Profeta




Gênesis 18.1 O Senhor apareceu a Abraão nos carvalhais de Manre, quando ele estava assentado à entrada da tenda, no maior calor do dia. 2Abraão levantou os olhos, olhou, e eis que três homens estavam em pé diante dele. Ao vê-los, Abraão correu da porta da tenda ao encontro deles, prostrou-se em terra 3e disse: — Senhor meu, se eu puder obter favor diante de seus olhos, peço que não passe adiante sem ficar um pouco com este seu servo. 4Vou pedir que se traga um pouco de água, para que lavem os pés e descansem debaixo desta árvore. 5Trarei um pouco de comida, para que refaçam as forças, visto que chegaram até este servo de vocês; depois, poderão seguir adiante. Responderam: — Faça como você disse. 6Abraão correu para a tenda de Sara e lhe disse: — Amasse depressa três medidas da melhor farinha e faça pão. 7Abraão, por sua vez, correu ao gado, pegou um novilho tenro e bom, e o entregou a um empregado, que se apressou em prepará-lo. 8Pegou também coalhada e leite e o novilho que tinha mandado preparar e pôs tudo diante deles; e permaneceu em pé junto a eles debaixo da árvore; e eles comeram. 9Então lhe perguntaram: — Onde está Sara, a sua mulher? Ele respondeu: — Está aí na tenda. 10Um deles disse: — Certamente voltarei a você, daqui a um ano; e Sara, a sua mulher, dará à luz um filho. Sara estava escutando, à porta da tenda, atrás de Abraão. 11Abraão e Sara já eram velhos, avançados em idade; e a Sara já lhe havia cessado o costume das mulheres. 12Por isso Sara riu em seu íntimo, dizendo consigo mesma: — Depois de velha, e velho também o meu senhor, terei ainda prazer? 13Então o Senhor perguntou a Abraão: — Por que Sara riu, dizendo: “Será verdade que darei ainda à luz, sendo velha?” 14Por acaso, existe algo demasiadamente difícil para o Senhor? Daqui a um ano, neste mesmo tempo, voltarei a você, e Sara terá um filho. 15Então Sara teve medo e negou, dizendo: — Eu não ri. Ele, porém, disse: — Não é verdade; é certo que você riu. 16Quando aqueles homens se levantaram dali, olharam para Sodoma; e Abraão ia com eles, para os encaminhar. 17O Senhor disse: — Será que eu devo esconder de Abraão o que estou para fazer, 18visto que Abraão certamente virá a ser uma grande e poderosa nação, e nele serão benditas todas as nações da terra? 19Porque eu o escolhi para que ordene aos seus filhos e a sua casa depois dele, a fim de que guardem o caminho do Senhor e pratiquem a justiça e o juízo, para que o Senhor faça vir sobre Abraão o que lhe prometeu. 20Então o Senhor disse: — O clamor contra Sodoma e Gomorra tem aumentado, e o seu pecado é gravíssimo. 21Descerei e verei se, de fato, o que têm praticado corresponde a esse clamor que veio até mim. E, se este não for o caso, eu ficarei sabendo. 22Assim, aqueles homens partiram dali e foram para Sodoma; mas Abraão ainda permaneceu na presença do Senhor. 23E, aproximando-se, Abraão perguntou: — Será que vais destruir o justo com o ímpio? 24Se houver, por acaso, cinquenta justos na cidade, ainda assim destruirás e não pouparás o lugar por amor dos cinquenta justos que nela se encontram? 25Longe de ti fazeres tal coisa: matar o justo com o ímpio, como se o justo fosse igual ao ímpio. Longe de ti! Será que o Juiz de toda a terra não faria justiça? 26Então o Senhor disse: — Se eu encontrar cinquenta justos dentro da cidade de Sodoma, pouparei a cidade toda por amor a eles. 27Abraão continuou: — Eis que me atrevi a falar ao Senhor, eu que sou pó e cinza. 28Caso faltarem cinco para cinquenta justos, destruirás por isso toda a cidade? Deus respondeu: — Não a destruirei se eu encontrar ali quarenta e cinco. 29Então Abraão disse: — E se, por acaso, houver ali apenas quarenta? Deus respondeu: — Não o farei por amor aos quarenta. 30Abraão insistiu: — Não se ire o Senhor, se eu continuar a falar. E se houver ali apenas trinta? O Senhor respondeu: — Não o farei se eu encontrar ali trinta. 31Abraão continuou: — Eis que me atrevi a falar ao Senhor. E se, por acaso, houver ali apenas vinte? O Senhor respondeu: — Não a destruirei por amor aos vinte. 32Finalmente Abraão disse: — Não se ire o Senhor, se lhe falo somente mais esta vez. E se, por acaso, houver ali apenas dez? O Senhor respondeu:

— Não a destruirei por amor aos dez. 33Quando acabou de falar com Abraão, o Senhor se retirou, e Abraão voltou para onde estava antes.

