superar muito da subjetividade que cerca o decoro sexual, ajudando-nos a construir limites adequados de expressão sexual.
Relacionamento familiar. A ordem de Deus para as relações sexuais dentro do relacionamento familiar é clara: nenhuma atividade sexual deve ocorrer entre parentes sanguíneos.
Relacionamento conjugal. Uma segunda categoria de relacionamento ordenada por Deus é o relacionamento conjugal. No contexto do casamento, as relações sexuais não são apenas permitidas, como também ordenadas. Assim, se por um lado Deus proíbe relações sexuais entre parentes sanguíneos, Ele as ordena no casamento. Além disso, a Bíblia estabelece três princípios nucleares acerca do casamento - Efésios 5.31 “Por essa razão, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e os dois se tornarão uma só carne.”: monogamia, heterossexualidade e perpetuidade.
Relacionamento com o próximo. Essa categoria inclui todos aqueles que não são parentes sanguíneos e nem cônjuges. Paulo ensina:
1 Coríntios 7.7Gostaria que todos os homens fossem como eu; mas cada um tem o seu próprio dom da parte de Deus; um de um modo, outro de outro. 8Digo, porém, aos solteiros e às viúvas: É bom que permaneçam como eu. 9Mas, se não conseguem controlar-se, devem casar-se, pois é melhor casar-se do que ficar ardendo de desejo.
Aqueles com forte desejo por intimidade sexual – que o apóstolo denominou como “ardendo de desejo” – devem satisfazer esse desejo somente no contexto do relacionamento conjugal.
As implicações são claras: o relacionamento matrimonial é o único contexto legítimo para as relações sexuais. Então, a perspectiva bíblica sobre a pureza sexual dentro do relacionamento com o próximo pode ser detalhada da seguinte forma: as relações sexuais são proibidas.
A imagem de Deus preservada
Quando nos lembramos de que Deus criou o sexo como um meio de comunicar nossa união sobrenatural num só espírito com a vida divina de Cristo, podemos começar a entender porque Deus espera que limitemos o uso do sexo ao relacionamento conjugal. Assim como Cristo se reserva exclusivamente para a igreja, tornando-se um só espírito somente com sua noiva, nós também somos chamados a reservar nossa sexualidade exclusivamente para nosso cônjuge. Quando nossa sexualidade é manifestada fora do contexto do relacionamento conjugal, nós deixamos de retratar a imagem da união de Cristo e a igreja e da nossa devoção exclusiva a Ele. Devemos nos lembrar para quem nossa sexualidade foi feita. Ela foi feita prioritariamente para o Senhor, como expressão da natureza Dele e dos seus propósitos. Ignorar essa realidade e usá-la prematuramente para nossa gratificação é subtraí-la da sua importância e significado, logo, do seu verdadeiro prazer em nossa vida.
Os resultados trágicos da imoralidade
Efésios 5.5 Porque vocês podem estar certos de que nenhum imoral, ou impuro, ou ganancioso, que é idólatra, tem herança no reino de Cristo e de Deus. 6Ninguém os engane com palavras vazias, pois é por causa dessas coisas que a ira de Deus vem sobre os filhos da desobediência. 7Portanto, não se associem com eles.
O coração pastoral e amável de Paulo não poderia deixar os crentes enganados e seguindo em direção a condenação certa e definitiva de Deus. “Porque vocês podem estar certos de que nenhum imoral, ou impuro, ou ganancioso, que é idólatra, tem herança no reino de Cristo e de Deus”. O apóstolo é categoricamente alarmante: Ninguém que continue na prática dos pecados mencionados no versículo 3 e elaborados no 4, seja porque segue os velhos hábitos ou porque adotou uma desculpa razoável escapará do destino desastroso.
A inclusão do “ganancioso, que é idólatra” não é acidental, provavelmente, a menção é por causa da natureza egocêntrica dos pecados mencionados. Em todos os casos, o indivíduo está adorando alguém que não é o Deus vivo e verdadeiro do pacto. No final, ele está adorando a si próprio.
Paulo prossegue: “Ninguém os engane com palavras vazias, pois é por causa dessas coisas que a ira de Deus vem sobre os filhos da desobediência”. A ironia é que são palavras vazias de verdade, mas repletas de enganos e mentiras, e que finalmente, levarão as pessoas a experimentarem a ira de Deus. Paulo enfatiza aqui a realidade triste que visitará a todos aqueles que vivem nos pecados citados e que dão crédito para as alegações confortáveis, as quais lhes asseguram que tudo está bem. Calvino comentou essa passagem:
Em todas as épocas Satanás emprega bruxos dessa estirpe, os quais, por seus ímpios escárnios, fogem do juízo divino, e insensibilizam, como por encantamento, as consciências que não se acham bem fundadas no temor de Deus. “Esse é um erro trivial”, dizem eles. “A fornicação, para Deus, não passa de um jogo. Sob a lei da graça, Deus não é tão cruel. Ele não nos criou para sermos nossos próprios executores. A fragilidade da natureza nos justifica” – e assim por diante. Paulo, ao contrário, brada que devemos guardar-nos desse sofisma por meio do qual as consciências são enredadas para sua própria ruína.
Todavia, não deve escapar da nossa atenção que a severa e direta advertência bíblica tem como objetivo definitivo o arrependimento dos pecadores. A urgência apostólica não é para condenar as pessoas, mas para alertar para a necessidade iminente de penitência.
Conclusão
A certeza da salvação não é desculpa para a presunção ou conforto infundado. Por outro lado, não podemos ler esse texto e achar que ele não diz respeito aos crentes. Se cairmos em uma vida de imoralidade, cobiça e impureza não estaremos dando evidências claras de que somos, no final das contas, idólatras e não imitadores de Deus (Ef 5.1)? Que somos desobedientes ao invés de obedientes e, desse modo, objeto da ira inescapável de Deus. Faremos bem em sermos zelosos à advertência da Bíblia.
Comentários
Postar um comentário