A visita de Deus a Abraão revela uma comunhão preciosa e profunda. Dois episódios em particular, ambos em Gênesis 18, ilustram essa relação especial e o papel profético de Abraão. Em ambos os casos, a presença divina se manifesta de forma tangível, permitindo a Abraão não apenas ouvir a voz de Deus, mas também interagir com Ele.

No primeiro episódio (18.1-15), a notícia do nascimento de Isaque é anunciada, respondendo às ansiedades e esperanças de Abraão e Sara. A promessa divina é reafirmada, consolidando a aliança entre Deus e seu servo. No segundo episódio (18.16-33), Abraão demonstra sua fé, devoção e piedade ao interceder por Sodoma e Gomorra. Sua conversa com Deus revela um homem justo e preocupado com o destino de outros. Ao “negociar” com Deus, Abraão demonstra uma comunhão que transcende a típica relação entre um servo e seu senhor. Essa atitude de intercessão se torna um modelo para gerações futuras, inspirando os descendentes de Abraão a buscarem a justiça e o cuidado uns com os outros.

A hospitalidade zelosa de Abraão, demonstrada em ambos os episódios, é outro aspecto marcante de sua comunhão com Deus. Seu acolhimento generoso aos visitantes, revelando-se como anfitrião exemplar, reflete sua disposição em servir a Deus e ao próximo. Esse contraste com a hostilidade de Sodoma enfatiza ainda mais a piedade e a integridade de Abraão.

O Senhor encontra Abraão

A passagem relata dois encontros de Deus com Abraão. Deus confirma a promessa do herdeiro para Abraão que intercede a Deus por Sodoma.

1. O anúncio do nascimento de Isaque.

18.1 O Senhor apareceu a Abraão nos carvalhais de Manre, quando ele estava assentado à entrada da tenda, no maior calor do dia. 2Abraão levantou os olhos, olhou, e eis que três homens estavam em pé diante dele. Ao vê-los, Abraão correu da porta da tenda ao encontro deles, prostrou-se em terra...

Essa aparição identifica Abraão claramente como profeta, ao qual é dado o conhecimento dos planos e dos julgamentos de Deus. Um dos homens é o próprio Senhor, como o contexto da passagem deixa claro – os outros são anjos (19.1). O movimento de Abraão para dar boas-vindas aos seus hóspedes é imediato.

3e disse: — Senhor meu, se eu puder obter favor diante de seus olhos, peço que não passe adiante sem ficar um pouco com este seu servo. 4Vou pedir que se traga um pouco de água, para que lavem os pés e descansem debaixo desta árvore. 5Trarei um pouco de comida, para que refaçam as forças, visto que chegaram até este servo de vocês; depois, poderão seguir adiante. Responderam: — Faça como você disse.

A saudação de Abraão e sua referência a si mesmo como servo são acompanhadas de gestos apropriados de reverência e humildade. O anfitrião

zeloso oferece a si mesmo em humildade. Abraão cuida de todas as necessidades

de seus hóspedes: 4Vou pedir que se traga um pouco de água, para que lavem os pés e descansem debaixo desta árvore. 5Trarei um pouco de comida, para que refaçam as forças... 6Abraão correu para a tenda de Sara e lhe disse: — Amasse depressa três medidas da melhor farinha e faça pão. 7Abraão, por sua vez, correu ao gado, pegou um novilho tenro e bom, e o entregou a um empregado, que se apressou em prepará-lo. 8Pegou também coalhada e leite e o novilho que tinha mandado preparar e pôs tudo diante deles; e permaneceu em pé junto a eles debaixo da árvore; e eles comeram.

O narrador cria uma imagem íntima de Abraão, o anfitrião piedoso, que corre para preparar um grande banquete para seus hóspedes. Durante toda a narrativa, ele é retratado como um servo fervoroso e devoto.

A oferta de 5... um pouco de comida feita por Abraão acaba em um banquete real. A hospitalidade fervorosa de Abraão é um modelo para receber a presença de Deus. Abraão pede que os três visitantes permaneçam com ele, dizendo: 3... peço que não passe adiante sem ficar um pouco com este seu servo... Assim deve responder a igreja quando Cristo bater à porta.

O narrador diminui o ritmo da história, passando da ação para o diálogo. A iniciativa agora parte dos convidados, especialmente do Senhor como orador principal.

9Então lhe perguntaram: — Onde está Sara, a sua mulher? Ele respondeu: — Está aí na tenda.

Esta é uma pergunta retórica, pois o Senhor sabia o que Sara estava fazendo atrás de suas costas. A pergunta comunica a preocupação do Senhor e assegura a atenção de Sara para o anúncio.

10Um deles disse: — Certamente voltarei a você, daqui a um ano; e Sara, a sua mulher, dará à luz um filho. Sara estava escutando, à porta da tenda, atrás de Abraão.

Este é um indício claro de que o orador é o Senhor, visto que apenas ele pode prometer vida a partir da esterilidade. A promessa e a aliança agora recebem um tempo preciso.

11Abraão e Sara já eram velhos, avançados em idade; e a Sara já lhe havia cessado o costume das mulheres. 12Por isso Sara riu em seu íntimo, dizendo consigo mesma: — Depois de velha, e velho também o meu senhor, terei ainda prazer?
Deus faz uma promessa que exige fé: Seus corpos estavam mortos em termos de

procriação. A incredulidade de Sara é demonstrada por seu riso de dúvida. Sua zombaria sugere que Abraão não tinha conseguido convencê-la da promessa. Sara estava persistindo na descrença, e não apenas reagindo com espanto. Sara tinha aceito a esterilidade como normal.

13Então o Senhor perguntou a Abraão: — Por que Sara riu, dizendo: “Será verdade que darei ainda à luz, sendo velha?” 14Por acaso, existe algo demasiadamente difícil para o Senhor? Daqui a um ano, neste mesmo tempo, voltarei a você, e Sara terá um filho.

O alegre anúncio do nascimento sobrenatural de Isaque prefigura o anúncio divino do nascimento de Jesus Cristo. O anúncio, feito por anjos e aparentemente impossível de se cumprir, virá a acontecer e realizará os planos de Deus.

Contudo, a palavra da promessa, de modo característico, foge à razão. Não é sensato crer, porém a fé transcende a razão. As promessas de Deus, aceitas pela fé, abrem a porta da esperança e do futuro. O reconhecimento do poder de Deus por Abraão é o tipo de fé que crê que Deus ressuscitou nosso Senhor Jesus dentre os mortos e que um dia voltará e ressuscitará os que creem para a vida eterna.

15Então Sara teve medo e negou, dizendo: — Eu não ri. Ele, porém, disse: — Não é verdade; é certo que você riu.

Como confirmação de seu poder milagroso, o Senhor verbaliza os pensamentos secretos de Sara. Sua pergunta retórica declara que, visto que ele é Deus, tudo é possível. Portanto, é tanto uma repreensão restauradora quanto um sinal de encorajamento: aquele que leu teus pensamentos pode abrir teu ventre.

2. Abraão intercede por Sodoma

16Quando aqueles homens se levantaram dali, olharam para Sodoma; e Abraão ia com eles, para os encaminhar.

Os viajantes são mensageiros de esperança e vida para Abraão e Sara, e de julgamento e morte para o povo de Sodoma e Gomorra.

17O Senhor disse: — Será que eu devo esconder de Abraão o que estou para fazer, 18visto que Abraão certamente virá a ser uma grande e poderosa nação, e nele serão benditas todas as nações da terra?

O narrador exibe o diálogo interno do Senhor. Esse diálogo é para o benefício de Abraão, para desafiá-lo a agir com sabedoria e nobreza em prol da justiça. A nação precisa aprender sobre a justiça, a começar por seu pai. O Senhor exibe a sua justiça por meio de seu tratamento aos sodomitas e por meio do diálogo notável que revela a integridade de Abraão.

19Porque eu o escolhi para que ordene aos seus filhos e a sua casa depois dele, a fim de que guardem o caminho do Senhor e pratiquem a justiça e o juízo, para que o Senhor faça vir sobre Abraão o que lhe prometeu.

A pedagogia no antigo Israel era rígida e diligente. A herança espiritual e ética de Israel era transmitida de geração a geração dentro do lar. Essa herança tinha sua origem na vontade revelada de Deus por meio de indivíduos dotados como Moisés e Salomão, que, por sua vez, transmitiram a lei e a sabedoria aos pais, para que estes as ensinassem à próxima geração. As famílias eram a fonte de toda educação, inclusive das profissões.

19...o caminho do Senhor... O caminho diz respeito a todo o curso da vida vivida em conformidade com a obrigação pactual.

19... e pratiquem a justiça e o juízo... Justiça descreve uma maneira de viver em comunidade que promove a vida de todos os seus membros, uma vida que promove a ordem social em reconhecimento do governo de Deus.

20Então o Senhor disse: — O clamor contra Sodoma e Gomorra tem aumentado, e o seu pecado é gravíssimo. 21Descerei e verei se, de fato, o que têm praticado corresponde a esse clamor que veio até mim. E, se este não for o caso, eu ficarei sabendo.

Como Juiz da terra, o Senhor recebe todos os clamores referentes a maus-tratos. 21Descerei e verei... Essa é a maneira figurada do narrador dizer que Deus sempre investiga a fundo o crime antes de dar o veredito.

22Assim, aqueles homens partiram dali e foram para Sodoma; mas Abraão ainda permaneceu na presença do Senhor.

Apropriadamente, os dois anjos descem para confirmar o crime, assim como, mais tarde, a lei mosaica exige duas testemunhas para a pena capital. Abraão, porém, permaneceu na presença do Senhor.

23E, aproximando-se, Abraão perguntou: — Será que vais destruir o justo com o ímpio?

Abraão, o grande anfitrião, é também Abraão, o profeta compassivo, que intercede e defende a justiça.

23... Será que vais destruir o justo com o ímpio? Os argumentos de Abraão para poupar Sodoma fundamentam-se numa preocupação com a justiça, não apenas com a presença de seu sobrinho Ló na cidade. Abraão, agindo como aquele que foi escolhido para promover a vida, propõe que o futuro de todos seja determinado não pelos ímpios no meio da comunidade, mas pelos justos. Deus concorda.

24Se houver, por acaso, cinquenta justos na cidade, ainda assim destruirás e não pouparás o lugar por amor dos cinquenta justos que nela se encontram? 25Longe de ti fazeres tal coisa: matar o justo com o ímpio, como se o justo fosse igual ao ímpio. Longe de ti! Será que o Juiz de toda a terra não faria justiça? 26Então o Senhor disse: — Se eu encontrar cinquenta justos dentro da cidade de Sodoma, pouparei a cidade toda por amor a eles. 27Abraão continuou: — Eis que me atrevi a falar ao Senhor, eu que sou pó e cinza. 28Caso faltarem cinco para cinquenta justos, destruirás por isso toda a cidade? Deus respondeu: — Não a destruirei se eu encontrar ali quarenta e cinco. 29Então Abraão disse: — E se, por acaso, houver ali apenas quarenta? Deus respondeu: — Não o farei por amor aos quarenta. 30Abraão insistiu: — Não se ire o Senhor, se eu continuar a falar. E se houver ali apenas trinta? O Senhor respondeu: — Não o farei se eu encontrar ali trinta. 31Abraão continuou: — Eis que me atrevi a falar ao Senhor. E se, por acaso, houver ali apenas vinte? O Senhor respondeu: — Não a destruirei por amor aos vinte. 32Finalmente Abraão disse: — Não se ire o Senhor, se lhe falo somente mais esta vez. E se, por acaso, houver ali apenas dez? O Senhor respondeu: — Não a destruirei por amor aos dez.

Abraão evidencia suas qualidades de liderança em sua ousadia, sabedoria moral e suas falas hábeis dirigidas a Deus.

25... Será que o Juiz de toda a terra não faria justiça? A pergunta pode ser lida como um desafio a Deus, mas uma teologia sadia exige que seja lida como oração, que declara fé no caráter justo de Deus.

26... Se eu encontrar... Como as pessoas na época de Noé, os sodomitas tiveram oportunidade de se arrepender e mudar seus caminhos perversos. Seu tempo de graça para se arrepender chega ao fim, como acontece com todos.

33Quando acabou de falar com Abraão, o Senhor se retirou, e Abraão voltou para onde estava antes.

O Senhor investiga as acusações a fundo, garante duas testemunhas objetivas, envolve os fiéis em seu julgamento, demonstra compaixão ativa pelos que sofrem e dá prioridade à misericórdia divina sobre a ira justa e santa. O Senhor não voltará a aparecer pessoalmente, ele fará chover o julgamento do céu.

O verdadeiro profeta

Deuteronômio 18.15 — O Senhor, seu Deus, fará com que do meio de vocês, do meio dos seus irmãos, se levante um profeta semelhante a mim; a ele vocês devem ouvir.

Hebreus 1.1 Antigamente, Deus falou, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, 2mas, nestes últimos dias, nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas e pelo qual também fez o universo. 3O Filho, que é o resplendor da glória de Deus e a expressão exata do seu Ser, sustentando todas as coisas pela sua palavra poderosa, depois de ter feito a purificação dos pecados, assentou-se à direita da Majestade, nas alturas, 4tendo-se tornado tão superior aos anjos quanto herdou mais excelente nome do que eles.

Essa passagem, surpreendentemente, apresenta Abraão como um profeta. Deus anuncia a Abraão o nascimento de Isaque por meio de Sara com um ano de antecedência. Ele revela a destruição iminente de Sodoma e Gomorra, assim como Deus alertou Noé de antemão sobre o Dilúvio. A compaixão e o senso de justiça de Abraão demonstram que ele é um profeta digno. Ele implora, como o profeta Jeremias em lágrimas, pela libertação dos justos em Sodoma e Gomorra. Os profetas do A. T. transmitiam a palavra de Deus ao povo e clamavam a Deus em favor do povo. Moisés predisse muitos anos antes que um dia viria outro profeta. Quando Jesus veio, logo, ficou evidente que ele era o profeta prometido na Escritura. Pedro em seu sermão aos israelitas disse:

Atos 2. 22Porque Moisés disse: “O Senhor Deus fará com que, do meio dos irmãos de vocês, se levante um profeta semelhante a mim; a esse vocês ouvirão em tudo o que ele lhes disser. 23Quem não der ouvidos a esse profeta será exterminado do meio do povo.” 24— E todos os profetas, a começar com Samuel, assim como todos os que falaram depois dele, também anunciaram estes dias. 25Vocês são os filhos dos profetas e da aliança que Deus estabeleceu com os pais de vocês, dizendo a Abraão: “Na sua descendência, serão abençoadas todas as nações da terra.”26— Tendo Deus ressuscitado o seu Servo, enviou-o primeiramente a vocês para abençoá-los, no sentido de que cada um abandone as suas maldades.

O que significa o ofício profético de Jesus? Podemos dizer que existem quatro conceitos essenciais para conhecermos e desfrutarmos de Cristo como nosso profeta:

1) A nossa condição espiritual exige que tenhamos Cristo como nosso profeta. A razão pela qual ele veio como profeta é para lidar com a dureza do nosso coração. Ao longo da Bíblia, Deus enviou seus profetas para lidarem com a ignorância espiritual de seu povo, e por fim, enviou seu Filho como o verdadeiro e definitivo profeta para conduzir os eleitos ao entendimento.

Chesterton disse: “Quando as pessoas param de crer no Deus da Bíblia, isso não significa que elas já não creiam em mais nada. Na verdade, elas começam a crer em qualquer coisa”. Por isso precisamos de um profeta que seja capaz de destronar a nossa inabilidade espiritual.

  1. 2)  Atrelado a nossa necessidade está o segundo conceito: revelar. Essa é uma descrição perfeita do ministério profético de nosso Senhor: Deus coloca suas palavras na boca de Jesus. Jesus revela tudo o que seu Pai lhe ordenou. Essas palavras também estão, sem dúvida, por trás da Oração Sacerdotal em João 17. É a oração do Grande Profeta:

    João 17.7 Agora eles reconhecem que todas as coisas que me tens dado provêm de ti, 8porque eu lhes tenho transmitido as palavras que me deste, e eles as receberam, verdadeiramente reconheceram que saí de ti e creram que tu me enviaste.

  2. 3)  Isso nos leva ao estágio além do revelado. Em última análise, Jesus deve ser reconhecido não apenas como um mensageiro da revelação de Deus, mas como a própria fonte dessa revelação. Jesus não é apenas o revelador; ele é a revelação. Jesus é capaz de tomar as Escrituras como elas são, abri-las e dizer: “Estão vendo? Este é um livro sobre mim. Todo este livro é sobre mim!”. Os seus discípulos o reconhecem naturalmente.

  3. 4)  O ministério de Jesus como profeta precisa ser realizado hoje. Mas como? Na pregação e ensino da Bíblia. O ministério profético de Cristo foi continuado na pregação e no ministério de ensino dos apóstolos. No entanto, o mesmo também se aplica a todos os pregadores que fielmente ensinam a verdade de Deus. É nossa tarefa contínua levar as Escrituras a influenciar as mentes dos insensatos e inábeis em nosso próprio tempo e geração. Se não conseguirmos compreender isso, tanto o nosso pregar quanto o nosso ouvir do testemunho bíblico de Cristo serão empobrecidos.

Experimentando o poder da profecia

O livro de Gênesis tem três ênfases teológicas que devem guiar a nossa aplicação. 

DEUS.

Gênesis 18. 14Por acaso, existe algo demasiadamente difícil para o Senhor? Daqui a um ano, neste mesmo tempo, voltarei a você, e Sara terá um filho.

20Então o Senhor disse: — O clamor contra Sodoma e Gomorra tem aumentado, e o seu pecado é gravíssimo.

Não devemos recriar os episódios da Bíblia como se eles pudessem acontecer novamente de forma mecânica. O intuito do autor bíblico é demonstrar que Deus é poderoso tanto para conceder a vida a mulher estéril sem possibilidades humanas de engravidar, quanto de exercer juízo em uma cidade impenitente que rejeita a sua salvação. A pregação do evangelho deve ter sempre dois lados como dois opostos que não

podem existir separadamente. A lei deve ser apresentada como forma de evidenciar a condição dos homens. Quando perguntaram para Jesus acerca da lei, no Sermão do Monte, ele não suavizou, ao contrário, internalizou a lei, de forma que todos estão encerrados na desobediência. Nesse ponto, a graça de Deus é oferecida a todos os que reconhecem seus crimes e se arrependem de seus pecados. “Vinde a mim todos os que estão sobrecarregados e eu os aliviarei” disse o nosso Senhor.

  • ●  GRAÇA.

    O texto retrata o Senhor como aquele que busca o homem perdido. Isso é verdade no episódio da esterilidade do casal escolhido, como também, na cidade perdida de Sodoma. Deus estende sua graça para Abraão e Sara, prometendo fazer o mesmo com os justos da cidade de Sodoma. O problema é que a Bíblia descreve a nossa justiça como trapos de imundícia e o apóstolo Paulo afirmou que não existe um justo sequer. Então como alguém pode se salvar? O Senhor respondeu para Sara: “Por acaso, existe algo demasiadamente difícil para o Senhor?” (18.14). O Senhor graciosamente oferece a sua justiça aos pecadores e de fato justifica todos os que tem fé em Jesus Cristo.

●  HOMEM.

Será que existem profetas atualmente como existiam no A.T.? Obviamente que sim. Contudo, a confusão está relacionada com o ofício do profeta. Primeiro, é necessário apontar o que não é o ofício do profeta de Deus. O profeta de Deus não é um adivinho, sua principal atribuição não é tentar adivinhar ou prever o futuro. Quando o profeta afirma alguma coisa acerca do futuro ele tem certeza absoluta do que vai acontecer. Além disso, o profeta não exerce suas responsabilidades por conta própria, ou seja, ele está sujeito a Palavra de Deus e ao povo de Deus. Então, quem são os profetas atualmente: usando o exemplo de Abraão, os profetas são os pregadores da mensagem de Deus – convocando os pecadores ao arrependimento e advertindo os ímpios quanto ao juízo iminente de Deus. A profecia de Deus carrega três elementos distintivos: são comunitários, objetivas e incondicionais.

Conclusão

No sentido mais amplo da palavra profeta, significando simplesmente alguém que revela Deus a nós e nos transmite as palavras de Deus, Cristo é evidentemente um profeta de modo verdadeiro e completo. De fato, ele é aquele prefigurado por todos os profetas do Antigo Testamento, por meio das palavras e das ações deles. Os crentes, como discípulos de Cristo e seus imitadores, são profetas a medida em que o nosso Senhor os envia a pregar as boas novas do reino e convocar pecadores ao arrependimento.


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